Bastidor: queda na popularidade pressiona Lula por reforma ministerial e “cavalo de pau do governo”
Nesse contexto, o deputado federal e presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), é cotado para assumir uma pasta na Esplanada dos Ministérios
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 12 de novembro de 2024 às 14h51.
Última atualização em 12 de novembro de 2024 às 16h54.
A queda de oito pontos percentuais na popularidade do governo desde janeiro adiciona ainda mais pressão para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faça uma reforma ministerial, afirmaram à EXAME auxiliares do chefe do Executivo. A avaliação interna entre auxiliares de Lula é a de que o governo precisa dar um “cavalo de pau” na articulação política, na comunicação e atrair tanto o Centrão quanto os evangélicos para as bases de apoio.
A avaliação interna é de que essas mudanças serão necessárias para pavimentar o caminho de Lula para a reeleição em 2026. A leitura até aqui é de que esse processo não será fácil e, além de se reaproximar do Centrão, o governo terá de entregar resultados positivos nas políticas públicas voltadas para a classe média, sem deixar de assistir os eleitores mais carentes.
Por isso, além de cortar gastos, Lula queraumentar a isenção de Imposto de Renda para trabalhadores com renda de até R$ 5.000, estuda apoiar o fim da jornada de trabalho de seis dias de trabalho e um de descanso, além de cortar benefícios fiscais dos empresários.
A avaliação entre os auxiliares de que é os antigos programas sociais, como o Bolsa Família, não têm efeito eleitoral como no passado. Com o eleitorado já acostumado com esses benefícios, o governo Lula 3 ainda não tem uma marca. Com isso, será necessário maior aproximação com partidos de centro para viabilizar a reeleição de Lula.
Nesse contexto, o deputado federal e presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), é cotado para assumir uma pasta na Esplanada dos Ministérios. O partido é o braço político da Igreja Universal e Pereira se reaproximou do Planalto no processo de negociação para se viabilizar para a presidência da Câmara dos Deputados. Com a desistência, que abriu espaço para a candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB), a legenda deve ganhar mais espaço no governo.
Auxiliares de Lula avaliam que Pereira se encaixa no perfil de representante dos evangélicos e ainda tem forte controle do partido, o que favorece uma maior fidelidade da bancada ao governo.
Segundo auxiliares de Lula, o interesse do partido, de Pereira e da Universal é no Ministério das Comunicações, responsável pelo processo de concessões e renovações de rádios e TVs no Brasil.
Caso assuma a pasta, o Republicanos terá um pé no governo petista e outro no governo de São Paulo, de Tarcísio de Freitas (Republicanos). "Nos Estados Unidos isso seria impensável, mas no Brasil é normal", resumiu um assessor do presidente da República.
Articulação política
Para a articulação política, o mais cotado para assumir a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República é o atual ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, como mostrou à EXAME.
Silveira, que preside o PSD em Minas Gerais, se fortaleceu politicamente com a vitória de Fuad Noman para prefeitura de Belo Horizonte, além de ter excelente relação com o presidente da República e com as principais lideranças do Congresso.
Segundo fontes do governo, ele está focado na reforma do setor elétrico, em propostas para garantir a segurança energética do país e para reduzir o custo da energia para os consumidores.
Além disso, outra missão dada por Lula a Silveira foi ofertar gás para 21 milhões de famílias de baixa renda. O governo federal pretende distribuir botijões de gás para 20 milhões de famílias de baixa renda até 2026. O plano faz parte do programa Gás Para Todos, que vai substituir o atual Auxílio Gás, e deve ter orçamento de R$ 13,6 bilhões, quando estiver plenamente aplicado.
Apesar das missões em curso, auxiliares do presidente afirmaram que um pedido direto de Lula para que Silveira assuma a coordenação política tem um peso significativo."Não se nega um pedido do presidente", resumiu um auxiliar de Lula.
O eventual deslocamento de Silveira para a coordenação política abriria espaço para que o MME fosse comandado por um indicado do PSD ou de outro partido do Centrão. Em outros governos petistas, a pasta era reduto do MDB, que tem interesse no posto. Entretanto, essa acomodação política também levará em conta o processo sucessório na Câmara dos Deputados e no Senado.
Centrão na Esplanada
O principal alvo do Centrão é o Ministério da Saúde, que deve ir para o PP.O atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é cotado para a pasta. O eventual embarque de Lira no governo garantiria apoio político na Câmara e seria um forte golpe no partido comandado pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), aliado de primeira hora do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Próxima da primeira-dama, Janja Lula da Silva, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, tem sido alvo de fogo-amigo, especialmente sobre a relação distante que mantém do Congresso.
Mudanças na Secom e na Secretaria-Geral
Outras duas mudanças são consideradas por Lula em fevereiro: na Secretaria de Comunicação da Presidência da República e na Secretária-Geral da Presidência da República.
Os titulares das pastas, Paulo Pimenta e Márcio Macedo, voltariam para a Câmara dos Deputados e dois petistas assumiriam os postos. Os nomes de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, e do deputado federal Rui Falcão são cotados para a Secretaria-Geral. Para a Secom, Lula ainda não escolheu o substituto.