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Efeito de crise Bebianno não deve passar tão cedo para Bolsonaro

A interferência de Carlos Bolsonaro escancarou fragilidades no governo Bolsonaro e aproximou presidente da crise envolvendo Bebianno

Bolsonaro: conflito com ministro pode interferir em aprovações no Congresso (Adriano Machado/Reuters)

Bolsonaro: conflito com ministro pode interferir em aprovações no Congresso (Adriano Machado/Reuters)

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Clara Cerioni

Publicado em 15 de fevereiro de 2019 às 18h16.

Última atualização em 18 de fevereiro de 2019 às 15h20.

São Paulo — A manutenção de Gustavo Bebianno como ministro da Secretaria-Geral da Presidência pode não ser suficiente para estancar uma possível desconfiança do Congresso frente ao governo federal. Com isso, a crise preconizada por Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, ainda tem potencial para dificultar os planos de aprovar reformas prioritárias para o país, segundo especialistas ouvidos por EXAME.

Eduardo Grin, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que a situação específica de Bebianno — que é acusado de envolvimento em um esquema de candidatos laranjas — não teria se transformado na maior crise do governo, em 45 dias de gestão, se o modus operandi de contornar as denúncias não tivesse saído da esfera institucional.

"O filho do presidente divulgou um áudio privado nas redes sociais, chamando um ministro do governo federal de mentiroso. Como os outros ministros se sentirão agora? Isso, com certeza, vai fragilizar o apoio dos aliados, que criarão estratégias de defesa para não serem os próximos", diz.

As movimentações nas redes sociais confirmam essa hipótese. Levantamento da empresa de análise digital AP/Exata, a pedido da reportagem, mostra que as reações envolvendo o caso cresceram 35 vezes depois da publicação feita por Carlos, na quarta-feira (13). Até a divulgação do áudio e das acusações, havia 525 tuítes com menções ao nome "Bebianno". No dia em que o vereador carioca fez a publicação, a quantidade saltou para quase 18 mil.

"O que interpretamos com essa nova crise é que o filho do presidente jogou a situação para o próprio Bolsonaro. Se ele não tivesse feito isso, provavelmente a discussão teria ficado na esfera do partido", explica Sergio Denicoli, diretor da AP/Exata.

Para a pesquisa, a empresa analisou quase 19 mil tuítes, entre os dias 9 e 15 de fevereiro, em 145 cidades do país.

Para Grin, essa não seria nem de longe uma crise, frente a tantas soluções que o governo precisa encontrar para o país. "O problema paralisou o governo e está consumindo um enorme tempo com questões absolutamente secundárias. Outros governos já tiveram os mesmos problemas, mas decidiram por respeitar a liturgia e demitir o ministro sem fazer tanto alarde", afirma.

Na visão de Thiago Vidal, gerente de análise política da consultoria Prospectiva, a reação de membros do alto escalão do governo, de militares e até do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, no sentido de defender a permanência de Bebianno no cargo teve, em última instância, o propósito de proteger os protocolos que sustentam as bases de diálogo com o Congresso.

"É um rito que leva as negociações. O Congresso precisa ter um mínimo de compreensão e previsibilidade sobre as bases em que o governo articula. A partir do momento em que os filhos do Bolsonaro passam por cima desses ritos quem garante que as promessas serão cumpridas?", afirma o especialista. 

Para Marcelo Issa, diretor do Pulso Público, com o episódio, o governo fica fragilizado nas negociações com o Congresso Nacional e a permanência do ministro não resolve a crise. "As denúncias continuam sem explicações plausíveis, não há contestação para estancar a crise e a capacidade do governo para compor a base de apoio no Congresso fica fragilizada", explica.

O que recai sobre Bebianno

Desde o último domingo, quando o jornal Folha de S.Paulo revelou um esquema envolvendo candidaturas laranjas no PSL, o futuro do ministro no governo estava incerto.

Bebianno era o presidente do partido na época dos repasses. As suspeitas recaem principalmente em uma candidata de Pernambuco que recebeu do partido 400 mil reais de dinheiro público.

Maria de Lourdes Paixão, 68 anos, virou candidata de última hora para preencher vaga remanescente de cota feminina. Ela gastou 95% do dinheiro em uma única gráfica para a confecção de 9 milhões de santinhos e 1,7 milhão de adesivos.

Há, ainda uma segunda suspeita que recai sob Bebianno. Ele liberou, também durante o período eleitora, 250 mil reais de verba pública, para a campanha de uma ex-assessora Érika Siqueira.

Ela repassou parte do dinheiro para a mesma gráfica usada por Maria de Lourdes, que não tem maquinário para impressões em massa.

Uma outra reportagem da Folha, mostra que a empresa pertence a um membro do diretório estadual do PSL em Pernambuco e recebeu, ao todo, R$ 1,23 milhão dos fundos eleitoral e partidário.

Entenda o que gerou a crise

Questionado sobre sua permanência no cargo, o ministro da Secretaria-Geral de Governo respondeu que tinha conversado com o presidente em três momentos na última terça-feira (12). No Twitter, Carlos Bolsonaro disse que a versão era “uma mentira absoluta” e, em seguida, postou um áudio de uma conversa do presidente com seu ministro.

O caso gerou reações do alto escalão do governo, dos militares e até do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que defenderam a permanência do ministro. No fim da manhã, Bebianno foi informado por Onix Lorezoni de que permaneceria no governo.

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