Haitianos buscam porta aberta para o futuro no Brasil
Imigrantes haitianos percorrem mais de 5.500 quilômetros à "procura de uma porta aberta"
Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2014 às 08h34.
Rio Branco - Jean Bart prepara sua mala. Dentro dela há algumas roupas, um álbum com fotos de sua família e uma Bíblia que percorreram mais de 5.500 quilômetros desde o Haiti à "procura de uma porta aberta" que agora parece começar a deixar entrar alguma luz.
Após passar dez dias em um albergue para imigrantes em Rio Branco, capital do Acre , Bart conseguiu seus papéis e agora espera "contentíssimo" a chegada de um ônibus com destino a São Paulo, onde seu irmão o espera para ajudá-lo a encontrar um trabalho.
Em seu périplo "por uma vida melhor" deixou para trás a família e sua namorada Cecília; foi extorquido pelos "coiotes" na fronteira com o Peru e passou fome e frio, "muito frio".
Esse mesmo relato, com diferentes protagonistas, pode ser ouvido em cada uma das esquinas de Chácara Aliança, um terreno afastado do centro de Rio Branco onde 600 imigrantes, a maioria deles haitianos, vivem após uma longa viagem e à espera de terem sua situação regularizada pelo governo brasileiro.
Somente com os papéis em dia os imigrantes podem viajar para outros pontos do país.
Bart, como a maioria de seus colegas, passou por República Dominicana, Panamá, Equador e Peru até chegar ao Brasil.
O tempo passa lento no abrigo, dizem. Uma mulher faz tranças no cabelo de uma colega, outras conversam em pequenos grupos, enquanto uma dezena de haitianos e senegaleses enchem garrafas de plástico em uma cuba de água para se refrescarem dos escaldantes 36° do meio-dia.
A poucos metros, Miguans Jocelyn relaxa em um dos centenas de colchões espalhados no refeitório enquanto observa um mapa mundi pendurado na parede e folhas que dão lições básicas de português.
Como o resto de seus compatriotas, o jovem, de 22 anos, decidiu deixar o Haiti por causa da situação econômica do país mais pobre do hemisfério ocidental e para manter vivo sonho de chegar algum dia a ser professor de inglês.
"Em meu país, o custo de vida é muito alto, e esse é o motivo de vir para cá. Em meu país, frequentava a escola, mas agora que preciso encontrar trabalho é muito difícil para mim, por isso decidi ir para outro país, como o Brasil", contou.
Jocelyn é só um dos milhares haitianos que começaram a chegar ao Brasil após o terremoto que em 2010 atingiu a capital, Porto Príncipe, matando 220 mil pessoas e deixando em pedaços um país que compartilha as raízes, a cor, os costumes e, sobretudo, a pobreza da África.
Após o desastre, o Brasil, que lidera a força de estabilização da ONU no Haiti (Minustah), começou a expedir em 2012 um "visto especial humanitário" válido até 2015 para a população haitiana.
Segundo dados da Agência da ONU para Refugiados (Acnur), entre 2010 e 2013 o número de pedidos de refúgio ao Brasil aumentou quase 1000%, de 566 para 5256.
"O Brasil é como uma porta de salvação para eles. Quando chegam aqui (no Acre), mostramos um mapa para que escolham para onde querem ir, e a maioria opta por São Paulo. Acreditam que é uma cidade com oportunidades", explicou à Agência Efe o secretário regional de Direitos Sociais do Acre, Antônio Torres.
Durante anos, padre Paulo, diretor do Centro de Estudos Migratórios da Missão Paz, recebeu e ajudou os imigrantes que chegam a São Paulo a procurar emprego. Segundo ele, "sofrem um grande choque porque não é o que imaginam".
O sacerdote elogiou os "grandes avanços" do governo brasileiro, mas questionou a política "reativa e não pró-ativa". "A política migratória não se resume em um papel", ressaltou.
Sob a pressão de diversas ONGs, o Ministério da Justiça apresentou em agosto um anteprojeto de lei sobre migrações que reforma a atual estrutura legislativa e reduz o burocrático processo de entrada e regulação dos imigrantes.
"Nos últimos anos, o governo lançou mão de ações improvisadas e insustentáveis para dar resposta aos imigrantes sem documentos e permanência, como é o caso da maioria dos haitianos que entram no país pelo Acre", lembrou Camila Asano, coordenadora de Política Externa da ONG Conectas.
Possibilidade de reunir a família: 46
Residência de longo prazo: 59
Políticas contra discriminação: 25
Participação política: 18
Acesso à nacionalidade: 15
Educação: 17
Possibilidade de reunir a família: 39
Residência de longo prazo: 37
Políticas contra discriminação: 59
Participação política: 25
Acesso à nacionalidade: 32
Educação: 33
Possibilidade de reunir a família: 53
Residência de longo prazo: 50
Políticas contra discriminação: 59
Participação política: 21
Acesso à nacionalidade: 27
Educação: 24
Possibilidade de reunir a família:48
Residência de longo prazo:64
Políticas contra discriminação:36
Participação política:25
Acesso à nacionalidade:26
Educação:16
Possibilidade de reunir a família:51
Residência de longo prazo:58
Políticas contra discriminação:14
Participação política:27
Acesso à nacionalidade:33
Educação:19
Possibilidade de reunir a família:59
Residência de longo prazo:57
Políticas contra discriminação:55
Participação política:25
Acesso à nacionalidade:20
Educação:17
Possibilidade de reunir a família: 51
Residência de longo prazo: 57
Políticas contra discriminação: 80
Participação política: 17
Acesso à nacionalidade: 24
Educação: 15
Possibilidade de reunir a família: 67
Residência de longo prazo: 65
Políticas contra discriminação: 36
Participação política: 13
Acesso à nacionalidade: 35
Educação: 29
Possibilidade de reunir a família: 41
Residência de longo prazo: 58
Políticas contra discriminação: 40
Participação política: 33
Acesso à nacionalidade: 22
Educação: 44
Possibilidade de reunir a família: 40
Residência de longo prazo: 41
Políticas contra discriminação: 31
Participação política: 59
Acesso à nacionalidade: 36
Educação: 45