Recado a quem? Bolsonaro não verá canonização de Irmã Dulce
O presidente alegou compromissos de agenda para não ir ao Vaticano; para o biógrafo da beata, a ausência pode ser vista como um desprestígio aos católicos
Da Redação
Publicado em 11 de outubro de 2019 às 06h32.
Última atualização em 11 de outubro de 2019 às 07h00.
Enquanto uma comitiva de políticos começa a desembarcar no Vaticano para a canonização da beata baiana Irmã Dulce, evento que acontecerá no próximo domingo 13, o presidente Jair Bolsonaro , que se considera católico mas levanta a bandeira evangélica na política, anunciou que não irá comparecer à cerimônia de santificação. Em seu lugar, de acordo com o Planalto, irá o vice-presidente Hamilton Mourão.
Em julho,o porta-voz da Presidência da República Otávio Rêgo Barros havia confirmado o comparecimento de Bolsonaro na canonização que será conduzida pelo Papa Francisco , alegando que a presença reforçaria o compromisso do presidente “na importância de o Brasil ser um Estado laico”. Na última quarta-feira, entretanto, a presidência informou que devido a compromissos de agenda, Bolsonaro não irá nem ao Vaticano nem a Salvador, em outra comemoração marcada para dia 20 – alguns consideram a decisão uma forma de agradar sua base evangélica e a primeira-dama.
Para não fazer feio com os católicos, entretanto, há previsão de que na tarde de sábado 12 o presidente compareça à festa da Padroeira de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida, SP. “Em razão até de uma impossibilidade de que ele participe da cerimônia para a Santa Irmã Dulce em Salvador no dia 20, o presidente entendeu a importância de se fazer presente em eventos de fé católica”, disse o porta-voz da presidência.
Nascida em 1914 em Salvador, irmã Dulce foi uma freira que dedicou sua vida aos desfavorecidos, ficando mais tarde conhecida como beata dos pobres. A ela, primeira santa nascida no Brasil, são atribuídos milagres como a cura de hemorragias e cegueira, sendo considerada um ícone católico na Bahia.
Para o jornalista Graciliano Rocha, autor da biografia “Irmã Dulce, a Santa dos pobres”, o não comparecimento de Bolsonaro pode ser recebido como um desprestígio por parte da comunidade católica.“O presidente ir ou não é uma decisão pessoal, mas como o Brasil é o maior país católico do mundo, é muito provável que uma parcela da população se sinta desprestigiada. Isso também desconsidera o Vaticano em termos de política internacional, que embora seja um microestado, tem sua relevância como referência para o catolicismo global”, diz.
A canonização ocorre na mesma semana do sínodo da Amazônia, onde o Papa Francisco ressaltou que ideologias podem ser uma arma perigosa. “Irmã Dulce está sendo canonizada junto ao sínodo da Amazônia, o que demonstra uma preocupação da igreja com as populações locais e com o bioma. Esse é um ponto que tem suscitado muitas críticas a Bolsonaro no âmbito internacional, o que pode justificar, em parte, a ausência do presidente”, finaliza Graciliano.