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Governo quer colocar panos quentes em embate e enterrar denúncia

A avaliação de aliados é que, a despeito do embate com Maia, o governo precisa manter as pontes com ele e trabalhar para concluir logo a votação da denúncia

Maia e Temer: problemas com o presidente da Câmara podem prejudicar ainda mais Temer na relação com a Casa do que a delação (Ueslei Marcelino/Reuters)
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Reuters

Publicado em 16 de outubro de 2017 às 14h29.

Brasília - Depois de mais um embate com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em torno da divulgação dos vídeos da delação do empresário Lúcio Funaro, a ordem no Palácio do Planalto é por panos quentes e "enterrar" logo a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, disseram à Reuters interlocutores de Temer.

Depois de uma primeira reação irritada, em que auxiliares próximos do presidente acusaram Maia de colocar no ar os vídeos para constranger o presidente, a ordem na segunda-feira é diminuir o tom de confronto e aceitar a alegação de Maia de que no material recebido do Supremo Tribunal Federal (STF) não havia a informação de que os vídeos estavam sob sigilo.

Ao tomar conhecimento dos vídeos em matérias do jornal Folha de S.Paulo, o advogado de Temer, Eduardo Carnelós, divulgou uma nota criticando o que chamou de "vazamentos criminosos". Maia reagiu chamando o advogado de "incompetente".

De acordo com uma fonte ouvida pela Reuters, Carnelós garante que não sabia que os vídeos estavam no site da Câmara, não tinha visto e criticou o que acreditava ser um vazamento, não o presidente da Câmara, ao que Maia reagiu.

Carnelós depois divulgou uma segunda nota, a pedido de Temer, esclarecendo que não havia imputado a Maia o vazamento.

"Está todo mundo muito tenso, tem que deixar isso quieto. Temos que olhar para frente", disse um parlamentar próximo ao Planalto.

A avaliação no Planalto é que, apesar dos vídeos serem ruins, seu conteúdo não é exatamente uma novidade. Problemas com o presidente da Câmara podem prejudicar ainda mais Temer na relação com a Casa do que a delação.

Esse é o segundo embate com Maia em poucos dias. Na semana passada, os líderes da base mandaram suas bancadas esvaziar a sessão em que o presidente da Câmara tentava votar a medida provisória que cria acordos de leniência para bancos para que os parlamentares dessem quórum para a leitura do relatório sobre a denúncia contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça.

Maia reagiu com irritação e avisou ao Planalto que não iria mais colocar em votação MPs que não cumprissem os requisitos de urgência e relevância.

Um parlamentar próximo ao presidente da Câmara confirma que Maia ficou "extremamente" incomodado com a postura do Planalto no caso.

"Não é apenas isso. É dentro de um contexto de coisas acumuladas", disse. "Não se pode cobrar dele uma postura de líder de governo. Ele é o presidente da Câmara".

Para o deputado Beto Mansur (PRB-SP), um dos vice-líderes do governo na Câmara, o advogado de Temer "jamais" iria criticar Maia, até porque não sabia que os vídeos estavam no site da Câmara desde o final de maio. Ele não acredita que esse episódio possa ter reflexos negativos para o governo.

"O Rodrigo não tem essa característica (de atuar contra o governo) e vai tocar a denúncia institucionalmente como tem que tocar", afirmou.

A avaliação de aliados é que, a despeito do embate, o governo precisa manter as pontes com Maia e trabalhar para concluir logo a votação da denúncia. Mesmo com a possibilidade de redução do apoio em relação à primeira acusação, os governistas acreditam ter números para aprovar o parecer do deputado Bonifácio Andrada (PSDB-MG) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) contrário à denúncia.

Uma das ideias em discussão é abreviar, entre os aliados, a fase de discussão do parecer para seguir mais rápido para a votação, assim como foi feito na apreciação da primeira denúncia.

A ordem é tentar votar o texto esta semana na CCJ e, na próxima, em plenário. "Você tem algo muito bem definido, que a denúncia é muito fraca e foi totalmente desconstituída pelo relator", disse Mansur.

Bunker

A ação da Polícia Federal nesta segunda-feira, que fez busca e apreensão em endereços ligados ao deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão do ex-ministro de Temer Geddel Vieira Lima, que está preso, também não preocupa aliados do governo. Haveria um temor de que o aprofundamento das investigações pudesse levar Geddel a fazer uma delação premiada que implicasse o presidente.

Para Mansur, a ação da PF sobre o irmão de Geddel não afetará Temer por não ter nenhuma ligação com ele. "Uma coisa é o Geddel, outra o presidente", destacou.

A operação, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal a pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, visa a apurar indícios de ligação entre o deputado com os 51 milhões de reais apreendidos em um endereço ligado a Geddel.

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