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Garman, da Eurasia: O governo vai caminhar

Para o consultor, o PSDB tem postura mais rígida com o resultado das reformas fiscais pela pretensão de emplacar o próximo presidente nas eleições

GARMAN: a operação Lava-Jato é um único ponto que continua como “fator X” no horizonte / Germano Lüders (Germano Lüders/Exame)

Raphael Martins

Publicado em 31 de agosto de 2016 às 20h53.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h01.

O impeachment de Dilma Rousseff não foi surpresa para ninguém, em especial para a maior consultoria política de risco do mundo, a Eurasia Group, que dava a saída de Dilma como certa há muito tempo. Em relatório divulgado nesta quarta-feira, após o término da votação, a consultoria garante que o racha na base não será um problema.

Para Christopher Garman, chefe de análise de países da Eurasia e colunista da EXAME Hoje, não é de se estranhar que o PSDB tenha postura mais rígida com o resultado das reformas fiscais, pela pretensão de emplacar o próximo presidente nas eleições de 2018. Além disso, partido não tem muita escapartória: está preso na coligação. Garman concedeu a seguinte entrevista no início da noite desta segunda-feira.

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O impeachment de Dilma Rousseff não foi surpresa para ninguém, em especial para a maior consultoria política de risco do mundo, a Eurasia Group, que dava a saída de Dilma como certa há muito tempo. Em relatório divulgado nesta quarta-feira, após o término da votação, a consultoria garante que o racha na base não será um problema.

Para Christopher Garman, chefe de análise de países da Eurasia e colunista da EXAME Hoje, não é de se estranhar que o PSDB tenha postura mais rígida com o resultado das reformas fiscais, pela pretensão de emplacar o próximo presidente nas eleições de 2018. Além disso, partido não tem muita escapartória: está preso na coligação. Garman concedeu a seguinte entrevista no início da noite desta segunda-feira.

O impeachment terminou, mas ainda se discute se os crimes de responsabilidade foram cometidos por Dilma e se seriam suficientes para impeachment. Que imagem passamos adiante?
Os olhares de fora do Brasil são regidos pela narrativa da imprensa internacional, em que as bases jurídicas foram colocadas como parcialmente frágeis, levantando perguntas sobre legitimidade. Não acredito, porém, que vai arranhar a imagem de que o Brasil tem instituições democráticas ou sólidas. Mostrou que o Executivo não tem capacidade de interferir e todos trabalham livres.

Passamos pelo segundo processo de impeachment desde 1988. Que questões esse dado levanta sobre nossa forma de fazer política?
A crise obviamente levanta questões sobre a necessidade de uma reforma política. Questiona-se principalmente a fragmentação das bases, que se formam fundamentadas em trazer recursos para campanhas custosas e também na relação perversa com setor privado. No segundo fator, ao menos, a crise fiscal e o esquema da Petrobras vão levar a um novo equilíbrio de relação entre empresas estatais e o setor privado. Para estatais voltarem a ser confiáveis, é preciso investir nos mecanismos de compliance e disciplina de mercado. Investidores vão estar de olho nisso, para darem a impressão de investir em companhias corruptas. A partir daí a discussão vai impulsionar uma reforma política no Congresso em etapas. A primeira é mais modesta, em que devem ser discutidos o fim de coligações eleitorais e a inserção da cláusula de barreira. Depois do processo eleitoral de 2018, em que a raiva contra a classe política vai se traduzir na eleição, novas adaptações serão feitas. A cláusula de barreira deve reduzir o número de partidos menores e será possível realizar uma discussão sobre sistema eleitoral com listas abertas, voto distrital. Hoje, o debate não está maduro.

O Legislativo demonstrou ter um poder excessivo poder sobre o presidente? O que isso representa do ponto de vista das reformas econômicas necessárias?
A queda da Dilma foi fruto do tamanho da crise. Foi a falta de capacidade de negociar bem, não necessariamente de independência do Legislativo. Quando ela perdeu toda a condição de governar, houve uma reação da classe política. E é isso que dá condições de governabilidade para Temer, porque a classe política saiu assustada desse processo. Temer não dar certo do ponto de vista econômico e político é nocivo. Outro ponto é que há um prenúncio de penúria nas próximas campanhas, por conta do veto às doações empresariais. A única opção é cooperar com Temer para que as reformas se tornem capital político. Os debates serão difíceis porque a base é muito heterogênea, mas há condição de governar. A Operação Lava-Jato é um único ponto que continua como “fator X” no horizonte, em que ainda não sabemos como atingirá o governo.

Qual a expectativa geral sobre Temer?
Nossa expectativa na Eurásia é de que o governo caminhará. Claro que, se as reformas forem paralisadas por inteiro, vamos voltar a um aprofundamento da crise econômica, de mercado financeiro e economia real. Mas Temer se fortaleceu por ter a possibilidade de reverter esse jogo e fazer com que a inflação possa ser controlada. O Congresso sabe disso. Não é de se estranhar que o PSDB, que se mostra mais preocupado com o resultado das reformas reclame que o PMDB esteja assumindo um custo, mas ao mesmo tempo está preso na coligação. Pelos interesses eleitorais que o partido tem para 2018, convém que Temer seja uma ponte para os resultados. É até bom que essa conta do arrocho caia no peemedebista. Temer sabe que a negociação será dura sobre conteúdo dos gastos e que o governo terá que recuar para aprovar a nova previdência. Mas está no caminho para encontrar um equilíbrio. O único caminho factível par entrar em 2018 é constituir a agenda de reformas para o equilíbrio fiscal e para sair da crise.

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