Urna eletrônica é segura, disse o ministro substituto do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Bastide Horbach. (TSE/Reprodução)
Guilherme Dearo
Publicado em 24 de setembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 24 de setembro de 2018 às 06h00.
São Paulo - Talvez você já tenha cruzado com esse boato (notícia falsa, fake news) por aí ou até acreditado nele: que as urnas eletrônicas usadas nas eleições brasileiras seriam de fabricação venezuelana e que, assim, não seriam confiáveis.
O boato tem se espalhado entre pessoas alinhadas com os partidos de direita e diz que o governo da Venezuela conseguiria controlar as urnas, visando favorecer o PT e os partidos de esquerda.
Colocar em dúvida a segurança da urna eletrônica e a validade das eleições não é algo exclusivo de eleitores: alguns candidatos também têm tentado se adiantar à derrota ou à vitória e já colocar o resultado em dúvida. Só não deixaram claro se questionar o resultado de antemão só valerá em caso de derrota nas urnas.
O candidato do PSL Jair Bolsonaro, por exemplo, afirmou em um vídeo que havia possibilidade concreta de fraude na eleição e que o fato de não haver voto impresso fazia com que houvesse "grande chance" de fraude nas eleições de outubro.
Mas, afinal, a história da "urna venezuelana" é verdadeira? Não.
O próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desmente o boato: "Dizem por aí que as urnas usadas no Brasil são da Smartmatic, fabricadas na Venezuela, mas isso é lenda! As urnas (hardware) e os sistemas (softwares) utilizados nelas são desenvolvidos pelo próprio TSE. As máquinas (urnas) são montadas por empresas contratadas para executar o projeto, mas sob a fiscalização de servidores da Justiça Eleitoral", explica.
Um vídeo criado pelo TSE explica mais sobre o boato:
https://www.youtube.com/watch?v=0coPnvkwsUc&feature=youtu.be
O boato também se espalhou por causa de uma reunião na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) onde foi debatido um edital, depois cancelado, que previa a compra de materiais para impressão de voto nas eleições. O próprio Superior Tribunal Federal (STF) votou inconstitucional o voto impresso.
A partir dessa reunião, notícias falsas diziam que o governo brasileiro teria dado "códigos de segurança" a uma empresa venezuelana. A afirmação não tem fundamento. A agência Lupa, da Revista Piauí, explicou como esse boato manipulou os fatos reais para criar a sua versão fantasiosa.
Apesar de não fabricar ou controlar as urnas, a Smartmatic já participou de operações logísticas nas últimas três eleições brasileiras. Dessa participação nasceu o boato.
Em 2012, a empresa, que tem sede em Londres, fez apoio logístico nas eleições municipais, ajudando a transportar as urnas lacradas até o local de votação. Ela também já trabalhou nas eleições brasileiras ajudando na transmissão de dados em lugares de votação remotos, como em aldeias indígenas e em vilarejos sem internet na região Norte.
Já na Venezuela, a Smartmatic fabrica e configura as urnas. Isso não significa que ela esteja sob o controle do governo. Nas últimas eleições na Venezuela, em 2017, em votação para a Assembleia Constituinte, ela chegou a denunciar possível fraude do governo de Nicolás Maduro, dizendo que o governo estava inflando o número de eleitores que compareceram às urnas. Mas, no passado, a empresa já foi acusada pelos opositores do chavismo de estar ao lado de Hugo Chávez.
A denúncia em 2017 fez com que a empresa rompesse com o governo e deixasse de prestar serviços às eleições locais. Em março desse ano, a empresa fechou seus escritórios na Venezuela.
Outro boato, também vindo de grupos de direita, colocam em cheque a validade da urna eletrônica ao dizer que ela está a favor do PT, já que, fora o Brasil, somente Cuba e Venezuela (países com governos socialistas) usariam o sistema eletrônico de voto. Novamente, apensa boato.
Dados do Instituto Internacional Para a Democracia e a Assistência Social mostram que 23 países usam a tecnologia de urna eletrônica para as eleições gerais. Outros 18 ainda usariam o sistema em eleições regionais. França, Estados Unidos e Canadá são alguns dos países que também usam o sistema.