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EXAME/IDEIA: metade dos brasileiros cortou gastos com alimentos

Inflação de insumos básicos, como arroz, óleo e feijão, obrigou boa parte da população a reduzir gastos com itens da cesta básica e serviços

Inflação nos preços do arroz e de outros alimentos faz com que maioria dos brasileiros tenha que cortar custos (Reinaldo Canato/VEJA)

Inflação nos preços do arroz e de outros alimentos faz com que maioria dos brasileiros tenha que cortar custos (Reinaldo Canato/VEJA)

CA

Carla Aranha

Publicado em 25 de setembro de 2020 às 09h00.

Última atualização em 25 de setembro de 2020 às 09h42.

A inflação dos alimentos, que chegou a 8,83% em agosto, em comparação aos 12 meses anteriores, vêm impactando diretamente os gastos das famílias. Cerca de 66% dos brasileiros já começaram a reduzir despesas com atividades de lazer. Outros 57% cortaram os gastos com salões de beleza e restaurantes.

É o que revela uma pesquisa inédita EXAME/IDEIA, projeto que une Exame Research, braço de análise de investimentos da EXAME, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública.

O levantamento também mostra que metade dos brasileiros está tendo que cortar despesas na carne – 49% trocaram alimentos e itens de primeira necessidade por similares mais baratos. “Quando chega a esse ponto, é um sinal de que a economia não vai muito bem”, diz Maurício Moura, fundador do IDEA. “As pessoas estão sentindo fortemente a alta dos preços e já estão readequando seus orçamentos”.

O levantamento foi realizado entre os dias 21 e 24 setembro com 1.200 pessoas, por telefone, em todas as regiões do país. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

(Arte/Exame)

O aumento dos preços do arroz, que subiu quase 20% no ano, e de outros componentes essenciais da cesta básica, como o feijão e o óleo, com altas de mais de 12% e 18%, respectivamente, tornou-se um sério fator de preocupação para os brasileiros.

Mais da metade dos entrevistados (55%) acredita que a inflação dos insumos básicos continuará aumentado. “O consumidor vai ao mercado e comprova, dia após dia, esses aumentos”, diz Moura. “Por isso, a percepção é de que a inflação deverá continuar crescendo”.

(Arte/Exame)

EXAME/IDEIA também perguntou a quem se deve atribuir o aumento dos preços – 41% responsabilizam a política econômica do governo federal. Só 11% culpam os donos de supermercados e redes de alimentos.

Não foi só o arroz. O feijão e o óleo também tiveram seus preços remarcados. O tomate ficou 12% mais caro. Hoje, também é preciso pagar 7% a mais pelos ovos e frangos, em comparação aos últimos 12 meses.

Com as refeições consideravelmente mais caras, 72% dos brasileiros acreditam que o custo de vida teve um aumento superior aos índices de inflação divulgados pelo governo.

O baque tem sido sentido principalmente pela população mais pobre. Cerca de 70% das pessoas que ganham até um salário mínimo precisaram diminuir as compras de alimentos e 35% tiveram que reduzir os gastos com transporte.

A maioria (73%) da população que se encontra nessa faixa de renda também cortou as compras de roupas e sapatos. Mesmo entre 46% dos brasileiros que ganham do que cinco salários mínimos, esse tipo de despesa ficou no passado.

“É um dado preocupante, porque a redução do consumo pode levar a uma piora do nível de emprego”, diz Moura. “Os dados mostram que setores importantes da economia, como o de serviços e a indústria, podem ser afetados”

Entre os mais pobres, 36% tiveram que reduzir custos com as contas de celular e internet. Outros 24% diminuíram os investimentos em educação.

As decisões sobre cortes no orçamento também variam conforme a região do país e a renda das famílias. No Sul, 75% dos moradores optaram por reduzir despesas com lazer e turismo. Entre as pessoas que tiveram que trocar os alimentos que estavam acostumadas por outros mais baratos, a maioria (58%) se encontra no centro-oeste e nordeste (49%).

“Esses indicadores impactam diretamente a aprovação do governo e os índices de confiança dos consumidores”, diz Moura. “O brasileiro já está precisando reduzir investimentos importantes, o que não é um bom sinal”.

 

 

 

 

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