Em começo da campanha online, Lula e Bolsonaro ainda falam para bolhas
Candidatos líderes têm dificuldade em engajar públicos além dos perfis aliados, segundo análise da consultoria de redes sociais .MAP
Carolina Riveira
Publicado em 22 de agosto de 2022 às 18h26.
Última atualização em 22 de agosto de 2022 às 18h28.
Embora as redes sociais sejam vistas como fator crucial nas eleições deste ano, as estratégias dos presidenciáveis na internet ainda têm falado sobretudo para suas "bolhas digitais" a pouco mais de um mês da votação, segundo análise da agência de análise de mídias .MAP.
O levantamento é resultado da avaliação qualitativa amostral da .MAP, em um universo de 1,4 milhão de posts abertos no Facebook e Twitter no período entre 9 e 15 de agosto.
O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lideram em menções e engajamento nas redes, mas conversam sobretudo com perfis que a análise classifica como "militantes" em seus campos, à esquerda ou à direita.
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"Só a direita bolsonarista e a direita como um todo têm metade da participação nas redes, mas falando de assuntos que são para a torcida", diz Marília Stábile, diretora geral da .MAP. Ela afirma que a parcela de perfis classificados como "não militante" - exatamente o público em disputa - por vezes não engaja com temas preferidos da direita nas redes porque "não quer saber de STF, de urnas".
"E na esquerda, vemos a mesma coisa do outro lado, com algumas exceções", diz Stábile.
Bolsonaro domina e Lula cresce entre os "nem nem"
No período analisado, Bolsonaro dominou a pauta nas redes, ainda antes do início oficial da campanha eleitoral, na terça-feira, 16.
- Bolsonaro teve 43% de participação na amostra analisada no período;
- As postagens tiveram, ao todo, 52% de aprovação, na análise qualitativa das mensagens.
As manifestações positivas elogiam medidas do governo, como queda no preço do combustível e Auxílio Brasil.
Já Lula, como costuma acontecer em todas as análises dos últimos anos, foi assunto em patamar muito menor do que o rival nas redes.
- Lula teve só 17% de participação, o que é um desafio para a campanha online do petista;
- Por sua vez, o ex-presidente tem conseguido maior aprovação, chegando a 36%.
Um destaque, aponta Stábile, foi o avanço de Lula entre o público "não militante" - que a analista classifica como "nem nem", por não se posicionar digitalmente de forma clara nem a favor de Lula, nem de Bolsonaro.
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No público não militante, Lula teve maior aprovação no período:
- Lula foi a 37% de aprovação nas postagens dos "nem nem", ainda que com só 2% de participação;
- Bolsonaro, por sua vez, tem a vantagem de ser mais visto entre esse grupo: teve pouco mais de 14% de participação;
- Mas Bolsonaro teve só 2% de aprovação entre os não militantes nas postagens.
Interesse por política dispara
No total, o interesse dos brasileiros nas redes pelas eleições e temas relacionados a política vem crescendo, o que deve se intensificar com o início oficial das campanhas.
Pelo histórico da .MAP, posts relacionados a política saíram de 37% de participação em julho para a casa dos 60%.
A análise da .MAP mostra ainda que a participação dos não-militantes no total de posts caiu de 37% em janeiro para 17% na semana até 15 de agosto. "Isso significa que mais pessoas, nas redes, estão se decidindo e se posicionando de um lado ou de outro", diz Stábile.
Isto é, a cada dez posts, seis foram sobre política - patamar só superado por momentos como abril e maio deste ano, quando ocorreram eventos como o fim da candidatura de Sergio Moro ou o anúncio da chapa Lula-Alckmin.
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Parte dos "nem nem" também se engajou mais com a esquerda na semana analisada, em pautas como o preço da camisa da seleção brasileira de futebol.
No mês passado, como a EXAME mostrou, análises anteriores da .MAP já mostraram que os perfis de esquerda (ligados diretamente a Lula ou não) haviam conseguido participar mais do que a direita em temas como o "racismo" e a "violência". Esse destaque ocorreu em momentos comoo crime de estupro cometido pelo anestesista Giovanni Quintella durante um parto e o assassinato do petista Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu (PR). Os assuntos tiveram “condenação quase unânime” dos usuários nas postagens da época, mas pouca presença da direita.
Manter esse engajamento com os não militantes, porém, será um desafio para os perfis de esquerda.
A diretora da .MAP aponta que a esquerda, ainda que historicamente fale de temas relevantes a um público jovem e não partidarizado - como custo de vida, cultura, racismo e violência contra os jovens, por exemplo -, tem dificuldade para apresentar essas pautas de forma a atrair perfis distintos nas redes.
Agora, com a campanha começando oficialmente e o interesse por política disparando, as próximas semanas serão uma oportunidade para as campanhas de Lula, Bolsonaro e outros candidatos conquistarem esse público de forma mais enfática.
"Temos uma direita muito organizada nas redes e uma esquerda querendo se organizar. E ambos precisam entender quais são as pautas para pegar o 'nem nem'", resume Stábile.