Cursos de formação de escritor se espalham pelo País
Pioneiro no ensino do ofício da escrita, o gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil criou sua oficina a quase 30 anos
Da Redação
Publicado em 5 de março de 2014 às 10h15.
São Paulo (AE) - Roberto Taddei era jornalista, mas queria ser escritor . Socorro Acioli já tinha lançado alguns livros infantis e juvenis, mas queria dar um salto mais alto. Ele arrumou a mala em 2007 e foi fazer mestrado em criação literária na Universidade de Columbia, em Nova York.
Ela penou, mas conseguiu, em 2006, uma vaga num diminuto, mas ao que parece transformador, curso com o escritor colombiano Gabriel García Marquez em Cuba. Da experiência tão particular de cada um surgiu um livro - o dele, Terminália, era obrigação, a dissertação de seu mestrado; o dela, A Cabeça do Santo, a promessa feita ao ídolo de que jamais abandonaria seu projeto literário.
Taddei e Acioli foram longe. Investiram tempo e dinheiro, e voltaram satisfeitos. As obras que escreveram chegam agora às livrarias - num momento em que cursos como os que procuraram fora do País se tornam cada vez mais profissionais e frequentes por aqui. Claro, ainda não são tão abundantes como nos Estados Unidos, terra das oficinas de escrita criativa onde, estima-se, há 500 delas.
Tampouco há algum ministrado por um prêmio Nobel, como era o de Cuba. No entanto, há opções para todos os níveis, objetivos, gostos e bolsos, e muitos deles com início nas próximas semanas.
Pioneiro no ensino do ofício da escrita, o gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil criou sua oficina - por onde passaram nomes como Daniel Galera, Michel Laub e Luisa Geisler - há quase 30 anos. E vem, nesse tempo todo, acompanhando o interesse do brasileiro por cursos de formação de escritor.
"O crescimento foi espantoso. Quando comecei, as pessoas procuravam a oficina para melhorar o texto; hoje, procuram-na com a decisão de tornarem-se escritores", comenta. Sua oficina anual, realizada na PUC de Porto Alegre e com vagas apenas para 2015, deu cria. Em 2010, a universidade gaúcha abriu turmas de mestrado e doutorado em Escrita Criativa.
A jornalista Rosangela Petta foi aluna de Assis Brasil em 2010. Ainda não publicou um livro, mas da experiência trouxe para São Paulo o próprio curso. Naquele mesmo ano, ela fundou, com o apoio do professor, a Oficina de Escrita Criativa. Há, aqui, um programa como o de Porto Alegre, anual e já com vagas esgotadas para 2014.
Mas há uma série de outras oficinas, mais expressas, começando agora para quem quer escrever biografia, conto, crônica, livro infantil, etc., ou para quem quer apenas melhor a escrita.
O escritor João Silvério Trevisan é dono de uma das mais longevas oficinas paulistas - está na ativa há 27 anos - e defende o ensino da escrita. "Não acho que a literatura caia do céu. A musa não existe. Ela morreu de fome por falta de pagamento de direitos autorais", brinca. Sobre essa questão, Assis Brasil cita Maiakovski: "É a técnica que liberta o talento."
Para Trevisan, é importante que o aluno tenha um projeto, uma ideia do que será a sua obra. E foi isso que Socorro Acioli aprendeu com García Marquez. "Ele dizia que é preciso saber a história que pretendo contar assim como sei resumir o conto da Chapeuzinho Vermelho", diz. "Se eu não tiver clareza do meu universo ficcional, o leitor nunca terá e a narrativa não vai funcionar. Outra dica que levei para a vida foi a de só sentar para escrever quando tiver o eixo da narrativa definido - começo, meio, fim."
Depois da experiência cubana, a escritora fez outros três cursos - dois com o americano Robert McKee e outro com o mexicano Guillermo Arriaga. Seu livro A Cabeça do Santo foi planejado de 2006 a 2010 e escrito entre 2010 e 2013, e antes de ser lançado os direitos já tinham sido vendidos para a Inglaterra. Ele conta a história de Samuel, que sai em busca do pai e encontra abrigo na cabeça de uma estátua de Santo Antonio. Descobre, assim, que tem o dom de ouvir as orações das moças, passa a arranjar casamentos e a fazer chantagens.
Mas essa história não ficou só na escrita do livro. "Minha tese de doutorado, defendida no dia 18, foi esse romance e um ensaio teórico sobre o processo de criação a partir do livro A Preparação do Romance, de Roland Barthes."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
São Paulo (AE) - Roberto Taddei era jornalista, mas queria ser escritor . Socorro Acioli já tinha lançado alguns livros infantis e juvenis, mas queria dar um salto mais alto. Ele arrumou a mala em 2007 e foi fazer mestrado em criação literária na Universidade de Columbia, em Nova York.
Ela penou, mas conseguiu, em 2006, uma vaga num diminuto, mas ao que parece transformador, curso com o escritor colombiano Gabriel García Marquez em Cuba. Da experiência tão particular de cada um surgiu um livro - o dele, Terminália, era obrigação, a dissertação de seu mestrado; o dela, A Cabeça do Santo, a promessa feita ao ídolo de que jamais abandonaria seu projeto literário.
Taddei e Acioli foram longe. Investiram tempo e dinheiro, e voltaram satisfeitos. As obras que escreveram chegam agora às livrarias - num momento em que cursos como os que procuraram fora do País se tornam cada vez mais profissionais e frequentes por aqui. Claro, ainda não são tão abundantes como nos Estados Unidos, terra das oficinas de escrita criativa onde, estima-se, há 500 delas.
Tampouco há algum ministrado por um prêmio Nobel, como era o de Cuba. No entanto, há opções para todos os níveis, objetivos, gostos e bolsos, e muitos deles com início nas próximas semanas.
Pioneiro no ensino do ofício da escrita, o gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil criou sua oficina - por onde passaram nomes como Daniel Galera, Michel Laub e Luisa Geisler - há quase 30 anos. E vem, nesse tempo todo, acompanhando o interesse do brasileiro por cursos de formação de escritor.
"O crescimento foi espantoso. Quando comecei, as pessoas procuravam a oficina para melhorar o texto; hoje, procuram-na com a decisão de tornarem-se escritores", comenta. Sua oficina anual, realizada na PUC de Porto Alegre e com vagas apenas para 2015, deu cria. Em 2010, a universidade gaúcha abriu turmas de mestrado e doutorado em Escrita Criativa.
A jornalista Rosangela Petta foi aluna de Assis Brasil em 2010. Ainda não publicou um livro, mas da experiência trouxe para São Paulo o próprio curso. Naquele mesmo ano, ela fundou, com o apoio do professor, a Oficina de Escrita Criativa. Há, aqui, um programa como o de Porto Alegre, anual e já com vagas esgotadas para 2014.
Mas há uma série de outras oficinas, mais expressas, começando agora para quem quer escrever biografia, conto, crônica, livro infantil, etc., ou para quem quer apenas melhor a escrita.
O escritor João Silvério Trevisan é dono de uma das mais longevas oficinas paulistas - está na ativa há 27 anos - e defende o ensino da escrita. "Não acho que a literatura caia do céu. A musa não existe. Ela morreu de fome por falta de pagamento de direitos autorais", brinca. Sobre essa questão, Assis Brasil cita Maiakovski: "É a técnica que liberta o talento."
Para Trevisan, é importante que o aluno tenha um projeto, uma ideia do que será a sua obra. E foi isso que Socorro Acioli aprendeu com García Marquez. "Ele dizia que é preciso saber a história que pretendo contar assim como sei resumir o conto da Chapeuzinho Vermelho", diz. "Se eu não tiver clareza do meu universo ficcional, o leitor nunca terá e a narrativa não vai funcionar. Outra dica que levei para a vida foi a de só sentar para escrever quando tiver o eixo da narrativa definido - começo, meio, fim."
Depois da experiência cubana, a escritora fez outros três cursos - dois com o americano Robert McKee e outro com o mexicano Guillermo Arriaga. Seu livro A Cabeça do Santo foi planejado de 2006 a 2010 e escrito entre 2010 e 2013, e antes de ser lançado os direitos já tinham sido vendidos para a Inglaterra. Ele conta a história de Samuel, que sai em busca do pai e encontra abrigo na cabeça de uma estátua de Santo Antonio. Descobre, assim, que tem o dom de ouvir as orações das moças, passa a arranjar casamentos e a fazer chantagens.
Mas essa história não ficou só na escrita do livro. "Minha tese de doutorado, defendida no dia 18, foi esse romance e um ensaio teórico sobre o processo de criação a partir do livro A Preparação do Romance, de Roland Barthes."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.