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Cavendish confirma ter pago propina a Cabral por obra no Maracanã

Segundo o empresário, o ex-governador do Rio cobrou propina de 5% para que a Delta Construções participasse do consórcio que faria a reforma do estádio

Cabral: o empresário negou que o peemedebista tivesse pedido o dinheiro para campanha eleitoral (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Cabral: o empresário negou que o peemedebista tivesse pedido o dinheiro para campanha eleitoral (Antonio Cruz/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de agosto de 2017 às 16h16.

Rio - O empresário Fernando Cavendish, da empreiteira Delta Construções, afirmou em depoimento à Justiça que o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) cobrou propina de 5% para que a construtora participasse do consórcio que faria a reforma do estádio do Maracanã.

Segundo ele, o acerto era feito em parcelas mensais com dinheiro em espécie. Cavendish negou que o peemedebista tivesse pedido o dinheiro para campanha eleitoral.

"2011 não era ano de campanha (...) Com certeza não (fui informado sobre o uso do recurso para campanha)", disse ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio.

O ex-governador tem sustentado em seus depoimentos ao magistrado que os recursos que recebia eram caixa dois de campanha eleitoral, negando a cobrança de propina. Cabral não é réu nesse processo, mas foi citado pelo empresário.

O acusado disse ainda que os recursos em espécie para o pagamento da propina do Maracanã foram gerados pelo empresário Adir Assad, também réu no processo.

Cavendish afirmou que Assad entregava esses recursos para o caixa dois da Delta. Além do pagamento de propina, o dinheiro também era usado para pagamento de fornecedores em espécie e conseguir melhores condições com eles.

Cavendish e Adir Assad estão entre os alvos da Operação Saqueador, deflagrada em junho do ano passado para apurar as suspeitas de lavagem de R$ 370 milhões em obras tocadas pela construtora.

Segundo as investigações, Cachoeira, Assad e Marcelo Abbud eram os responsáveis por criar as empresas fantasmas que lavavam os recursos públicos, por meio de contratos fictícios, que eram sacados em espécie, para o pagamento de propina a agentes públicos, de forma a impedir o rastreamento das verbas.

"Assad emitiu notas, a gente pagava as notas e ele as emitia. Eram notas por serviços não feitos", disse.

Reunião

Cavendish afirmou que à época do acerto da entrada no consórcio tinha "grande proximidade" com Cabral. "Fui conversar com ele sobre a possibilidade da minha empresa participar do consórcio que estava sendo conduzido pela Odebrecht. Ele entendeu meu pedido", disse.

Segundo o empresário, o ex-governador citou então que tinha um acerto de pagamento de propina de 5% com a Odebrecht e que para entrar no consórcio teria que fazer o mesmo. "Me falou que tinha que pagar também os 5% de propina. Eu admito que isso aconteceu", afirmou.

O empresário afirmou que orientou então a funcionária Claudia Maria Salgado a fazer o pagamento em dinheiro por meio de Carlos Miranda, apontado como operador do esquema de Cabral.

Sobre outros mimos feitos a Cabral, em referência ao anel de 220 mil euros dado a mulher do ex-governador, Adriana Ancelmo, não quis responder.

Cavendish foi questionado por Bretas se teria interesse em compensar os cofres públicos pelo que fez. Ele respondeu que reconhece os erros que cometeu e disse que fará tudo que está ao seu alcance para "minimizar isso da forma que for correta".

"Quero manifestar profundo arrependimento pelos erros que cometi (...) Desde 2012 venho sofrendo, perdi tudo que construí. Mas tenho consciência que isso aconteceu pelos meus erros", disse.

O empresário afirmou ainda que vê o futuro com outra atitude e que agora sabe dividir bem o certo e o errado. "Quero colaborar com a Justiça e ter oportunidade de reconstruir a minha carreira profissional, quero fazer parte de um novo momento desse País".

Além de Cavendish e Assad, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou em junho do ano passado Carlinhos Cachoeira, Cláudio Abreu e Marcelo Abbud por associação criminosa, em um esquema de corrupção, desvio e lavagem de dinheiro, no qual a empreiteira Delta repassou valores a 18 empresas de fachada pertencentes aos operadores, totalizando os mais de R$ 370 milhões desviados.

Segundo as investigações, Cachoeira, Assad e Marcelo Abbud eram os responsáveis por criar as empresas fantasmas que lavavam os recursos públicos, por meio de contratos fictícios, que eram sacados em espécie, para o pagamento de propina a agentes públicos, de forma a impedir o rastreamento das verbas.

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