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Um país à espera da perícia

Tucanos aguardam a perícia do áudio de Temer e Joesley para decidirem se ficam no governo

Visão geral do Senado durante sessão em Brasília, no Brasil
GK

Gian Kojikovski

Publicado em 22 de maio de 2017 às 19h36.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h13.

Os dois partidos sobre os quais o governo de Michel Temer apoia seus pés, PSDB e DEM, continuam protelando sua decisão sobre se manter ou não na base do presidente. Ambos devem tomar uma decisão definitiva apenas se novos fatos entrarem no jogo. Ou caso a pressão popular aumente exponencialmente, o que ainda não aconteceu. Ou, claro, se novos fatos surgirem no inquérito contra Temer.

Mas sua estratégia de contra ataque tem funcionado até aqui. No meio da tarde, a defesa do presidente anunciou que não pretende mais que o inquérito que o investiga por corrupção passiva, obstrução à Justiça e participação em organização criminosa, seja suspenso, contrariando o pedido feito pela própria defesa no sábado. Uma perícia contratada pelo advogado Gustavo Guedes, que integra a defesa de Michel Temer, teria detectado 70 pontos “obscuros” na gravação. A intenção, então, é tentar invalidar o uso do áudio no processo e “provar a inocência do presidente” levando a investigação até seu final.

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Ao retirar o pedido de suspensão, o governo tenta mostrar confiança a aliados. Todo o calendário político tinha uma data de corte, que era a próxima quarta-feira, quando estava previsto que o Supremo se reunisse para decidir se acatava o pedido de suspensão do inquérito. Partidos aliados utilizariam o resultado para decidir qual postura tomar. Como a ministra Cármen Lúcia adiou a votação para depois que a Polícia Federal conclua a perícia sobre o áudio, tirando assim essa data limite de decisão, o governo avaliou que estava seguro e tentou capitalizar politicamente.

Do ponto de vista político, a situação do presidente também ficou menos tensa. O líder do Democratas na Câmara, deputado Efraim Filho (PB), disse no domingo que o partido permanece com Temer, embora reconheça que “as acusações são graves”. Lideranças que vinham fazendo discursos pesados pela saída da legenda da base, como o senador Ronaldo Caiado (GO) e o deputado Onyx Lorenzoni (RS), baixaram o tom durante a segunda.

O PSDB está na mesma situação. O presidente em exercício do partido, Tasso Jereissati (CE) disse que a legenda vai aguardar as decisões da Justiça antes de decidir sua posição em relação ao governo. “O PSDB está vendo isso com muita responsabilidade, com muito cuidado, existem desdobramentos aí. Nós vamos aguardar. Tem uma votação em breve no TSE. Nós vamos aguardar que nossa visão de tudo aquilo que fizermos e que venha acompanhado do julgamento das instâncias do Judiciário, melhor e mais consolidado”, afirmou.

Mas o equilíbrio é muito frágil. Muitos políticos, principalmente as alas mais jovens, querem descolar logo do governo para não trazer para si os problemas de popularidade – antes das denúncias, Temer já tinha somente 4% de aprovação da população. Parlamentares das legendas, consultados por EXAME Hoje, garantem que as posições tomadas estão longe da unanimidade interna. Os posicionamentos, dizem, são mais fruto das articulações de caciques palacianos do que da base. Alguns deputados do PSDB estimam que a maioria dos 47 integrantes da bancada do partido na Câmara são favoráveis ao desembarque.

A agenda anda

Com a protelação do inquérito no Supremo, o foco passou ser voltar a tocar as pautas no Congresso. Nisso, o governo acumulou outra vitória nesta segunda. O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) declarou, durante a tarde, que vai seguir com a tramitação normal da reforma trabalhista, que deve ter seu relatório lido na Comissão de Assuntos Econômicos nesta terça. Na quinta passada, um dia após a divulgação do conteúdo do encontro entre o presidente Temer e Joesley Batista, Ferraço havia dito que a tramitação estava suspensa por tempo indeterminado.

“A crise institucional é devastadora. Não tem condição de manutenção do calendário. Primeiro precisamos resolver a crise institucional. Tudo suspenso!”, afirmou no dia. Hoje, porém, o discurso foi diferente. “Uma coisa é a dramática crise institucional que vive o governo brasileiro. Algo, de fato, sem precedentes, muito complexo. Mas não podemos misturar a crise institucional com o nosso dever. Nosso compromisso é com o país. Esse é o debate que se iniciou a meses no Congresso e amanhã estaremos dando o primeiro passo com a leitura do relatório da reforma trabalhista” disse a jornalistas.

Perguntado por EXAME Hoje se com a manutenção da agenda o PSDB não acaba dando a impressão de que se mantém, também, apoiando o governo, Ferraço admitiu que essa é uma leitura possível. “Pode dar a entender isso, estamos cientes, mas temos que continuar porque cremos que essa agenda é importante para o Brasil”.

A oposição, por sua vez, vai fazer de tudo para que isso não aconteça. “Estão trazendo a crise para dentro do Senado”, diz o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). A intenção é impedir a leitura do relatório. “Na quinta, o relator havia dito outra coisa. Vamos encarar essa mudança como uma provocação”, afirmou Lindbergh.

Temer pediu ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (Dem-RJ), que siga com as votações marcadas para amanhã, como a da medida provisória do Programa de Regularização Tributária (PRT), conhecida como novo Refis. De certa forma, será uma prova de fogo para saber se os deputados continuam com o governo.

Maia não deve, a princípio, aceitar pedidos de impeachment contra o presidente, mas o Tribunal Superior Eleitoral tem marcado para o dia 6 de junho a sessão que define se cassa, ou não, a chapa Dilma-Temer. Com a renúncia sendo descartada aos poucos, essa virou a esperança da oposição. “A saída real é o TSE cassar a chapa. Se o TSE não caçar, teremos uma crise sem precedentes neste país”, diz o senador José Reguffe (sem partido). No começo de uma semana imprevisível, o governo Temer respira. Mas não se sabe até quando.

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