Senadores aliados querem que Dilma lidere negociação de MPs
Líderes de partidos aliados no Senado disseram que Dilma precisa liderar a negociação com o Congresso das MPs que alteram acesso a benefícios trabalhistas
Da Redação
Publicado em 24 de fevereiro de 2015 às 16h12.
Brasília - Os líderes de partidos aliados no Senado disseram nesta terça-feira ao ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, que a presidente Dilma Rousseff precisa liderar a negociação com o Congresso das medidas provisórias que alteram o acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários, informou à Reuters uma fonte do governo.
Como parte da mobilização do governo para aprovação de duas MPs que tornam mais difícil o acesso a benefícios como seguro-desemprego, abono salarial e pensões por morte, Vargas começou nesta terça uma rodada de reuniões com os líderes aliados do Congresso.
No encontro da manhã desta terça com senadores aliados, o ministro ouviu um cenário de dificuldades políticas para aprovar as medidas na forma original e um pedido para que o governo divulgue mais dados que subsidiem o debate no Congresso.
"Os líderes entenderam as medidas, mas disseram que a aprovação não é fácil pelo momento político. E eles pediram que a presidente se envolva no processo, lidere a negociação", disse a fonte que participou da reunião à Reuters, sob condição de anonimato.
Além de Vargas, participaram da reunião os ministros da Previdência, Carlos Gabas, do Trabalho, Manoel Dias, da Secretaria-Geral, Miguel Rossetto, e do Planejamento, Nelson Barbosa.
Na segunda-feira, a cúpula do PMDB, maior partido aliado no Congresso, também se reuniu à noite com a equipe econômica para debater as medidas e a necessidade de um forte ajuste fiscal.
O jantar, promovido pelo vice-presidente Michel Temer, foi tenso e o debate sobre as dificuldades políticas ganhou mais força do que as questões econômicas.
A aprovação dessas MPs, que podem gerar uma economia de até 18 bilhões aos cofre públicos e foram editadas no final do ano passado sem discussões prévias com centrais sindicais e com os partidos aliados, é o primeiro teste do governo no Congresso sobre o ajuste fiscal em andamento.
Vargas disse que essa foi a primeira reunião e não se discutiram mudanças no conteúdo das MPs, mas nos últimos dias ministros e até mesmo a presidente já admitiram a possibilidade de negociar pontos da proposta original. "Abrimos uma rodada de primeiras intervenções, em que os líderes colocaram um conjunto de preocupações que querem discutir com suas bancadas", disse o ministro a jornalistas no final do encontro.
"Nós temos o objetivo de aprovar o mais rapidamente possível (as MPs)", disse o ministro, que nesta terça ainda se reúne com os líderes aliados da Câmara. Antes do Carnaval, Vargas disse em entrevista à Reuters que todos os partidos aliados precisam ter compromisso com o ajuste fiscal e aprovar as medidas.
Câmara: ajustes
Após se reunir com os senadores, os ministros também discutiram as medidas provisórias e outros temas com os líderes aliados da Câmara. Nesse encontro, segundo o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), os aliados deixaram claro que as medidas terão que passar por ajustes no Congresso.
"Todo mundo está convencido de que as medidas são boas, o que precisa é haver ajustes. E os líderes colocaram várias possibilidades sem bater martelo em nada, mas sobretudo para o governo é fundamental manter a essência", disse Guimarães a jornalistas após a reunião.
"Estamos abertos para melhorar as medidas provisórias", afirmou.
Segundo ele, essas MPs não são para fazer ajuste fiscal e sim para moralizar o acesso aos benefícios.
"Não são medidas de ajuste fiscal. São medidas que visam reposicionar os benefícios previdenciários dentro de uma lógica moralizadora", argumentou.
Guimarães contou ainda que durante a reunião alguns aliados sugeriram que o governo apoie outras mudanças para aumentar a receita.
"Vários líderes sugeriram lá tomar medidas em outras áreas, não é uma questão de governo.
Por que não retomar a discussão sobre a questão (a taxação) das grandes fortunas, a taxação do capital especulativo?", disse. Mas ressaltou: "Não estou anunciando medidas do governo."