Giannetti: maior "exigência ética" não implica ética disseminada
Economista e filósofo aponta modelos empresarial e de governo como propulsores da corrupção
Victor Caputo
Publicado em 17 de janeiro de 2017 às 12h37.
Última atualização em 17 de janeiro de 2017 às 12h55.
São Paulo - Em tempos de Operação Lava Jato , que descortinou um escândalo de corrupção sem precedentes no Brasil, o economista e filósofo Eduardo Giannetti entende que embora as “exigências éticas” tenham aumentado, elas, por si só, não são despertam mais adesão. Autor do livro Vícios privados, benefícios públicos? Giannetti foi o terceiro palestrante do fórum A Revolução do Novo , uma parceria entre as revistas VEJA e EXAME, e falou a respeito da revolução no campo da ética e se a intolerância a desvios de conduta veio para ficar.
O economista afirma que a adesão das pessoas a normas éticas resulta da combinação entre três mecanismos: a submissão, que decorre da fiscalização e da punição a atitudes antiéticas, a identificação, que envolve o desejo de manter uma boa opinião nos demais e uma consciência tranquila, e internalização, que parte da reflexão ética.
“A internalização é baseada na educação formal e a liderança dentro das organizações. É fundamental que um líder transmita o respeito ao código de ética. Vejo muitas empresas que fazem códigos de ética impecáveis, mas não tem a menor exigência de tornar isso parte do pensamento de cada um dos que convivem em seu espaço organizacional”, afirma o economista.
Segundo Eduardo Giannetti, o modelo de empresa baseado apenas no respeito a um mínimo denominador legal e na maximização dos lucros e resultados, bastante comum em países como o Brasil, está errado tanto do ponto de vista ético quanto do econômico. “Se a empresa é boa, se ela tem um código de ética robusto, é provável que ela tenha bons resultados e remunere bem os acionistas. Se a liderança não dá à empresa sentido de propósito naquilo que ela faz, ela não vai mobilizar o conhecimento latente em seus colaboradores para que cada um entregue o que tem de melhor”, diz.
Em relação ao contexto brasileiro, sobretudo à Operação Lava Jato e as empreiteiras envolvidas no escândalo que sangrou os cofres da Petrobras, o economista e filósofo entende que o problema remonta à formação do Estado brasileiro, baseado no patrimonialismo que confunde o que é público e o que é privado.
“Ainda vivemos em um modelo patrimonialista e que foi muito exacerbado, em que o Estado microgerencia a economia e o cria condomínios de poder, inclusive no setor privado, para alcançar resultados que incluem a sustentação no poder”, afirma Giannetti, para quem a dimensão da corrupção é diretamente proporcional ao tamanho do tal “condomínio de poder”.
Além do patrimonialismo, outro obstáculo elencado por Eduardo Giannetti aos princípios éticos no país é estritamente político: o presidencialismo de coalizão, em que o Executivo tem de fazer concessões ao Legislativo e às máquinas partidárias para governar. “Esse modelo, que já vinha claudicando, foi levado a ruir com Dilma Rousseff. Ela loteou 39 ministérios entre dez partidos para eleger o presidente da Câmara e perdeu a eleição, o que mostra a falência terminal do modelo de presidencialismo de coalizão”, lembra Giannetti.
Para o filósofo, punições a corruptos nos escândalos do mensalão e do petrolão são oportunidades únicas para se alterar a cultura política no país, mas que correm risco sem uma reforma política. “Infelizmente, todo esse processo salutar de apuração, investigação e punição corre risco porque o sistema acaba gerando vícios de conduta que levarão novamente a reprodução de pratica das quais nos queremos nos livrar”, conclui Eduardo Giannetti.
O fórum A Revolução do Novo está sendo realizado no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e se estenderá durante toda a manhã desta terça-feira.