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Blairo Maggi: motosserra, agrotóxico e eficiência

O novo ministro da Agricultura, da Pecuária e do Abastecimento, o agrônomo Blairo Maggi, de 60 anos, tem o desafio de comandar o setor que responde a quase 30% do PIB brasileiro. Experiência não falta. O ministro é sócio do Grupo Amaggi, uma das maiores produtoras de soja no Brasil. Com a alcunha de “Rei […]

BLAIRO MAGGI: “o momento é de não só criar novos mercados, mas consolidar os que já temos” / Elza Fiuza/Agência Brasil
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Da Redação

Publicado em 8 de julho de 2016 às 19h39.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h04.

O novo ministro da Agricultura, da Pecuária e do Abastecimento, o agrônomo Blairo Maggi, de 60 anos, tem o desafio de comandar o setor que responde a quase 30% do PIB brasileiro. Experiência não falta. O ministro é sócio do Grupo Amaggi, uma das maiores produtoras de soja no Brasil. Com a alcunha de “Rei da Soja”, Blairo tem um perfil polêmico: já foi odiado por ambientalistas, ao redigir projetos como a PEC/65, que modifica o licenciamento ambiental, e parabenizado também, ao reduzir o desmatamento no Mato Grosso, durante seu mandato de governador, entre 2003 e 2010. A partir de 2011, Maggi, filiado ao Partido Progressista, é senador. Em entrevista a EXAME Hoje, o ministro falou sobre seus planos para o agronegócio brasileiro e as polêmicas e os desafios na área ambiental.

O senhor tem uma longa carreira como empresário do agronegócio e, agora, está tendo a oportunidade de definir diretrizes para o setor. Qual será o foco da gestão?
O foco vai ser sempre buscar eficiência e redução de custos. Estamos trabalhando para aumentar o número de produtos licenciados à disposição do produtor rural e revisando decretos e normas que só burocratizam e aumentam os custos. Um exemplo é a divisão de agroquímicos e herbicidas que vão para a lavoura: hoje, há produtos que são permitidos para algumas culturas e vetados a outras. Buscamos uma harmonização na legislação que facilite a vida e aumente a receita do produtor.

Em 2005, o senhor recebeu do Greenpeace o Troféu Motosserra de Ouro, numa época de grave desmatamento no estado do Mato Grosso. Dez anos depois, como o senhor avalia a influência desse fato na sua carreira?
É importante separar duas coisas aqui. Uma é o empresário Blairo Maggi, que tem suas empresas e sua família, e que sempre pautou seus negócios dentro da legislação ambiental. Quando eu assumi o governo do Mato Grosso, o estado desmatava mais de 1 milhão de hectares por ano. Eu não era responsável por nada disso. Quem levou aquele troféu foi o governador Blairo Maggi, não o empresário Blairo Maggi. Depois dessa ação do Greenpeace, eu disse aos produtores que tínhamos que fazer uma mudança, que estávamos impedidos de continuar como estávamos, especialmente frente ao mercado internacional, que é muito rigoroso e sensível em relação a essa questão. Na época, criamos o programa “MT Legal”, que foi precursor do Código Florestal e conseguimos reduzir drasticamente o desmatamento. Aquela ação do Greenpeace serviu como um alerta e eles mesmos me visitaram depois e me presentearam com uma caixa de bombons de cupuaçu, porque foi feito o que eles queriam e o que eu queria também. Para continuar crescendo, é preciso cuidar do meio ambiente. Não aceito sozinho aquele trófeu, mas não aceito sozinho também a vitória.

A questão do desmatamento é um problema diretamente relacionado ao agronegócio no Brasil – e a meta para desmatamento zero é longínqua, apenas para 2030. O seu ministério está traçando alguma parceria com o ministério do Meio Ambiente para acelerar esse plano?
O ministério da Agricultura sempre defendeu o uso das terras com base no que é permitido pela legislação. Está prevista a utilização de 20% de áreas de floresta, 65% das áreas de cerrado e 80% das terras do sul do país. Nós trabalhamos dentro dessa cota e vamos continuar assim. Temos um uso de solo muito pequeno para a agricultura. O Brasil ainda tem 68% de suas terras preservadas em estado original, e apenas 8% do território é usado para a agricultura, enquanto 21% é ocupado por pastagens, para a pecuária. Então, o que a gente quer alcançar é um ganho para a agricultura sobre essas áreas de pasto.

O senhor é um dos propositores da PEC/65, que impede a suspensão de obras após a realização do Estudo de Impacto Ambiental. O projeto é amplamente criticado por ambientalistas, que alegam que deixarão de existir partes importantes do licenciamento. Essa polêmica dificulta sua gestão?
Tem muita informação errada sendo veiculada em relação a esse projeto do qual eu fui relator, e não autor. Ninguém suprimiu nenhum estágio de licenciamento. A proposta prevê apenas que, uma vez dada a licença ambiental pelo órgão ambiental competente, as obras não possam ser suspensas. Porque, hoje, o mesmo órgão ambiental que te dá a licença, pode tirar a qualquer momento, inclusive por influências políticas – e isso gera um atraso muito grande nas obras de infraestrutura. Mas não precisamos mais falar dessa PEC. Em breve, o ministério do Meio Ambiente vai apresentar uma nova forma de fazer licenciamento ambiental, que já tenta minimizar esses problemas. Está no forno, já para sair.

A União Europeia tem feito frequentes debates sobre o glifosato, herbicida largamente utilizado no Brasil e considerado possivelmente cancerígena. Aqui, o Ministério Público Federal pede que a substância seja banida das lavouras. O que o senhor acha desse debate?
O Brasil é o país que mais faz uso da substância porque é um dos poucos países do mundo que possui grandes lavouras em clima tropical. Nossa agricultura sofre muita pressão das pragas, devido à alta temperatura e à umidade. Então, hoje, o glifosato é fundamental para o controle de ervas daninhas e, se ele for eliminado do nosso mercado, será um problema muito sério para a alimentação do brasileiro. Com certeza, nós não conseguiríamos fazer duas safras por ano, como fazemos, pois teríamos que voltar ao sistema tradicional de agricultura, fazendo aragem. Seria um grande retrocesso.

Mas o glifosato é mais usado nas monoculturas, que possuem sementes transgênicas resistentes à substância, do que na produção de alimentos. Certo, mas é um erro dizer que a soja não garante a alimentação. Hoje, só é possível consumir frango no Brasil porque há soja. Suínos, presuntos, embutidos é a mesma coisa. É ela que sustenta a cadeia de produção animal. Você não vai comer cachorro-quente na esquina se não tiver soja e milho.

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Uma das primeiras medidas da sua gestão foi permitir a importação do feijão, para possibilitar uma redução de preços. Esse tipo de medida não pode prejudicar os produtores locais?
Autorizamos a importação do feijão por 90 dias e, ao fim desse prazo, já teremos uma nova safra plantada aqui no Brasil. O feijão, diferentemente de outras culturas, tem três safras por ano. E o nosso mercado tem uma margem bem estreita em relação ao que se produz e se consome no país. Além disso, o feijão não pode ser estocado porque, em poucos meses, ele mancha e estraga e não dá para vender feijão velho. Este ano, tivemos uma quebra de 10% na safra e isso foi o suficiente para ter esse aumento tão significativo no preço. Com a possibilidade de trazer feijão da Argentina e do México, esperamos conseguir regular o preço de imediato e, como a medida é de curto prazo, não deve incomodar o produtor. Se fosse uma política de longo prazo, permitindo a entrada de grandes volumes, aí sim seria um problema, mas não é o caso.

O senhor tem feito frequentes viagens ao exterior. Qual a estratégia que o Brasil quer traçar junto a outros países?
O Brasil é um grande produtor de alimentos e, para entrar em outros países, temos mostrar que atendemos às mais altas expectativas. O mundo hoje praticamente não tem barreiras fiscais, o desafio são as barreiras fitossanitárias. E o Brasil é um país muito responsável nessa questão, com um sistema muito bom de monitoramento. A qualidade e a quantidade do produto brasileiro são reconhecidas e o momento é de não só criar novos mercados, mas consolidar os que já temos. A China continua e continuará sendo um parceiro muito importante. A desaceleração que o país vive não significa a desaceleração da comida que os chineses consomem. É muito diferente falar de commodities minerais e agrícolas. As pessoas continuam levantando pela manhã e fazendo três refeições por dia. Tanto que nosso comércio com eles se mantém forte.

O senhor anunciou que vai manter a taxa de juros para a safra 2016-2017. Qual o principal objetivo com essa medida?
A agricultura não suporta juros muito altos. Como eu disse, as pessoas ainda precisam se alimentar todos os dias. E, com os juros lá em cima, o preço vai ficar muito caro, vai gerar inflação e vai pesar no bolso do consumidor. A minha posição neste momento é de garantir pelo menos que não haja aumento. Os agricultores queriam taxas ainda mais baixas de juros. Hoje, eles estão na casa dos 8-9%, o que ainda inviabiliza investimentos de longo prazo. O que eu estou defendendo junto ao ministério da Fazenda e do Planejamento é que tenhamos pelo menos um incentivo para conseguir fazer esse tipo de financiamento. Hoje, por enquanto, estamos focando em investimentos apenas de custeio.

O agronegócio está de fato imune à crise?
O setor vive um momento de preocupação em função de clima. Estamos num momento bom, com preços bons e alta tecnologia, mas o clima tem preocupado. Não a ponto de estar quebrando a produção. Não é à toa que a agropecuária é hoje o setor que gera saldo para a balança comercial brasileira.

(Camila Almeida)

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