Plenário da Câmara dos Deputados (Adriano Machado/Reuters)
Alessandra Azevedo
Publicado em 8 de janeiro de 2021 às 18h58.
A disputa pela presidência da Câmara, a ser decidida em fevereiro, está entre Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP), dois deputados de centro e com históricos de votação muito parecidos no plenário. O cargo não poderia ser mais cobiçado. O presidente da Câmara não só é o segundo na linha sucessória da Presidência da República, substituindo o chefe do Executivo quando ele e o vice estão ausentes, como também é o responsável por definir o que entra em pauta na Casa.
A diferença entre eles não é tanto em relação ao tipo de matéria apoiada por cada um, já que ambos têm histórico de votos muito parecido — os dois votaram a favor de pautas como reformas da Previdência e trabalhista, por exemplo. A consultoria Arko Advice fez um levantamento que mostra que Baleia votou com o Planalto em 90,24% das propostas em 2019 e em 77,82%, em 2020. Mais até do que Lira, que foi com o governo 86,29% das vezes 2019 e 70,59% nas votações no ano passado.
O histórico deles no plenário, portanto, mostra mais semelhanças do que divergências. Já o tom das campanhas para a presidência da Câmara é bem diferente. A começar pelo foco das mensagens. Enquanto Baleia fala para a sociedade, com discursos voltados a pautas e promessas de um ambiente livre de interferências indevidas do Executivo, Lira conversa diretamente com os deputados.
Os discursos dos dois, nos lançamentos das respectivas candidaturas, deixa clara a diferença entre eles. Ao lado de lideranças variadas, de esquerda a direita, Baleia falou sobre reformas, auxílio emergencial, retomada econômica e vacinação universal e gratuita. Lira, cercado basicamente de líderes do Centrão, afirmou que vai distribuir relatorias importantes de forma justa e garantiu que todos os deputados terão espaço na Câmara. As discussões, no entanto, ainda estão começando.
Arthur Lira (PP-AL)
Conhecido pela atuação nos bastidores, Arthur Lira, 51 anos, é o líder do PP e do Centrão na Câmara. Ele completa, neste ano, uma década como deputado federal. Nome que representa o Palácio do Planalto na disputa pela presidência da Câmara, Lira tem a fama de ser um parlamentar de palavra, que cumpre os acordos que faz. Alguns deputados o comparam com o ex-deputado Eduardo Cunha, pelo intenso conhecimento e uso do regimento interno.
Em 2016, Lira votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e contra a cassação do mandato de Cunha, por ter se beneficiado da presidência do deputado. Em 2015, foi presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), uma das mais importantes da Câmara. Ele também presidiu, no ano seguinte, a Comissão Mista de Orçamento (CMO), colegiado essencial e muito cobiçado, por onde passa o Orçamento anual do governo.
A aproximação de Lira com o governo Bolsonaro foi intensificada em 2020, quando o presidente se aproximou dos parlamentares do Centrão e ofereceu cargos no Executivo, em troca de apoio no Legislativo, inclusive para barrar um eventual andamento de pedido de impeachment. A partir de então, Lira passou a ser um dos maiores responsáveis pela articulação política do Planalto com os deputados, mesmo não sendo líder do governo.
A vida política de Lira começou aos 23 anos, quando ele foi eleito vereador em Maceió e permaneceu na Câmara Municipal por dois mandatos. À época, ele pertencia ao PFL, atual DEM. Em seguida, cumpriu três mandatos consecutivos como deputado estadual em Alagoas. Em 2011, quando já era filiado ao PP, passou a atuar como deputado federal pela primeira vez.
O Centrão, grupo que hoje ele lidera, é formado por PL, PP, PSD, Solidariedade e Avante e conta com 135 deputados. Além desses partidos, Lira tem o apoio do Patriota, do PSC, do Republicanos e do Pros. No total, 196 deputados fazem parte do bloco. No discurso de lançamento da candidatura, Lira afirmou que "quem não cumpre acordo não gera credibilidade" e se comprometeu com a manutenção do teto de gastos.
Baleia Rossi (MDB-SP)
No segundo mandato de deputado federal, aos 48 anos de idade, Baleia Rossi é presidente nacional do MDB e, até antes de se lançar candidato, era líder do partido na Câmara. Nome apoiado e indicado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Baleia tem perfil conciliador e se coloca como uma opção disposta a manter o legado de independência da Câmara, sem amarras com o Executivo. Um de seus padrinhos políticos é o ex-presidente Michel Temer (MDB).
Nascido em São Paulo, Baleia começou a carreira política em Ribeirão Preto, como vereador, em 1992. Foi com a ajuda de Ulysses Guimarães, então deputado federal, que ele se cacifou para o cargo, aos 20 anos de idade. Além disso, a política já vinha de família. O pai, ex-deputado federal Wagner Rossi, foi ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT), entre 2010 e 2011.
Antes de chegar à Câmara dos Deputados, em 2014, Baleia foi deputado estadual por três mandatos em São Paulo. O primeiro, em 2002. Agora, na tentativa de se tornar presidente da Câmara, ele sofreu resistências para conseguir o apoio de legendas da oposição ao seu bloco, por ter votado a favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em 2016. Outro fato que pesou foi a proximidade com Temer, que era também muito amigo de Wagner Rossi.
Mas, para conseguir se fortalecer na disputa pela presidência da Câmara, Baleia precisou contar com a ajuda de partidos de esquerda. Por enquanto, quase todos da oposição se uniram ao bloco dele, apesar das divergências, para evitar a vitória de um candidato bolsonarista, representado por Arthur Lira. PT, PCdoB, PDT, PSB e Rede estão no grupo.
O bloco também está otimista com o posicionamento contrário à candidatura de Lira por parte dos deputados do PSol, embora não tenham se unido a Baleia, o que, entretanto, ainda não está descartado. Outras legendas que estão com o emedebista são PSL, MDB, PSDB, DEM, Cidadania e PV. São, em tese, 278 parlamentares, contando os deputados com mandato suspenso.
A eleição para a Mesa Diretora acontece a cada dois anos, em 1º de fevereiro. Em 2020, o STF proibiu a recondução ao cargo mesmo em legislaturas diferentes, o que impediu a manutenção de Rodrigo Maia (DEM-RJ), na Câmara, e de Davi Alcolumbre (DEM-AP), no Senado. A partir de então, começaram as buscas por sucessores.
Para vencer o pleito, é preciso conquistar 257 votos. Ou seja, apoio da maioria simples do plenário: metade dos 513 deputados mais um. Se não atingir esse número no primeiro turno, os dois mais votados vão para uma segunda rodada. A votação, nos dois turnos, é secreta, o que abre brecha para que os deputados votem em desacordo com os partidos sem nenhum tipo de represália ou punição.