Weintraub demite secretário, mas MEC não confirma
Ataíde Alves aprovava novas faculdades e abertura de novos cursos na rede particular, e sofria pressão tanto de políticos como de grupos educacionais
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de outubro de 2019 às 17h36.
Última atualização em 16 de outubro de 2019 às 18h55.
São Paulo — O ministro Abraham Weintraub demitiu o titular da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres), Ataíde Alves. Ele era responsável por uma área considerada estratégica no Ministério da Educação (MEC) já que aprova o credenciamento de novas faculdades e abertura de novos cursos na rede particular de ensino.
O secretário costuma sofrer pressão tanto de políticos como de grupos educacionais.Oficialmente o MEC não confirma a demissão.
De perfil técnico, Alves atuava no Ministério da Educação (MEC) desde o governo Michel Temer. Ele assumiu a chefia da Seres no fim de abril. O cargo dele foi o último a ser ocupado na gestão Weintraub.
A reportagem apurou que a atuação de Alves não estava agradando dirigentes e donos de faculdades particulares por falta de agilidade na liberação de novos credenciamentos. Ele também teria travado as discussões para desburocratizar o processo de regulação, contrariando o que vem defendendo o ministro.
Em eventos do setor, Weintraub defende uma autoregulação das faculdades privadas com a mínima interferência do Estado.
Outro motivo teria levado à demissão de Ataíde é que ele estaria dificultando o andamento de um novo programa que o MEC pretende lançar para aumentar a carga horária de aulas no ensino médio.
A proposta anunciada em agosto era que faculdades privadas recebessem alunos dessa etapa para complementar os estudos e em troca ganhariam um "bônus regulatório", um acréscimo na nota da avaliação feita pelo governo. A ideia é aproveitar a estrutura das faculdades, como laboratórios e salas de informática.
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, muito ligado a Weintraub, tenta indicar o chefe da Seres desde o início do governo Bolsonaro. A secretaria é muito conhecida por ser um local de barganha política. Deputados e senadores costumam pressionar o titular para que haja a liberação de faculdades e cursos em seus redutos eleitorais.
Com a demissão do ex-ministro Ricardo Vélez Rodríguez, Weintraub chegou a anunciar a recondução do ex-secretário da Seres durante a governo Temer, Silvio Cecchi, que já atuou em grupos educacionais e hoje é assessor especial da Casa Civil. O nome, no entanto, causou divergências, principalmente na ala militar. O cargo ficou vago por semanas.
O ex-ministro Ricardo Vélez Rodríguez havia nomeado para a secretaria seu ex-aluno Marcos Antônio Barroso Faria. Entre seus diretores subordinados, estavam alguns integrantes da ala militar do MEC.
Foi durante a gestão Vélez que o Ministério da Educação promoveu um "mutirão" nos primeiros meses do ano para acelerar a abertura de novas universidades no País.
Pedidos de credenciamento que estavam parados havia anos na pasta foram liberados para análise do Conselho Nacional de Educação (CNE). No entanto, com a chegada de Weintraub esse movimento estagnou, segundo fontes do setor privado.
Demissões
No início do governo Bolsonaro, a nova equipe do MEC enfrentou dificuldades para ocupar e manter nomes nos cargos. Em menos de três meses, Vélez enfrentou mais de 15 exonerações no alto escalão. Sem experiência em gestão e com poucas conexões na área educacional, o ex-ministro montou uma equipe a partir da indicação de vários grupos, o que resultou em uma disputa de interesses.