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O PSDB na encruzilhada

Partido aposta na recuperação fiscal, mas a economia insiste em não decolar e força o partido a movimento erráticos

SERRA, AÉCIO E ALCKMIN: os três mantêm o sonho de chegar à presidência em 2018 / Nelson Almeida / Getty Images
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Carol Oliveira

Publicado em 9 de dezembro de 2016 às 18h29.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h00.

Em meio ao quiproquó que se instalou na política brasileira, um partido em especial está sem rumo: o PSDB, maior partido da base aliada de Michel Temer. Os tucanos, evidentemente, torcem por Temer, pois uma melhora econômica criaria uma agenda positiva que poderia levar o partido ao Planalto em 2018. Mas a economia insiste em não decolar, o que força o partido a movimento erráticos.

O mais recente veio nesta quinta-feira, quando um de seus principais quadros, o deputado baiano Antonio Imbassahy, foi indicado para a Secretaria de Governo de Michel Temer. Era uma vitória. Duas semanas atrás, incomodado com a repercussão do caso Geddel Vieira Lima, o PSDB, engrossou as críticas ao governo. A indicação de Imbassahy era um afago ao partido no momento mais crítico do governo, envolto em polêmicas com o Congresso e com pautas decisivas para ser aprovadas.

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O problema: pressionado, o governo voltou atrás e Imbassahy foi preterido na noite desta quinta. O motivo foi uma reação imediata dos 200 deputados do Centrão, que enxergaram na medida uma forma de favorecimento a Rodrigo Maia (DEM-RJ) na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Imbassahy era um nome forte para o cargo, e sua entrada na disputa aumentaria as chances de nomes do Centrão, como o deputado Rogério Rosso (PSD-DF). O Centrão ameaçou melar a reforma da Previdência e, na queda de braço, sobrou para os tucanos.

De acordo com Rogério Rosso (PSD-DF), a indicação de Imbassahy, divulgada pela imprensa, gerou uma “insegurança natural” no centrão, por sinalizar um apoio de Temer a Maia sem que os deputados fossem consultados ou avisados. “Se for a vontade da base aliada e do presidente, eu retiro minha candidatura. Não quero enfrentá-lo”, disse à reportagem de EXAME Hoje. Outro nome forte do centrão, Gilberto Nascimento (PSC-SP) disse que houve “desencontro”, mas a base está unida.

Como reagiu o PSDB? Com um conformismo de quem, no momento, não tem para onde correr. A intenção do partido é manter a aliança. “Neste caso, a crise é entre governo e centrão. Não tem a ver com a gente e cabe ao governo resolver”, afirma um parlamentar. “O que nos preocupa é a condução, que claramente não deu certo. Isso demonstra que o governo continua fragilizado desde a saída do Geddel. Isso precisa ser resolvido logo”.

A opinião vai em linha com um artigo do senador Aécio Neves (PSDB-MG), publicado na semana passada, que diz ser “preciso reconhecer que, ao lado de alguns avanços importantes, as dificuldades permanecem graves”. O discurso é uma defesa antecipada do partido a críticas quanto à condução política do governo. No campo das reformas econômicas, o partido está escanteado.

“A expectativa da cúpula do PSDB era uma retomada mais rápida, mas acredito que a impaciência é mais com os contratempos e desmandos no próprio governo. Ninguém esperava que um governo com alguém tão experiente pudesse cometer tantos erros. Esperava-se uma mínima estabilidade para a economia responder e a confiança dos empresários voltar”, afirma Wagner Parente, diretor da consultoria política Barral M Jorge.

Se no curto prazo as coisas vão mal, o futuro não deve ser mais fácil.

Nesta sexta-feira, as delações da Odebrecht jogaram uma luz sobre os tucanos. A manchete do jornal Folha de S.Paulo revela que o nome mais forte do partido para 2018, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), recebeu 2 milhões de reais de caixa 2 nas campanhas de 2010 e 2014. Os repasses em dinheiro vivo, segundo depoimento dos executivos da Odebrecht em São Paulo, chegaram aos cofres tucanos em espécie e foram repassados ao empresário Adhemar Ribeiro, irmão da primeira-dama, Lu Alckmin, e pelo atual secretário de Planejamento do governo paulista, Marcos Monteiro, homem de confiança do governador.

Soma-se as denúncias contra Alckmin a informação de que a campanha de José Serra à presidência da República em 2010 também foi irrigada pela Odebrecht, com 23 milhões de reais não declarados. Em março, o mesmo aconteceu com o presidente do partido, Aécio Neves, que foi citado em delação do ex-senador Delcídio do Amaral. Pesam suspeitas de irregularidades em um esquema de propinas semelhantes ao arquitetado na Petrobras, mas em Furnas, uma empresa subsidiária da Eletrobras.

O mineiro também foi citado por Sergio Machado, que o acusa de ter recebido ao menos 1 milhão em recursos ilícitos para a campanha a deputado federal em 1998, e o ex-deputado federal Pedro Corrêa. “Se a gente tiver que cravar hoje, o Alckmin seria o candidato do PSDB. Mas, com o caminhar da Lava-Jato e da agenda de Temer, o primeiro semestre do ano que vem vai ser decisivo” afirma Sérgio Praça, cientista político e professor da FGV/CPDOC.

Nessa disputa velada por 2018, o PSDB ainda tem um dilema chamado Henrique Meirelles, o ministro da Fazenda. Se Meirelles recuperar a economia, aumentam as chances tucanas no próximo ciclo. Mas aumentam também as chances de o próprio Meirelles decidir sair candidato por seu partido, o PSD. “O Meirelles é conservador e é provável que candidatos desse tipo se deem bem nas urnas. Mas não sei se a popularidade dele vai aumentar tanto assim se a economia for bem”, diz Praça, da FGV.

Por via das dúvidas, nos bastidores, o PSDB tenta esvaziar o poder de Meirelles — a pressão foi tão forte nos últimos dias que Temer precisou afirmar que ele está firme no cargo. Em linguagem política, isso quer dizer que está balançando, e muito. Outra opção, sempre na mesa, é a volta de Fernando Henrique Cardoso — num mandato tampão até 2018, ou até mesmo na próxima campanha . Em novembro, artigo de Xico Graziano, ex-chefe de gabinete no governo FHC, fazia ecoar o grito de “Volta, FHC”. Toda vez que é sondado a respeito o ex–presidente, 85 anos, despista dizendo ser necessária a renovação do partido. Hoje, mais do que nada, os tucanos precisam é de um bom analista.

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