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Fiscal preso na Carne Fraca foi assaltado por ladrões disfarçados

O suposto crime ocorreu poucos dias após Gonçalves Filho ser exonerado de uma pasta do Ministério da Agricultura, no Paraná, em abril de 2016

PF: os ladrões estavam disfarçados de agentes da Polícia Federal (Ueslei Marcelino/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 23 de março de 2017 às 15h36.

Última atualização em 23 de março de 2017 às 17h09.

São Paulo - Relatórios da Polícia Federal revelam que o fiscal Daniel Gonçalves Filho, um dos "líderes da organização criminosa" descoberta pela Operação Carne Fraca , teria sido assaltado por homens "vestidos com uniforme da Polícia Federal". Os ladrões teriam perguntado sobre "o dinheiro do frigorífico".

O suposto crime ocorreu poucos dias após Gonçalves Filho ser exonerado da Superintendência Regional do Ministério da Agricultura, no Paraná, em abril de 2016.

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A reportagem apurou que os assaltantes bateram à porta da residência do fiscal e mostraram "distintivos falsos".

O alvo da Carne Fraca e sua mulher, Alice Mitico Nojiri Gonçalves - que também é investigada -, teriam sido agredidos, antes de entregarem o dinheiro que tinham em casa.

Em ligações telefônicas interceptadas com autorização da Justiça, a Polícia Federal captou o diálogo entre o fiscal Carlos Cesar, apontado como "braço direito" dos chefes da corrupção no Ministério da Agricultura, e um homem identificado como "Marcos".

Na conversa, o agente público relata que a chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Maria do Rócio Nascimento, também presa, acusada de liderar o esquema, contou a ele que foi até a casa de Daniel após o assalto e, quando viu as viaturas, chegou a pensar que ele estava sendo preso.

"A doutora Maria, quando chegou na casa dele, diz que cheia de carro de polícia, não sabia se ia ou voltava, ela falou: 'Meu Deus, será que tão prendendo o doutor Daniel?'".

Carlos Cesar afirmou do diálogo, monitorado com autorização judicial, que o assaltante "batia, gritava, e queria que abrisse o cofre". Em seguida, ele afirma ao interlocutor que o assaltante passou a questionar a vítima de forma mais específica. "Cadê o dinheiro do frigorífico?", teria gritado o criminoso a Daniel.

O interlocutor de Carlos Cesar então sugere que o assalto foi feito por "gente mandada". Em seguida, o fiscal concorda e levanta outra dúvida sobre os assaltantes. "Será que é gente que sabe de alguma coisa?", questionou Carlos Cesar, em ligação grampeada pela PF.

O juiz federal Marcos Josegrei da Silva, que ordenou as prisões da Carne Fraca, afirma que a ocorrência na casa de Daniel Gouvêa teria "causado grande preocupação a Maria do Rocio, porque, no assalto, machucaram a família de Daniel com coronhadas, enquanto perguntavam 'onde é que tá o dinheiro do frigorífico'".

Em relatório, a Polícia Federal afirma que o vizinho de Daniel Gonçalves teria se comprometido a colaborar com investigações. "Possivelmente pra ajudar na busca dos assaltantes que adentraram na casa de Daniel com uniforme da PF", afirma a corporação.

As conversas em que o fiscal Carlos Cesar relata o assalto à casa de Daniel Gonçalves se deram em um momento em que a Polícia Federal investigava se o agente público funcionava como "sabe tudo" e "leva e trás" do ex-superintendente após exoneração da Pasta.

Na decisão Judicial que deflagrou a Carne Fraca, o juiz Marcos Josegrei afirmou que "mesmo afastado do cargo, Daniel continuou ditando as regras na SFA/PR".

Quanto ao patrimônio de Daniel, o juiz constata que ele recebia grandes quantias de dinheiro vivo. O magistrado ainda aponta que o fiscal exonerado do Mapa fazia doações vultosas aos filhos para "despistar a origem dos valores".

Somente em 2012, o agente público doou, em espécie, R$ 60 mil ao filho, Rafael Gonçalves, e R$ 210 mil à filha Laís Gonçalves.

A esposa de Daniel, Alice Mitico recebeu, segundo o Josegrei, "entre 2009 e 2015, R$ 182.257,49 de pessoas físicas, sem identificação de origem, o que até 2014 não era obrigatório".

Defesas

A reportagem entrou em contato com o Ministério da Agricultura (Mapa), mas não obteve resposta.

Sobre o assalto, o advogado criminalista Rodrigo Sánchez Rios, que defende Daniel Gonçalves Filho e familiares, afirmou, por telefone, que "prefere não fazer comentários", pois o trabalho dele "se limita a esclarecer todas as acusações que são lançadas" contra seus clientes.

Quanto à evolução patrimonial de Daniel e familiares investigados, o advogado afirma que "serão apresentados em juízo diversos documentos que provam um lastro decorrente da herança recebida pela esposa do Daniel".

A reportagem também entrou em contato com a Superintendência de Polícia Federal do Paraná, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

A defesa de Carlos Cesar não foi localizada. A reportagem enviou questionamentos à defesa de Maria do Rocio, que não se manifestou.

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