Discreto, José Sarto (PDT) estreará no Executivo em Fortaleza aos 61 anos
Deputado há sete mandatos, o candidato eleito na capital do Ceará tem fama de aglutinador e obteve o apoio de uma aliança de amplo espectro ideológico
Ernesto Yoshida
Publicado em 29 de novembro de 2020 às 19h06.
Última atualização em 29 de novembro de 2020 às 19h06.
O prefeito eleito de Fortaleza , José Sarto ( PDT ), de 61 anos, exerce mandato político há mais de 20 anos, mas, até recentemente, era uma figura pouco conhecida até mesmo na capital cearense, a quinta maior cidade do Brasil, com quase 2,7 milhões de habitantes. Com 98% das unas apuradas, foi eleito com 51,69% dos votos válidos. Capitão Wagner (PROS) ficou com 48,31%.
Discreto e com fama de conciliador e aglutinador, Sarto construiu sua trajetória rumo ao Palácio do Bispo, a sede da prefeitura de Fortaleza, por sua atuação mais nos bastidores do que na linha de frente da política.
Um dos desafios de sua campanha foi justamente torná-lo mais conhecido dos eleitores. Para isso, o pedetista teve a vantagem de usar 40% do total do horário gratuito em rádio e TV destinado aos candidatos a prefeito de Fortaleza durante a campanha no 1º turno. Sarto também conseguiu colar seu nome ao do atual prefeito, Roberto Cláudio (PDT), cuja gestão é avaliada como ótima ou boa por mais da metade da população da cidade, de acordo com pesquisas do Ibope.
Este vai ser o primeiro cargo no Executivo de Sarto, que nasceu no município de Acopiara, no interior do Ceará, e se mudou ainda na infância para Fortaleza, onde fez seus estudos na rede pública municipal. Formou-se em medicina na Universidade Federal do Ceará e se especializou em ginecologia e obstetrícia, realizando estágios nos Estados Unidos. Mais recentemente, ingressou no curso de mestrado de ciência política do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. De acordo com seu perfil divulgado no site da Assembleia Legislativa do Ceará, o prefeito eleito de Fortaleza fala inglês, francês e alemão.
Sarto entrou na vida pública realizando um trabalho humanitário no Fundo Cristão para Crianças. Iniciou a carreira política em 1988, quando se elegeu vereador em Fortaleza pela primeira vez. Quatro anos depois, foi reeleito e tornou-se presidente da Câmara Municipal, chegando a assumir interinamente a prefeitura em diversas ocasiões. Em 1994, estreou na Assembleia Legislativa como o deputado estadual mais votado de Fortaleza. Está atualmente no sétimo mandato consecutivo de deputado estadual e foi eleito presidente da Assembleia Legislativa para o biênio 2019-2020.
Nessa trajetória, Sarto mostrou pouco apego a siglas partidárias. Foi filiado ao PDC (1985-1992), PMDB (1992-1999), PPS (1999-2005), PSB (2005-2013), Pros (2013-2016) e PDT (desde 2016). Boa parte das mudanças de partido ocorreu para acompanhar seus padrinhos políticos, os irmãos Cid Gomes (senador) e Ciro Gomes (ex-candidato à presidência da República).
Com bom trânsito em todas as correntes ideológicas, Sarto ganhou a eleição com o apoio de uma ampla aliança. Antes do 2º turno, ele já tinha o apoio de PP, PTB, PL, PSB, PSD, Cidadania, Rede, DEM e PSDB . No 2º turno, sete dos nove candidatos derrotados no 1º turno declararam apoio à sua candidatura (os outros dois se mantiveram neutros). Entre as figuras que declararam apoio a Sarto nesta eleição estão o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e o governador do Ceará, Camilo Santana (PT).
Entre as promessas de governo de Sarto e sua coligação “Fortaleza cada vez melhor” estão a inclusão social, a redução das desigualdades e a geração de emprego e renda. Sarto afirma que promover inclusão social é o melhor caminho para reduzir a violência. O Ceará, puxado por Fortaleza, foi o estado que registrou maior crescimento de assassinatos no país no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado — o aumento dos casos foi atribuído à guerra de facções e à greve de policiais militares.
Em meados de outubro, Sarto teve de fazer uma pausa de duas semanas na campanha após apresentar sintomas de covid-19 . Ele foi hospitalizado, mas se recuperou sem necessidade de cuidado intensivo. O candidato pedetista disse que uma de suas prioridades como prefeito será imunizar os profissionais de saúde e a população de idosos de Fortaleza. “Vamos vacinar os idosos em casa”, afirmou. Nos últimos dias, a capital cearense registrou um aumento do número de casos do novo coronavírus. Até agora, a cidade teve quase 67.000 casos confirmados e 4.000 óbitos causados pela covid-19.