Os elefantes na sala
Se a ideia de Michel Temer era ir à China com a vida resolvida, enganou-se. O novo presidente voou deixando para trás um mundaréu de pontas soltas. Dois problemas em especial voltaram à tona ontem, impulsionados pela manobra que manteve os direitos políticos de Dilma e abriu um racha na base de apoio do governo. […]
Da Redação
Publicado em 1 de setembro de 2016 às 06h13.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 18h50.
Se a ideia de Michel Temer era ir à China com a vida resolvida, enganou-se. O novo presidente voou deixando para trás um mundaréu de pontas soltas. Dois problemas em especial voltaram à tona ontem, impulsionados pela manobra que manteve os direitos políticos de Dilma e abriu um racha na base de apoio do governo.
O primeiro: o retorno do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha à pauta do governo. Ontem, o PMDB votou em peso pela manutenção dos direitos políticos de Dilma Rousseff. A manobra arquitetada pelo senador Renan Calheiros pode abrir brecha para recurso semelhante na votação da cassação do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, marcada para o dia 12 de setembro. É uma possibilidade que caiu como uma bomba no PSDB. “Abriu-se um precedente”, diz Leandro Gabiati, cientista político da Dominium Consultoria.
A segunda dor de cabeça deriva da primeira. Há quatro ações do PSDB no Tribunal Superior Eleitoral, que podem cassar o mandato recém-adquirido por Temer. A chapa Dilma/Temer é acusada de abuso de poder político e econômico por ter sido supostamente beneficiada por doações de empresas envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras.
O PMDB luta para que as contas sejam divididas entre presidente e vice. Dessa forma, Temer se desvincularia de empreiteiras que preparam delação premiada nas investigações da Operação Lava-Jato, caso da OAS, ou que já confessaram ter entregue quantias a pedido do PT para manter contratos com o poder público, como a UTC. Num limite, se não houver desmembramento, a chapa inteira pode ser condenada e Temer, cassado.
Uma esperança é que a ação seja retirada… justamente pelo PSDB. “O autor tem o direito de desistir da ação, mas o Ministério Público pode assumir o polo ativo dessas ações e ficar encarregado”, afirma o especialista em Direito Eleitoral Alberto Rollo. Não há prazo definido para o julgamento. Mas um coisa é certa: enquanto a ação estiver em aberto, e a Lava-Jato estiver nas ruas, ninguém do novo governo dormirá totalmente tranquilo.