BNDES não pode desfazer o que o Banco Central faz, diz economista
Pesquisador da FGV diz que a capitalização do BNDES pode pressionar a economia no sentido contrário ao desejado pelo BC
Da Redação
Publicado em 2 de março de 2011 às 21h32.
São Paulo - Em seus esforços para conter o avanço da inflação, o Banco Central (BC) pode encontrar pela frente um indesejado antagonista, criado pelo próprio governo. Para o economista e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas Fernando de Holanda Barbosa, a capitalização do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode produzir efeitos contrários aos conseguidos com o aumento da taxa Selic. Nesta quarta-feira (2) o BC elevou o juro em 0,5 ponto percentual, para 11,75% ao ano.
Em fevereiro, o Tesouro Nacional anunciou um aumento de capital de até 6,4 bilhões de reais para o BNDES. A medida amplia a capacidade da instituição de conceder empréstimos, ou seja, aquece a economia, e pode pressionar os índices de inflação. "Dar mais recursos ao BNDES expande a demanda agregada, enquanto o BC tenta fazer justamente o contrário ao aumentar os juros, e isto não pode acontecer. É preciso tomar cuidado", diz o economista.
O pesquisador enfatiza que, para que a atuação do governo seja completa no controle da inflação, é necessário que haja maior empenho no corte de gastos. "Já foi anunciado um corte de 50 bilhões de reais, mas a política fiscal poderia ser ainda mais intensa."
Harmonia
Para o presidente do conselho do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP), Keyler Carvalho Rocha, cautela foi a palavra de ordem da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira (2). "Foi a decisão correta. Não faria sentido aumentar mais os juros agora, pois isto poderia provocar um desaquecimento excessivo da economia", afirma.
Segundo Rocha, o aumento dos juros foi feito em harmonia com as outras decisões da equipe econômica do governo Dilma. Dentre elas estão as medidas macroprudenciais, anunciadas no fim de dezembro de 2010 pelo BC, e o corte de 50 bilhões de reais no orçamento da União, prometido pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento.
Na opinião do presidente do IBEF-SP, é provável que ainda haja mais dois aumentos da taxa Selic nas próximas reuniões do Copom. "O BC vai observar os efeitos desta alta, mas, a princípio, a Selic deve chegar a 12,5% ao ano ainda em 2011."