Em meio à crise financeira, Unesp aceita doações até por cartão de crédito
A Unesp passou recentemente por sua pior crise financeira, com décimo terceiro atrasado e todo orçamento comprometido com salários
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de agosto de 2019 às 13h12.
Um programa inédito da Universidade Estadual Paulista ( Unesp ) vai incentivar doações até por cartão de crédito. Por meio de uma plataforma na internet que entrou no ar besta quinta-feira, 29, o interessado já assina digitalmente um contrato e faz o pagamento da maneira que escolher. AUnesppassou recentemente por sua pior crise financeira, com décimo terceiro atrasado e todo orçamento comprometido com salários.
Anteriormente, quem quisesse fazer uma doação para aUnespnão sabia sequer quem procurar. O mesmo acontece em outras universidades públicas. "Era muita burocracia. Uma pessoa quis doar para Educação Física e esse pedido chegou até o Conselho Universitário, órgão máximo da instituição. Isso tem de acabar", conta o reitor daUnesp, Sandro Valentini. Com o novo programa, o doador pode dar qualquer valor à instituição e decidir se vai ou não destinar o recurso a uma unidade específica.
A universidade já tem uma plataforma que reúne seus ex-alunos, com 20 mil cadastrados. AUnespvai ter um departamento para fazer uma busca ativa de possíveis doadores tanto nesse grupo como fora dele. A estimativa é que a universidade, fundada em 1976, tenha 160 mil egressos, entre eles a apresentadora Ana Maria Braga e Antonio Carlos Tadiotti, dono da empresa Predilecta.
Exemplo
O empresário Alexandre Leite Lopes decidiu fazer sua doação quando levou a filha, que havia sido aprovada no vestibular daUnespdeste ano, para conhecer o câmpus. "Vi as faixas dizendo que estavam com o décimo terceiro salário atrasado", conta. Sem saber como proceder, ele mandou uma carta para o diretor do curso, falando da intenção de doar.
Nesta quinta-feira ele participou do evento em São Paulo que lançou o programa ParceiroUnespe foi o primeiro doador a usar a plataforma. "Poderia pagar a universidade da minha filha e ela está em uma instituição pública. Por que não ajudar como fazem nos Estados Unidos?" Lopes não quis divulgar o valor da doação nem o curso ou nome da filha para evitar qualquer relação da menina com os recursos. "É algo para a universidade." Ele é formado em Engenharia e estudou em faculdade privada.
Segundo o reitor, já é possível fazer a doação em depósito bancário. Boletos e cartões serão permitidos nos próximos meses. Assim que o dinheiro cair na conta criada para o ParceiroUnespserá imediatamente transferido para onde foi dirigido e o gestor pode usá-lo para qualquer atividade, como comprar computadores ou pintar uma sala de aula.
"O nosso modelo de financiamento depende da atividade econômica" diz o reitor.Unesp, Universidade de São Paulo (USP) e Estadual de Campinas (Unicamp) se mantêm com 9,57% do que é arrecadado pelo ICMS do Estado. A diminuição desse valor nos últimos anos e o inchaço na folha de pagamento levaram recentemente a graves problemas financeiros nas instituições, que são responsáveis juntas por um terço da produção científica do País.
Além das doações simples, o programa vai permitir parcerias com empresas, com contrapartida da universidade. Será possível desde a colocação de um placa numa sala reformada pela doadora até a utilização de espaços das instituições para eventos. A empresa que pretende doar para aUnesptambém pode solicitar, por exemplo, o uso de um laboratório para pesquisas específicas. Nesse caso, a universidade terá de abrir uma licitação para checar se há outros interessados.
A participação da iniciativa privada é tema polêmico nas universidades públicas e há grupos contrários, tanto por temer uma "privatização" da instituição, como por acreditar que os recursos públicos podem ser diminuídos com ações desse tipo. Mas o programa teve pouca resistência e foi aprovado no órgão máximo daUnesp, o Conselho Universitário.
'Endowment'
AUnespainda aprovou ontem um projeto de "endowment", um fundo perpétuo para a instituição em que apenas os rendimentos auferidos revertem para projetos. Outras tentativas de fundos semelhantes - comuns em universidades estrangeiras - não tiveram êxito no País. Um dos poucos a dar certo é o gerido por ex-alunos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).