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Brasil que se vire com as arenas vazias após Copa, diz Fifa

Menos de um ano depois da Copa que rendeu um lucro recorde para a Fifa, a questão dos estádios vazios é um problema do Brasil

Estádio Mané Garrincha, em Brasília: a falta de jogos no estádio levou o governo do Distrito Federal a levar parte de sua burocracia para ocupar o local (Mateus Baeta/ Portal da Copa)
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Da Redação

Publicado em 22 de março de 2015 às 10h48.

Zurique - Menos de um ano depois da Copa do Mundo que rendeu um lucro recorde para a Fifa , a entidade não quer nem ouvir falar do Brasil.

Nesta semana, a Fifa reuniu a sua cúpula em Zurique e, na agenda, apenas os Mundial de 2018, 2022 e 2026.

Questionados pela reportagem se haviam discutido os estádios vazios do Brasil, os cartolas foram claros: "Esse problema é de vocês".

Para a Fifa, o Brasil de fato garantiu a "Copa das Copas". A renda e os lucros bateram todos os recordes, como o jornal O Estado de S.Paulo revelou com exclusividade em sua edição de quinta-feira.

No total, a receita chegou a quase R$ 16 bilhões e os lucros superaram a marca de R$ 8,3 bilhões. A Copa foi o evento esportivo mais lucrativo da história.

Mas esta renda não voltou ao Brasil e apenas 2% da receita serão distribuídos em projetos sociais e de desenvolvimento do futebol no País. Enquanto isso, pelo menos seis dos 12 estádios estão com sérias dificuldades para se financiar, fecharam ou foram pegos no meio de escândalos de corrupção.

Para a Fifa, porém, esse é agora um problema do Brasil. Walter de Gregório, diretor de Comunicações da entidade e que percorreu o País antes da Copa para convencer a todos de que o Mundial era um grande negócio, agora silencia quando questionado sobre o que fazer com os estádios vazios. "Não tratamos de Brasil", afirmou.

A Fifa não queria nem aceitar que Manaus fosse usada para os Jogos Olímpicos de 2016 como uma das sedes do torneio de futebol. Foi necessário pressão da CBF e do governo para que a cidade fosse incluída em um esforço de garantir algum tipo de evento para a Arena Amazônia. Os times amazonenses têm evitado usar o estádio diante dos custos para os jogos do Estadual e de um público médio de 659 pessoas por jogo. O prejuízo supera a marca de R$ 2 milhões.

"A Copa de 2014 é passado", declarou um outro dirigente na condição de anonimato. Segundo cálculos de diversos governos estaduais, porém, a realidade é que a Copa do Brasil vai perseguir as contas públicas ainda por anos.

Em Salvador, a empresa que administra o estádio, a OAS, teve suas ações bloqueadas pela Justiça na Operação Lava Jato e pode ser obrigada a se desfazer do investimento na arena. Em Brasília, a falta de jogos no estádio Mané Garrincha levou o governo do Distrito Federal a levar parte de sua burocracia para ocupar o local. Hoje, seu buraco é de mais de R$ 5 milhões. Nem o Maracanã opera com lucros.

Em Natal, o ABC rompeu nesta semana um acordo com o consórcio que administra a Arenas das Dunas. Em janeiro, a Arena Pantanal, em Cuiabá, teve de fechar suas portas para uma reforma "urgente".

PROTESTOS

Se a situação dos estádios gera uma saia-justa na sede da Fifa, é com um sorriso de satisfação que os cartolas comentam os protestos que voltaram a tomar conta das cidades do País. "Então? Não era contra a Copa do Mundo que as pessoas protestavam?", questionou um deles, soltando uma gargalhada.

A Fifa viveu seu momento mais difícil entre 2013 e 2014 diante dos protestos no Brasil contra a Copa. O impacto das manifestações foi sentido em diversos países e governos europeus optaram por não se candidatar para sediar grandes eventos esportivos, temendo a reação popular. No Comitê Olímpico Internacional (COI), uma reforma foi implementada para tornar os megaeventos mais transparentes.

Mas na Fifa, o sentimento é em parte de revanche e, nos corredores, os ataques contra o País que garantiu a maior renda da história da entidade são explícitos. "A realidade é que o problema é do Brasil, não do futebol", disse um dirigente europeu. "Peguei outro dia o jornal e pensei que estávamos de volta na Copa", brincou Walter de Gregório em relação às fotos que foram capa dos jornais europeus com milhares de pessoas no Rio de Janeiro e São Paulo protestando.

Um dos principais colaboradores de Blatter, também na condição de anonimato, conta que não passa sem ser notada a debilidade da presidente Dilma Rousseff. "Ela fica até quando no poder?", questionou, irônico.

São Paulo - As obras nos estádios da Copa do Mundo não atraíram o interesse de investidores privados como o governo federal imaginava. Apenas 611,6 milhões de reais (ou 7,2% do total) destinados aos empreendimentos vieram da iniciativa privada.É o que mostra a última atualização da Matriz de Responsabilidades do evento, publicada em 24 de dezembro.No total, 8,3 bilhões de reais foram despejados nas construções e reformas das arenas que foram palco dos 64 jogos do mundial.Os governos estaduais e municipais das cidades-sede foram os responsáveis pela maior parte dos investimentos. Juntos, eles desembolsaram R$ 3,9 bilhões com os estádios.Os outros R$ 3,8 bilhões foram custeados com financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).  Apenas 3 estádios tiveram investimentos privados.  O estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF), é o exemplo mais contundente disso. A arena mais cara do Mundial recebeu recursos apenas do poder público local - por meio da Terracap (agência imobiliária pública controlada pelo Distrito Federal e pela União). O custo de todas as obras relacionadas com o Mundial superou  os 27 bilhões de reais. Apenas 15% deste montante foi pago pela iniciativa privada.
  • 2. Estádio Mané Garrincha - Brasília (DF)

    2 /13(Mateus Baeta/ Portal da Copa)

  • Veja também

    EstádioEstádio Nacional de Brasília Mané Garrincha
    LocalBrasília (DF)
    ObjetivoReforma do estádio
    Investimento Global1,403 bilhão de reais
    Financiamento Federal-
    Investimento Governo Local1,403 bilhão de reais
    Investimento iniciativa privada-
  • 3. Estádio do Maracanã - Rio de Janeiro (RJ)

    3 /13(Daniel Brasil/ Portal da Copa)

  • EstádioEstádio Jornalista Mário Filho (Maracanã)
    LocalRio de Janeiro (RJ)
    ObjetivoReforma do estádio
    Investimento Global1,05 bilhão de reais
    Financiamento Federal400 milhões de reais
    Investimento Governo Local650 milhões de reais
    Investimento iniciativa privada-
  • 4. Arena Corinthians - São Paulo (SP)

    4 /13(Ricardo Stuckert/CBF)

    EstádioArena Corinthians
    LocalSão Paulo (SP)
    ObjetivoConstrução do Estádio do Corinthians
    Investimento Global1,08 bilhão de reais
    Financiamento Federal400 milhões de reais
    Investimento Governo Local420 milhões de reais
    Investimento iniciativa privada260 milhões de reais
  • 5. Arena Fonte Nova - Salvador (BA)

    5 /13(Governo Federal/Portal da Copa)

    EstádioEstádio Octávio Mangabeira (Fonte Nova)
    LocalSalvador (BA)
    ObjetivoReconstrução do estádio da Fonte Nova
    Investimento Global689,4 milhões de reais
    Financiamento Federal323,6 milhões de reais
    Investimento Governo Local365,8 milhões de reais
    Investimento iniciativa privada-
  • 6. Estádio Magalhães Pinto (Mineirão) - Belo Horizonte (MG)

    6 /13(Renato Cobucci/ Imprensa MG)

    EstádioEstádio Governador Magalhães Pinto (Mineirão)
    LocalBelo Horizonte (MG)
    ObjetivoReforma e adaptação do Estádio
    Investimento Global695 milhões de reais
    Financiamento Federal400 milhões de reais
    Investimento Governo Local295 milhões de reais
    Investimento iniciativa privada-
  • 7. Estádio Beira-Rio - Porto Alegre (RS)

    7 /13(FIFA via Getty Images)

    EstádioEstádio José Pinheiro Borda (Beira-Rio)
    LocalPorto Alegre (RS)
    ObjetivoReforma do estádio
    Investimento Global366,3 milhões de reais
    Financiamento Federal275,1 milhões de reais
    Investimento Governo Local-
    Investimento iniciativa privada91,2 milhões de reais
  • 8. Arena da Amazônia - Manaus (AM)

    8 /13(Andres Stapff/Reuters)

    EstádioArena da Amazônia Vivaldo Lima
    LocalManaus (AM)
    ObjetivoReconstrução da arena
    Investimento Global660,5 milhões de reais
    Financiamento Federal400 milhões de reais
    Investimento Governo Local260,5 milhões de reais
    Investimento iniciativa privada-
  • 9. Arena Pantanal - Cuiabá (MT)

    9 /13(Edson Rodrigues/ Secopa)

    EstádioArena Pantanal
    LocalCuiabá (MT)
    ObjetivoConstrução
    Investimento Global596,4 milhões de reais
    Financiamento Federal337,9 milhões de reais
    Investimento Governo Local258,5 milhões de reais
    Investimento iniciativa privada-
  • 10. Castelão - Fortaleza (CE)

    10 /13(Marcelo del Pozo/Reuters)

    EstádioEstádio Governador Plácido Castelo (Castelão)
    LocalFortaleza (CE)
    ObjetivoReforma do estádio
    Investimento Global518,6 milhões de reais
    Financiamento Federal351,6 milhões de reais
    Investimento Governo Local167 milhões de reais
    Investimento iniciativa privada-
  • 11. Arena das Dunas - Natal (RN)

    11 /13(Wkimedia Commons)

    EstádioArena da Dunas
    LocalNatal (RN)
    ObjetivoConstrução da arena
    Investimento Global400 milhões de reais
    Financiamento Federal396,6 milhões de reais
    Investimento Governo Local3,4 milhões de reais
    Investimento iniciativa privada-
  • 12. Arena da Baixada - Curitiba (PR)

    12 /13(Maurílio Cheli/ SMCS)

    EstádioEstádio Joaquim Américo Guimarães
    LocalCuritiba
    ObjetivoReforma e ampliação do estádio
    Investimento Global391,5 milhões de reais
    Financiamento Federal131,2 milhões de reais
    Investimento Governo Local-
    Investimento iniciativa privada260,3 milhões de reais
  • 13. Agora veja quais foram as partidas mais caras da Copa

    13 /13(Adrian Dennis/AFP Photo)

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