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Tirar a Petrobras do pré-sal é bom negócio para o Brasil?

Segundo proposta, a Petrobras terá a prerrogativa de escolher se quer ser operadora do campo ou se prefere se abster da exploração mínima de 30%

Pré-sal: alguns acreditam na possibilidade de mais investimentos com as novas empresas, enquanto outros veem riscos na retirada do monopólio (Agência Petrobras)
DR

Da Redação

Publicado em 26 de fevereiro de 2016 às 18h46.

Brasília - O projeto de lei que acaba com a participação obrigatória da Petrobras na exploração dos campos do pré-sal , aprovado na última quarta-feira (24) no Senado, divide opiniões não apenas no meio político, mas também entre especialistas do setor.

Alguns citam a possibilidade de mais investimentos com a entrada de novas empresas, enquanto outros veem riscos na retirada do monopólio da exploração da estatal.

A proposta aprovada diz que a Petrobras terá a prerrogativa de escolher se quer ser operadora do campo ou se prefere se abster da exploração mínima de 30% a que a lei a obriga atualmente. O texto ainda será votado na Câmara dos Deputados.

Equívoco

O fim da participação obrigatória da Petrobras na exploração dos campos do pré-sal é um equívoco, pois retira do país o controle sobre a produção de petróleo , o que pode se refletir no preço do produto, afirma o professor Ildo Sauer, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP).

“Se o objetivo do país é obter um retorno maior com esse recurso natural, é preciso manter o controle sobre a produção e o ritmo de produção. Se, com a Petrobras como operadora isso já era fraco, com a abertura para as multinacionais, acabou o controle, o país está renunciando à sua soberania sobre o petróleo”, diz o especialista.

Ex-diretor da Petrobras, Sauer também cita o risco da segurança ao deixar a exploração nas mãos de empresas multinacionais, lembrando recentes vazamentos de óleo nos mares do país.

“A Petrobras tem demonstrado no mundo inteiro ser a empresa de maior capacidade. Fora os problemas de diretoria, é a melhor empresa para fazer isso.” Segundo Sauer, a estatal não tem problemas de financiamento para a produção de petróleo.

Novos investimentos

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, a proposta aprovada no Senado “abre um clarão” no sentido de atrair novos investimentos, enquanto a Petrobras não tem condições econômicas e financeiras de assumir as responsabilidades que a lei da partilha lhe dá, que é a obrigatoriedade de participar de todos os consórcios de exploração com no mínimo 30% e o monopólio da operação.

Segundo Pires, a estatal foi vítima de uma “grande barbeiragem” nos últimos anos.

“O Brasil não pode esperar pela Petrobras. Hoje o país está em uma situação de crise econômica em que precisa atrair investidores”, diz. Na avaliação de Pires, é preciso ter uma regulação adequada e em sintonia como o mercado internacional para atrair investidores ao país.

Ele destacia que, se a proposta for aprovada como está na Câmara dos Deputados, e for sancionada, é possível que o governo faça leilões de petróleo no pré-sal já no ano que vem.

“E aí um leilão com essas modificações que foram feitas no Senado tem possibilidade muito maior de ter sucesso do que teria se mantivesse a lei da partilha como ela está até hoje."

Resultado prudente O texto do projeto aprovado no Senado foi um “resultado prudente”, diz o professor Alexandre Szklo, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ).

De acordo com Szklo, ao permitir à Petrobras exercer a preferência, sem obrigá-la a explorar todas as áreas, o projeto beneficia a estatal.

“Se for mantido dessa forma, em princípio, não fere a prioridade, nem os interesses da Petrobras, mas, ao mesmo tempo, não a obriga a ficar sufocada, eventualmente tendo que ir para determinadas áreas aonde ela não tem interesse”, acrescenta Szklo.

Ele ressalta que, mesmo dentro do pré-sal, existem campos que, para a Petrobras, não seria interessante explorar.

“Mesmo em uma área considerada estratégica, e que foi propalada como o passaporte do Brasil para o mundo dos hidrocarbonetos líquidos, ela tem heterogeneidade. Então, não necessariamente é só uma questão de a Petrobras ter, ou não, capacidade de investir, mas tem áreas em que talvez não seja do interesse dela investir, e tem outras áreas que são nobres”, enfatiza o professor da Coppe.

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Brasília - O projeto de lei que acaba com a participação obrigatória da Petrobras na exploração dos campos do pré-sal , aprovado na última quarta-feira (24) no Senado, divide opiniões não apenas no meio político, mas também entre especialistas do setor.

Alguns citam a possibilidade de mais investimentos com a entrada de novas empresas, enquanto outros veem riscos na retirada do monopólio da exploração da estatal.

A proposta aprovada diz que a Petrobras terá a prerrogativa de escolher se quer ser operadora do campo ou se prefere se abster da exploração mínima de 30% a que a lei a obriga atualmente. O texto ainda será votado na Câmara dos Deputados.

Equívoco

O fim da participação obrigatória da Petrobras na exploração dos campos do pré-sal é um equívoco, pois retira do país o controle sobre a produção de petróleo , o que pode se refletir no preço do produto, afirma o professor Ildo Sauer, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP).

“Se o objetivo do país é obter um retorno maior com esse recurso natural, é preciso manter o controle sobre a produção e o ritmo de produção. Se, com a Petrobras como operadora isso já era fraco, com a abertura para as multinacionais, acabou o controle, o país está renunciando à sua soberania sobre o petróleo”, diz o especialista.

Ex-diretor da Petrobras, Sauer também cita o risco da segurança ao deixar a exploração nas mãos de empresas multinacionais, lembrando recentes vazamentos de óleo nos mares do país.

“A Petrobras tem demonstrado no mundo inteiro ser a empresa de maior capacidade. Fora os problemas de diretoria, é a melhor empresa para fazer isso.” Segundo Sauer, a estatal não tem problemas de financiamento para a produção de petróleo.

Novos investimentos

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, a proposta aprovada no Senado “abre um clarão” no sentido de atrair novos investimentos, enquanto a Petrobras não tem condições econômicas e financeiras de assumir as responsabilidades que a lei da partilha lhe dá, que é a obrigatoriedade de participar de todos os consórcios de exploração com no mínimo 30% e o monopólio da operação.

Segundo Pires, a estatal foi vítima de uma “grande barbeiragem” nos últimos anos.

“O Brasil não pode esperar pela Petrobras. Hoje o país está em uma situação de crise econômica em que precisa atrair investidores”, diz. Na avaliação de Pires, é preciso ter uma regulação adequada e em sintonia como o mercado internacional para atrair investidores ao país.

Ele destacia que, se a proposta for aprovada como está na Câmara dos Deputados, e for sancionada, é possível que o governo faça leilões de petróleo no pré-sal já no ano que vem.

“E aí um leilão com essas modificações que foram feitas no Senado tem possibilidade muito maior de ter sucesso do que teria se mantivesse a lei da partilha como ela está até hoje."

Resultado prudente O texto do projeto aprovado no Senado foi um “resultado prudente”, diz o professor Alexandre Szklo, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ).

De acordo com Szklo, ao permitir à Petrobras exercer a preferência, sem obrigá-la a explorar todas as áreas, o projeto beneficia a estatal.

“Se for mantido dessa forma, em princípio, não fere a prioridade, nem os interesses da Petrobras, mas, ao mesmo tempo, não a obriga a ficar sufocada, eventualmente tendo que ir para determinadas áreas aonde ela não tem interesse”, acrescenta Szklo.

Ele ressalta que, mesmo dentro do pré-sal, existem campos que, para a Petrobras, não seria interessante explorar.

“Mesmo em uma área considerada estratégica, e que foi propalada como o passaporte do Brasil para o mundo dos hidrocarbonetos líquidos, ela tem heterogeneidade. Então, não necessariamente é só uma questão de a Petrobras ter, ou não, capacidade de investir, mas tem áreas em que talvez não seja do interesse dela investir, e tem outras áreas que são nobres”, enfatiza o professor da Coppe.

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