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Defensoria do Rio discute aumento de violência contra gays

O aumento da violência contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros é tema de debate realizado hoje no Rio de Janeiro

Parada gay: relatório indica que a região mais violenta para os gays é o Nordeste (divulgação/Prefeitura de Fortaleza)
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Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2014 às 14h05.

Rio de Janeiro -O aumento da violência contra lésbicas, gays , bissexuais, travestis e transgêneros (LGBT) é o tema do debate que o Núcleo de Defesa da Diversidade Sexual e Direitos Homoafetivos (Nudiversis) a Defensoria Pública do Rio de Janeiro realiza, hoje (17) à tarde, em sua sede, no centro da cidade.

A Defensoria espera que o seminário Identidade de Gênero e Homoafetividade: Caminhos para o Reconhecimento de Direitos favoreça a construção de uma sociedade mais livre, justa e solidária.

O Nudiversis recebe, em média, dez denúncias de agressões à população LGBT. Para a coordenadora do núcleo, defensora Luciana Mota, a busca dos direitos aumentou porque o serviço passou a ser mais conhecido.

“As pessoas começaram a saber e a confiar mais nos serviços que são oferecidos. Antes ficavam muito fragilizadas e acabavam aceitando a discriminação que a sociedade impunha. Hoje, elas estão buscando mais cidadania e reconhecimento de direitos”,disse a defensora à Agência Brasil.

Para Luciana, embora não exista uma legislação no país que tipifique o crime de homofobia, no Rio, a Lei Municipal 2.475 de combate à discriminação LGBT, que completou 18 anos em setembro, é importante para punir administrativamente estabelecimentos públicos e privados que discriminam essas pessoas.

Além disso, a defensora destacou os registros de ocorrência dos casos em delegacias do estado, dos quais pode constar o motivo presumido de homofobia. “São algumas normativas que temos para garantir o mínimo de direitos, mas lei estadual ou crime de homofobia no Código Penal nós não temos”, ressaltou.

De acordo com o último Relatório Anual de Assassinato de Homossexuais no Brasil divulgado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), no ano passado, foram registrados 312 assassinatos de gays, travestis e lésbicas, que representam a morte de uma pessoa a cada 28 horas. Agosto registrou o maior número de casos (34).

O relatório indica que a região mais violenta é o Nordeste, com 43% dos considerados “homocídios”.

Também conforme dados do GGB, a violência continua neste ano. De janeiro a setembro, foram registradas 218 mortes de LGBT no país por tiros, facadas, espancamento, asfixia, apedrejamento e pauladas. Somente em janeiro, foram 42 assassinados, um a cada 18 horas.

No Rio de Janeiro, de janeiro até agosto houve oito assassinatos. Segundo o superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria Estadual de Direitos Humanos e coordenador do Programa Estadual Rio Sem Homofobia e do Rio Com Liberdade Religiosa e Direitos Humanos, Cláudio Nascimento, as estatísticas esbarram, às vezes, na falta de divulgação dos casos, porque pessoas agredidas não fazem as denúncias ou porque não há registros em órgãos públicos.

No estado, a inclusão da tipificação dos crimes de homofobia no boletim de ocorrência feito nas delegacias de polícia ajudou a consolidar os dados oficiais sobre a questão. “Ajudou a ter dados oficiais sobre a importância de construir respostas objetivas de atenção aos crimes de homofobia no Rio de Janeiro para mostrar ao Poder Público e à sociedade ”, disse Nascimento à Agência Brasil.

Ele adiantou que, nas próximas semanas, a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro vai lançar o Núcleo de Investigação de Crimes Homofóbicos.

Elaborada pelo Programa Estadual Rio Sem Homofobia e do Rio Com Liberdade Religiosa e Direitos Humanos, com participação da Divisão de Homicídios de Niterói, a proposta de criação do núcleo foi discutida com movimentos sociais ligados à questão.

O texto final aceito pela chefia de Polícia Civil foi entregue à Secretaria de Segurança há três semanas e, em breve, será criado o núcleo, informou.

Para Nascimento, o seminário desta sexta-feira vai mostrar análises da situação atual e envolver os defensores na agenda de enfrentamento à homofobia e de promoção dos direitos. “Há casos de assassinato de homossexuais que ficam por muito tempo transitando na Justiça. Então, é fundamental também contar com esses operadores no sistema para ajudar a avançar no ciclo de combate à impunidade. A maioria de pessoas que procuram a defensoria não tem condição de pagar advogado. É fundamental que a defensoria atue para que não seja mantido o ciclo de impunidade”, afirmou.

Além de Nascimento, vão participar do seminário o coordenador especial de Diversidade Sexual do Município do Rio de Janeiro, Carlos Tufvesson, o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, João Carlos Mariano Santana Rocha, o superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria Estadual de Direitos Humanos, e a juíza de Direito Raquel Oliveira. A entrada é gratuita.

São Paulo - Em seu levantamento anual, oGrupo Gay da Bahia (GGB) contabilizou maisde 312 homicídios de gays , travestis e lésbicas no Brasil em 2013. Ou seja, uma morte a cada 28 horas. O número, apesar de ruim, representa uma queda de 7,7% em relação ao ano anterior.
A maior parte das mortes (43%) aconteceu no Nordeste,onde vivem menos de 30% da população nacional, e é chamado pela ONG de “região mais homofóbica do Brasil”.
O levantamento levou em consideração notícias divulgadas na imprensa e dados enviados por organizações não-governamentais. Segundo a GGB, todos os crimes considerados tiveram como pano de fundo a homofobia.
Dez suicídios foram contabilizados por terem ocorrido, também de acordo com a ONG , pelo fato dos envolvidos não aguentarem a pressão social.
O estado que registrou mais assassinatos é Pernambuco , com 34 mortes.Considerando o tamanho da população, Roraima aparece como o estado mais perigoso para os homossexuais, com 6,15 mortes para um milhão de habitantes.
Entre as capitais, Manaus lidera na violência, com 12 casos.
Confira os estados que representaram, proporcionalmente, mais perigo para os gays no ano passado, de acordo com o relatório do Grupo Gay da Bahia.
  • 2. 1º Roraima - 6,15 mortes por milhão/hab

    2 /26(Tiago Orihuela/ Prefeitura Boa Vista/Divulgação)

  • Veja também

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 6,15* Mortes em Boa Vista: 2 Total de mortes no estado (2013): 3 * Estatisticamente, deve-se levar em consideração que, como a população do estado é pequena, três mortes já acarretam em índice extremamente elevado. É preciso lembrar também que a redução de apenas uma morte entre um ano e outro já alteraria significativamente esta taxa
  • 3. 2º Mato Grosso - 4,71 mortes por milhão/hab

    3 /26(Divulgação/ Embratur)

  • Taxa (mortes por milhão de habitantes): 4,71 Mortes em Cuiabá: 10 Total de mortes no estado (2013): 15
  • 4. 3º Rio Grande do Norte - 4,45 mortes por milhão/hab

    4 /26(REUTERS/Sergio Moraes)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 4,45 Mortes em Natal: 0 Total de mortes no estado (2013): 15
  • 5. 4º Paraíba - 4,34 mortes por milhão/hab

    5 /26(Divulgação / Cacio Murilo)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 4,34 Mortes em João Pessoa: 11 Total de mortes no estado (2013): 17
  • 6. 5º Alagoas - 3,94 mortes por milhão/hab

    6 /26(Wikimedia Commons)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 3,94 Mortes em Maceió: 4 Total de mortes no estado (2013): 13
  • 7. 6º Pernambuco - 3,69 mortes por milhão/hab

    7 /26(Leo Caldas/EXAME.com)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 3,69 Mortes em Recife: 12 Total de mortes no estado (2013): 34
  • 8. 7º Amazonas - 3,41 mortes por milhão/hab

    8 /26(DIVULGAÇÃO)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 3,41 Mortes em Manaus: 12 Total de mortes no estado (2013): 13
  • 9. 9º Rondônia - 2,89 mortes por milhão/hab

    9 /26(Reprodução/Wilson Dias/ABr/Wikimedia Commons)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 2,89 Mortes em Porto Velho: 4 Total de mortes no estado (2013): 5
  • 10. 10º Sergipe - 2,73 mortes por milhão/hab

    10 /26(Flickr/Creative Commons)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 2,73 Mortes em Aracaju: 4 Total de mortes no estado (2013): 6
  • 11. 11º Tocantins - 2,71 mortes por milhão/hab

    11 /26(Divulgação/Governo do Tocantins)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 2,71 Mortes em Palmas: 3 Total de mortes no estado (2013): 4
  • 12. 12º Mato Grosso do Sul - 1,93 morte por milhão/hab

    12 /26(Wikimedia Commons)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 1,93 Mortes em Campo Grande: 1 Total de mortes no estado (2013): 5
  • 13. 13º Goiás - 1,55 morte por milhão/hab

    13 /26(Wikimedia Commons)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 1,55 Mortes em Goiânia: 7 Total de mortes no estado (2013): 10
  • 14. 14º Distrito Federal - 1,43 mortes por milhão/hab

    14 /26(REUTERS/Ueslei Marcelino)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 1,43 Total de mortes no DF (2013): 4
  • 15. 15º Amapá - 1,36 morte por milhão/hab

    15 /26(Antonio Milena/Veja)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 1,36 Mortes em Macapá: 1 Total de mortes no estado (2013): 1
  • 16. 15º Paraná - 1,36 morte por milhão/hab

    16 /26(Francisco Anzola/Wikimedia Commons)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 1,36 Mortes em Curitiba: 9 Total de mortes no estado (2013): 15
  • 17. 17º Bahia - 1,33 morte por milhão/hab

    17 /26(Divulgação)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 1,33 Mortes em Salvador: 9 Total de mortes no estado (2013): 20
  • 18. 20º Minas Gerais - 1,21 morte por milhão/hab

    18 /26(Wikimedia Commons)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 1,21 Mortes em Belo Horizonte: 8 Total de mortes no estado (2013): 25
  • 19. 21º Santa Catarina - 1,21 morte por milhão/hab

    19 /26(Wikimedia Commons)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 1,21 Mortes em Florianópolis: 0 Total de mortes no estado (2013): 8
  • 20. 22º Rio Grande do Sul - 1,16 morte por milhão/hab

    20 /26(Camila Domingues/Palácio Piratini)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 1,16 Mortes em Porto Alegre: 2 Total de mortes no estado (2013): 13
  • 21. 23º Maranhão - 1,03 morte por milhão/hab

    21 /26(Wikimedia Commons)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 1,03 Mortes em São Luís: 3 Total de mortes no estado (2013): 7
  • 22. 24º São Paulo - 0,66 morte por milhão/hab

    22 /26(Wikimedia Commons)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 0,66 Mortes na cidade de SP: 5 Total de mortes no estado (2013): 29
  • 23. 25º Pará - 0,63 morte por milhão/hab

    23 /26(Cayambe/Wikimedia Commons)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 0,63 Mortes em Belém: 1 Total de mortes no estado (2013): 5
  • 24. 26º Espírito Santo - 0,52 morte por milhão/hab

    24 /26(Wikimedia Commons)

    Taxa (mortes por milhão de habitantes): 0,52 Mortes em Vitória: 0 Total de mortes no estado (2013): 2
  • 25. 27º Acre - sem mortes

    25 /26(Wikimedia Commons)

    Não foram registradas mortes de homossexuais cuja causa tenha sido homofobia, segundo o Grupo Gay da Bahia
  • 26. Agora, veja as cidades do Brasil que estão entre as mais violentas do planeta (independente de orientação sexual)

    26 /26(Spencer Platt/Getty Images)

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