Bolsonaro anuncia diplomata Ernesto Araújo para Relações Exteriores
Araújo é hoje chefe do departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do Ministério das Relações Exteriores
João Pedro Caleiro
Publicado em 14 de novembro de 2018 às 16h38.
Última atualização em 14 de novembro de 2018 às 21h30.
São Paulo - O diplomata Ernesto Fraga Araújo, de 51 anos, foi anunciado nesta quarta-feira (14) como ministro das Relações Exteriores do governo de Jair Bolsonaro .
O presidente eleito deu a notícia no Twitter: "A política externa brasileira deve ser parte do momento de regeneração que o Brasil vive hoje. Informo a todos a indicação do Embaixador Ernesto Araújo, diplomata há 29 anos e um brilhante intelectual, ao cargo de Ministro das Relações Exteriores."
Assim como já havia antecipado, a escolha seria por alguém "jovem". Hoje em dia, o posto de chanceler é de Aloysio Nunes, 73 anos. O titular anterior, ainda sob o governo de Michel Temer, foi José Serra, 76, e o último nome do MRE sob Dilma foi Mauro Vieira, 67.
Após o anúncio, Bolsonaro deu uma coletiva de imprensa noCentro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em Brasília, onde funciona o gabinete de transição, afirmando que Araújo tem "perfil, propostas e é uma pessoa bastante experiente".
"Ele vai motivar o Ministério das Relações Exteriores e incrementar a questão de negócios com o mundo todo sem 'viés ideológico'", disse Bolsonaro.
Logo depois, o futuro ministro declarou que sua missão será traduzir o interesse nacional e fazer com que o Brasil seja "atuante, próspero e feliz". Questionado sobre quem serão seus principais países parceiros, Araújo disse que não há preferência.
Araújo é hoje chefe do departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do Ministério das Relações Exteriores. Ele foi recentemente promovido a embaixador e jamais chefiou uma missão brasileira no exterior.
Diplomata que já trabalhou de forma próxima com Fraga define sua personalidade como "centrado, um pouco tímido, alguém que estuda as coisas com profundidade e tem personalidade oposta a de Bolsonaro".
Mas diplomatas ouvidos pela Reuters avaliaram que ele éexcessivamente júnior para o cargo, com alguns deles apontando quebra de hierarquia e desrespeito à instituição.
Publicações
Formado em letras pela Universidade de Brasília, Araújo é autor de livros de ficção, poemas e ensaios, como Ocidente (Roswitha Kempf, 1985), Mercosul hoje (Alfa Omega, 1996) e Xarab fica (Alfa Omega, 1999).
Em artigo publicado no Cadernos de Política Exterior, do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), em 2017, o embaixador propõe que o Brasil reflita e defina se quer fazer parte da concepção de Ocidente do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Uma visão do Ocidente não baseada no capitalismo e na democracia liberal, mas na recuperação do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais […] e que mostra o nacionalismo como indissociável da essência do Ocidente”, escreveu Araújo antes de, comparando a atual situação mundial a uma partida de futebol americano, acrescentar que “muita gente não sabe que o Ocidente está jogando, muito menos que está perdendo.”
No final de setembro, ele estreou um blog chamado "Metapolítica 17 - Contra o Globalismo" em que apesar de não se definir como diplomata, usa seu nome real, além de fazer campanha aberta para o então candidato.
"Tenho 28 anos de serviço público e sou também escritor. Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. Essencialmente é um sistema anti-humano e anti-cristão. A fé em Cristo significa, hoje, lutar contra o globalismo, cujo objetivo último é romper a conexão entre Deus e o homem, tornado o homem escravo e Deus irrelevante. O projeto metapolítico significa, essencialmente, abrir-se para a presença de Deus na política e na história", escreve em seu perfil.
Entre os alvos preferidos do diplomata estão a "esquerda globalista" e sua política "antinatalista", além dos "regimes internacionais" e conceitos como "climatismo" e "racialismo".
O Itamaraty permite que posições pessoais sejam expressas se acompanhadas de um disclaimer, um aviso de que elas não refletem a posição oficial do governo. O blog inclui o disclaimer.
Equipe
São oito ministros confirmados até agora. O deputado Onyx Lorenzoni vai para a Casa Civil e Tereza Cristina, presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), vai para o Ministério da Agricultura.
O general Fernando Azevedo e Silva foi anunciado ontem como ministro da Defesa e Paulo Guedes já está definido para o “superministério” da Economia que reunirá Fazenda, Planejamento e Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
O juiz federal Sérgio Moro vai comandar outro “superministério”, o da Justiça e da Segurança Pública, enquanto o general Augusto Heleno vai para o Gabinete de Segurança Institucional e o tenente-coronel Marcos Pontes para o Ministério da Ciência e Tecnologia.
(Com AFP e Reuters)