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Lula: o ex-presidente que quer ser reeleito, se a justiça deixar

Apesar do político ser o favorito nas pesquisas para 2018, as acusações de corrupção podem arruinar a sorte do ex-operário metalúrgico

Lula: nesta quarta-feira, o patriarca da esquerda brasileira, de 71 anos, ficará frente à frente com Sérgio Moro (Lula/Divulgação)
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AFP

Publicado em 10 de maio de 2017 às 13h45.

Última atualização em 10 de maio de 2017 às 15h04.

Luiz Inácio Lula da Silva foi o presidente mais popular do Brasil (2003-2010) e é favorito, segundo pesquisas de opinião, às eleições de 2018. Mas as acusações de corrupção podem arruinar a sorte deste mítico ex-operário metalúrgico.

Nesta quarta-feira, o patriarca da esquerda brasileira, de 71 anos, ficará frente à frente com Sérgio Moro , o juiz que conduz as investigações da 'Lava Jato' e que mandou a Polícia acordar o ex-presidente ao amanhecer para interrogá-lo em março de 2016.

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O aguardado duelo com Moro, ídolo dos críticos do ex-presidente, pode ser crucial para o futuro deste político que deixou o cargo com 80% de popularidade.

Depois de ouvi-lo, o juiz de Curitiba deverá determinar se Lula recebeu um luxuoso apartamento no Guarujá, balneário de São Paulo, da construtora OAS como retribuição de favores dentro da rede de propinas na Petrobras, o maior esquema de corrupção da história do Brasil. Um esquema que, segundo o Ministério Público, tinha em Lula o "comandante máximo".

O combativo ex-líder sindical o nega enfaticamente e se considera vítima de uma perseguição que, segundo ele, contribuiu para a morte de sua esposa e companheira de batalha, dona Marisa Letícia, em fevereiro passado.

Tudo com o único objetivo de acabar com sua carreira política e evitar que o Partido dos Trabalhadores (PT) volte ao poder depois da destituição de sua afilhada política, Dilma Rousseff, em 2016.

Mas Lula não pensa em facilitar essa campanha e, até o momento, todas as pesquisas estimam que ele lidera as intenções de voto para as eleições que escolherão o sucessor do conservador Michel Temer (PMDB/SP). No entanto, Lula também é um dos políticos que têm o maior índice de rejeição.

"Eu conheci a fome e quando a gente conhece a fome, não desiste nunca", disse recentemente.

"Faz dois anos estou lendo nos jornais que o PT acabou e que amanhã o Lula será preso. Se eles não me prenderem logo, quem sabe um dia eu mando prendê-los pelas mentiras que contam", ameaçou em um comício na sexta-feira passada.

De engraxate a presidente

Nascido em outubro de 1945 em Caetés, Pernambuco, Lula conheceu desde o berço a pobreza dramática que castigava um terço dos brasileiros.

Sétimo filho de um casal de analfabetos, foi abandonado pelo pai antes de a família trocar o sertão pela promissora e industrial São Paulo, como milhares de outros retirantes.

Foi vendedor ambulante e engraxate. Aos 15 anos, iniciou a formação de torneiro mecânico, perdeu um dedo mindinho enquanto operava uma máquina e, no final da década de 1970, tornou-se líder sindical no comando de uma história greve que desafiou a ditadura (1964-85).

Brasília, no entanto, se fez esperar e em três ocasiões, ele foi derrotado como candidato à Presidência pelo PT, partido do qual foi fundador em 1980.

O líder a quem a revista Foreign Policy qualificaria posteriormente como um "astro de rock da cena internacional" chegou finalmente à Presidência de 2003 com promessas de justiça social.

Ao longo de seus dois mandatos, impulsionados pelos ventos favoráveis à economia mundial, 30 milhões de brasileiros saíram da pobreza.

Lula coroou seu mandato e sua popularidade mundial conquistando para o Brasil a sede da Copa do Mundo de futebol em 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 para o Rio de Janeiro.

A sombra da corrupção

Idealista, mas pragmático, Lula é considerado um mestre na arte de tecer alianças aparentemente antinaturais ou se desfazer de amigos incômodos.

Em 2005, decapitou a direção do PT envolvida no Mensalão, o escândalo da contabilidade milionária ilegal para pagar partidos e congressistas em troca de apoio político.

Lula conseguiu se manter à margem, foi reeleito em 2006 e em 2010 conseguiu eleger Dilma Rousseff.

Um ano depois de deixar o poder, foi diagnosticado com um câncer na laringe, o qual superou, embora tenha lhe deixado a voz áspera, com a qual declarou à Justiça ter sofrido uma "canalhice homérica" quando foi impedido de ser ministro de uma encurralada Dilma Rousseff.

No mesmo dia em que a polícia o levou para depor de madrugada, ele já tinha advertido: "Se tentaram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo. A jararaca tá viva, como sempre esteve".

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