Exame Logo

Lula rouba corações, lidera pesquisas e segue em campanha

Talvez a maior dúvida das eleições de 2018 seja se Lula, que detém diferença de 20 pontos nas pesquisas em relação ao rival mais próximo, poderá participar

Ex-presidente Lula: “Lula, ladrão, roubou meu coração!”, dizia um dos cartazes em um comício em MG (Ueslei Marcelino/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 31 de outubro de 2017 às 16h32.

Última atualização em 31 de outubro de 2017 às 16h36.

Brasília - Ainda falta um ano para as eleições no Brasil, mas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em plena campanha, com direito a recepção digna de estrela do rock de multidões de adoradores em uma caravana recente pelo estado de Minas Gerais.

“Lula, ladrão, roubou meu coração!”, dizia um dos cartazes em um comício na cidade de Diamantina. O sonho do retorno, no entanto, pode acabar a qualquer momento se o tribunal de 2ª instância decidir que o ex-presidente roubou mais do que isso e mantiver a condenação do líder de esquerda, acusado de corrupção.

Veja também

Talvez a maior dúvida das eleições de 2018 seja se Lula, que atualmente detém uma diferença de 20 pontos nas pesquisas de opinião em relação ao rival mais próximo, poderá participar. A ameaça iminente à liberdade e à carreira política de Lula está em um tribunal de 2ª instância formado por três juízes que atualmente analisa a sentença de nove anos e meio de prisão.

Não há prazo para a decisão. Mesmo que o tribunal anule o veredicto, Lula enfrenta mais cinco ações judiciais e três investigações policiais. Segundo a lei da “ficha limpa” em vigor no Brasil, quem tem condenação confirmada fica impedido por oito anos de se candidatar a cargos públicos.

Contudo, os investidores estão levando a candidatura de Lula a sério. E estão preocupados. “Há um medo com Lula, isso é inegável”, disse Newton Rosa, economista-chefe da Sul América.

Em discurso, em 26 de outubro, o ex-presidente prometeu revogar um dos pilares do governo do presidente Michel Temer: o limite aos gastos públicos previsto na Constituição. Lula também levantou a possibilidade de realizar um referendo sobre algumas das outras reformas pró-mercado do governo atual.

Mesmo que o tribunal de 2ª instância confirme a condenação de Lula, se a opinião dos juízes não for unânime ele poderá pedir uma liminar, suspendendo a decisão e mantendo a candidatura.

Por enquanto, o mercado aguarda a decisão em 2ª instância antes de avaliar as chances de Lula concorrer em 2018, segundo Camila Abdelmalack, economista da CM Capital Markets.

Lula e o PT

Oficialmente, o Partido dos Trabalhadores (PT) diz não ter outro candidato. Segundo Lula e outros líderes do partido, os processos contra ele são “perseguição política”. Alguns membros disseram inclusive que o partido considera a possibilidade de boicotar as eleições se Lula for impedido de concorrer.

“O Partido dos Trabalhadores não tem outro candidato”, disse Juliano Griebeler, analista político da consultoria Barral M Jorge, que acrescenta que manter Lula no quadro ajuda a manter o partido unido. “Após o impeachment houve praticamente uma debandada”, disse ele, em referência ao impedimento de Dilma Rousseff, sucessora escolhida a dedo por Lula. “Em todo lugar teve gente deixando o PT”, acrescentou.

O partido está profundamente preocupado com o que fazer se Lula não puder concorrer. Pesquisas internas sugerem que o apoio atual de 35 por cento nas pesquisas de opinião é quase exclusivamente dele, não do partido.

Mas com o acúmulo de acusações contra o ex-presidente, algumas pessoas dentro do PT reconhecem que a legenda pode precisar estudar alternativas.

“Não há discussões internas sobre um plano B”, disse Humberto Costa, senador do PT próximo de Lula. “Mas há alguns nomes para este cenário, obviamente”, acrescentou, incluindo o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jacques Wagner.

Mesmo que ele participe -- e ganhe --, alguns analistas argumentam que a natureza pragmática de Lula limitaria as chances de inclinação radical à esquerda. O Congresso provavelmente será ainda mais conservador em 2019, segundo Griebeler, de forma que o custo político de desfazer as reformas de Temer seria alto.

“Lula não queima pontes, ele tenta negociar”, disse ele. “Mas ele não será tão pró-mercado quanto Temer.”

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoEleições 2018Luiz Inácio Lula da SilvaOperação Lava JatoSergio Moro

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Brasil

Mais na Exame