PSDB sairá da eleição interna mais conflagrado do que entrou
O grande desafio do vencedor da disputa será não apenas curar feridas internas como refazer pontes com outros partidos de centro-direita, na tentativa de liderar uma chapa à sucessão do presidente Jair Bolsonaro, em 2022
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de novembro de 2021 às 17h37.
O PSDB sai hoje das prévias para a escolha do pré-candidato à Presidência da República mais conflagrado do que entrou. Agora, o grande desafio do vencedor da disputa será não apenas curar feridas internas como refazer pontes com outros partidos de centro-direita, na tentativa de liderar uma chapa da terceira via à sucessão do presidente Jair Bolsonaro, em 2022.
O duelo não é somente entre o governador de São Paulo, João Doria, e o do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Trata-se de um confronto entre grupos e visões que eles representam dentro do PSDB. Confiante na vitória, Doria já preparava ontem o discurso do “day after”, pregando a unidade do partido.
Se o governador paulista for candidato, aparecerá na campanha como “João”, o homem responsável por trazer a vacina contra covid-19 para o Brasil. O grupo do governador paulista avalia que a vacina será para ele, em 2022, o que o Plano Real foi para Fernando Henrique Cardoso, em 1994.
Eduardo Leite, por sua vez, é apoiado pelo deputado Aécio Neves (MG), inimigo de Doria. Em vídeo divulgado ontem, Leite disse que as prévias serviam para o PSDB decidir se terá “viabilidade eleitoral” em 2022 ou se sairá “vencido” antes da hora. Da velha guarda do tucanato, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio não tem chance nesse páreo, mas foi quem lançou a questão mais relevante da campanha, chamando a atenção para a necessidade de “desbolsonarização” do PSDB.
Desde o vexame nas urnas na eleição de 2018 ao Palácio do Planalto, quando Geraldo Alckmin não chegou a 5% dos votos, o partido se dividiu ainda mais e uma ala significativa aderiu ao governo de Jair Bolsonaro. De lá para cá, o racha só se aprofundou.
Com o PSDB em crise de identidade e o campo da centro-direita em busca de um nome que possa representar o tal projeto alternativo a Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os tucanos correm o risco de ver seu candidato “cristianizado” antes do fim da jornada.
“Tudo vai depender do vigor do nosso candidato para ir além do PSDB”, afirmou o ex-chanceler Aloysio Nunes, que declarou voto em Doria. “Se conseguirmos mandar uma mensagem de esperança, acabaremos aglutinando os votos dispersos da terceira via.”
ONDA. Candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Aécio, em 2014, Aloysio é do grupo dos históricos do PSDB. No diagnóstico do ex-chanceler, porém, a “desbolsonarização” do partido não será obtida com medidas disciplinares. “Muitos dos nossos parlamentares foram eleitos nessa onda (pró-Bolsonaro) e permanecerão nela. Votam com o governo agora, ainda mais com o estímulo de verbas e nomeações, e tendem a ‘cristianizar’ nosso candidato se até as eleições ele não tiver chances de vitória.”
A entrada do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro embaralhou ainda mais o jogo para o PSDB. Recém-filiado ao Podemos, o ex-juiz da Lava Jato vem ganhando adesões em uma faixa do eleitorado que votava em candidatos tucanos. Diante desse cenário, há no PSDB quem já vislumbre a possibilidade de uma dobradinha com Moro, tendo o ex-juiz na cabeça de chapa.
“O filiado do PSDB não vai para as prévias escolher candidato a vice”, rebateu o ex-ministro Antonio Imbassahy, secretário especial de Doria. Para ele, o trabalho de “pacificação” do PSDB dará resultados e a “desbolsonarização” é “inevitável”.
DEBANDADA. Há, no entanto, outro fator de instabilidade política: está em curso um movimento de desfiliação no PSDB e seu tamanho depende do desfecho das prévias. Uma dessas pontas é puxada por Alckmin, avalista da candidatura de Leite. Desafeto de Doria, Geraldo - como é chamado no partido - se anima agora até mesmo com a proposta para se filiar ao PSB e ser vice na chapa de Lula.
“Assim como o Brasil, o PSDB vive um momento de transição. O que está em jogo é nosso futuro”, resumiu o senador Tasso Jereissati ao pregar “sangue novo” na legenda. Resta saber, porém, se o PSDB ainda consegue se reinventar.