Bolsonaro diz que governo é a favor de empresas comprarem vacina contra covid
O presidente Jair Bolsonaro deu aval para que um grupo de empresários compre, por conta própria, um lote de 33 mi de doses de vacinas contra covid-19 da AstraZeneca
Reuters
Publicado em 26 de janeiro de 2021 às 11h21.
Última atualização em 26 de janeiro de 2021 às 11h23.
O presidente Jair Bolsonaro confirmou nesta quarta-feira que deu aval para que um grupo de empresários compre, por conta própria, um lote de 33 milhões de doses de vacinas contra covid-19 da AstraZeneca para vacinar seus funcionários e doar a metade para o governo brasileiro.
A proposta partiu de um grupo de empresários que, de acordo com o jornal Folha de S.Paulo, reuniram-se em teleconferência na segunda-feira para definir quem participaria. O grupo Gerdau e a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) estão entre os coordenadores da iniciativa.
"Eu quero deixar bem claro que o governo federal é favorável a esse grupo de empresários para levar avante a sua proposta para trazer vacina para cá a custo zero para o governo federal para imunizar, então, 33 milhões de pessoas", disse Bolsonaro durante uma conferência para investidores organizada pelo Credit Suisse.
"No que puder essa proposta ir à frente, nós estaremos estimulando, porque com 33 milhões de graça aqui no Brasil para nós ajudaria e muito a economia e aqueles que, por ventura, queiram se vacinar --porque a nossa proposta é voluntariado né - o façam para ficar livre do vírus."
Entre as condições para que o governo apoie a proposta Bolsonaro cobrou nos empresários que não obriguem os funcionários a serem vacinados.
Segundo o presidente, o governo foi procurado na semana passada pelos empresários com a proposta de comprar as 33 milhões de doses e doar a metade, 16,5 milhões, ao governo. O restante seria usado para vacinar os funcionários das empresas que se dispuserem e entrar no acordo.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, também defendeu a proposta afirmando que a ajuda ao governo será bem-vinda e que não se pode considerar a compra uma questão de "furar-fila".
O governo já enviou uma carta à AstraZeneca dando o aval para a negociação. O laboratório, no entanto, tem tido dificuldades de cumprir contratos já assinados. Ainda não conseguiu entregar à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que irá preparar a vacina no Brasil, os lotes de insumos programados para março e avisou a União Europeia que também não conseguirá cumprir os prazos acertados em contrato para entrega aos países europeus.
O governo brasileiro também negocia a compra de mais 10 milhões de doses prontas do instituto indiano Serum, que está produzindo a vacina da AstraZeneca, mas a previsão de entrega é apenas para o final de fevereiro.
Defesa do teto, agenda de privatizações e reformas
O presidente da República, Jair Bolsonaro, fez uma defesa nesta terça-feira, 26, de temas que têm gerado preocupação de empresários e investidores quanto às ações do governo para a retomada econômica com responsabilidade fiscal, como o respeito ao tetos de gastos (a regra que impede que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação), a agenda de privatizações e o andamento de reformas fiscais.
"No âmbito fiscal, manteremos firme compromisso com a regra do teto de despesas como âncora de sustentabilidade e de credibilidade econômica. Não vamos deixar que medidas temporárias relacionadas com a crise se tornem compromissos permanentes de despesas. Nosso objetivo é passar da recuperação baseada no apoio ao consumo para o dinamismo do setor privado", afirmou o presidente, em discurso lido, durante evento promovido pelo banco Credit Suisse sobre investimentos promovidos na América Latina.
Com a fala, Bolsonaro contrapõe o pânico criado no mercado financeiro na semana passada, quando o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato do Palácio do Planalto ao comando do Senado, sinalizou em entrevista ao Estadão/Broadcast com uma possível revisão da regra criada no governo do ex-presidente Michel Temer em 2017, ao dizer que o teto não é "intocado".
Reformas
O presidente reforçou ainda o apoio à tramitação de reformas econômicas, paradas no Congresso Nacional. "Vamos avançar na tramitação de propostas das reformas fiscal, tributária e administrativa em parceria com o Congresso Nacional e a sociedade brasileira", disse.
O governo enviou no ano passado a proposta de reforma administrativa - que reestrutura o RH do Estado, com mudanças na forma como os servidores são contratados, promovidos e demitidos - e a primeira parte da reforma tributária, com a unificação do PIS/Cofins. Antes, em 2019, já tinha enviado três propostas de emenda à Constituição (PECs) com medidas para desengessar o Orçamento público e redistribuir as verbas com Estados e municípios.
Privatizações
Um dia após a saída de Wilson Ferreira Júnior do comando da Eletrobras pela dificuldade do governo em aprovar a privatização da estatal no Congresso, o presidente disse que o governo pretende acelerar leilões de concessões e privatizações. Nos dois primeiros anos, segundo ele, foram incluídos 65 projetos no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), um dos primeiros passos para os leilões.
Bolsonaro defendeu também "regulamentos mais simples" e "menos onerosos" a fim de garantir a admissão do País na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo o presidente, "meta prioritária da política externa brasileira".
Estiveram ao lado do presidente durante a transmissão, o chanceler Ernesto Araújo e o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Segundo o presidente, a economia deve crescer 3,5% em 2021. "Apesar da covid, mantemos compromisso com empreendedores, investidores e empregados."