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Geddel confirma conversa com Calero, mas nega pressão

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Calero afirmou que seu pedido de demissão foi motivado pela pressão que vinha sendo feita por Geddel

Geddel: "Eu tive sempre uma relação harmoniosa com o ministro Calero, eu do meu jeito, ele do jeito dele" (REUTERS/Ueslei Marcelino)
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Reuters

Publicado em 19 de novembro de 2016 às 18h18.

São Paulo - Acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de pressioná-lo para liberar uma empreendimento embargado em Salvador, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, confirma que conversou sobre o caso, mas nega qualquer pressão e atribuiu à "inexperiência" de Calero a má interpretação sobre as consultas que fez sobre o caso.

"Não fiz nenhuma pressão indevida ao ministro, me surpreende e entristece essas acusações. Eu tive sempre uma relação harmoniosa com o ministro Calero, eu do meu jeito, ele do jeito dele. Tratei com um colega a preocupação com esse assunto, uma troca de ideias", disse Geddel.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo deste domingo, Calero afirmou que seu pedido de demissão foi motivado pela pressão que vinha sendo feita por Geddel para que o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) liberasse a construção de um empreendimento na Ladeira da Barra, em Salvador, onde o ministro comprou um apartamento.

O edifício, de 30 andares em alto luxo, com apartamentos de 260 e 450 metros quadrados, está sendo construído em uma área sob restrição por estar ao lado de sítios históricos tombados da capital baiana. Em 2014, a obra teve parecer contrário do Escritório Técnico de Licenciamento e Fiscalização da prefeitura de Salvador. Mesmo assim, conseguiu a licença meses depois.

Na entrevista, Calero afirma que logo depois de assumir o cargo foi procurado por Geddel para tratar do caso. E que as conversas se repetiram por pelo menos mais duas vezes.

"Ele pede minha interferência para que isso acontecesse, não só por conta da segurança jurídica, mas também porque ele tem um apartamento naquele empreendimento. Ele disse: 'E aí, como é que eu fico nessa história?'", disse o ex-ministro à Folha.

Geddel alega que foram conversas normais, entre colegas, e não uma forma de pressão. "Eu não tratei do assunto com o Iphan, com quem quer que seja. Onde está a imoralidade? Não tem nada que possa ser tratado como pressão, tanto que, por mais que eu pense diferente, a posição que prevaleceu é a do Iphan", disse.

Questionado sobre a que atribuía as acusações de Calero, Geddel diz não saber. "Não me pergunte. Não sei. Acho que o que ele mesmo disse: inexperiência, receio de decidir, pouco costume no trato com a política", especulou.

"Não é verdade que eu fiz pressão. Foi uma conversa entre colegas. Assim como eu não considerei pressão quando ele me pediu que tentasse evitar que ele fosse chamado a depor na CPI sobre a Lei Rouanet. Eu não consegui evitar, mas não considerei pressão", afirmou.

Geddel confirmou que conversou logo na manhã deste sábado com o presidente Michel Temer, que pediu a ele que explicasse o caso à imprensa. Apesar de estar em meio à festa de aniversário de seu irmão Lucio Vieira Lima, Geddel atendeu vários jornalistas. Inicialmente, sua assessoria faria uma nota, mas o ministro considerou mais efetivo dar suas próprias explicações.

À Folha, Calero alega que pediu demissão quando notou que estava sob um processo de "fritura" encabeçado por Geddel, que estaria plantando informações contra ele.

Na entrevista, o ex-ministro da Cultura conta que Geddel chegou a dizer que levaria o caso a Temer e pediria a cabeça da presidente do Iphan, Katia Bogéa. Além disso, disse que passou a ser pressionado para enviar o caso para a Advocacia Geral da União (AGU).

"A informação que tive é que a AGU construiria um argumento de que não poderia haver decisão administrativa (do Iphan). Isso significa que o empreendimento seguiria com o parecer do Iphan da Bahia, que liberava a obra", disse o ex-ministro.

Geddel nega e repete que a decisão que prevaleceu foi a do Iphan, e que o caso será decidido pela Justiça.

O ministro confirma que assinou em 2014 - "quando o empreendimento tinha todas as licenças" - um contrato de compra e venda de um apartamento no edifício. Explicou que, depois da morte de seu pai, sua intenção era levar sua mãe para morar com ele e precisava de um local maior.

Perguntado se agora iria acionar a construtora Cosbat, autora da obra, para ter seu dinheiro de volta, disse que é preciso esperar a decisão final da Justiça.

(Reportagem de Lisandra Paraguassu; Edição de Camila Moreira)

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