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As batalhas que Joaquim Levy perdeu em 9 meses na Fazenda

Fragilizado por sucessivas derrotas, ministro da Fazenda cancela viagem para participar de reunião do G-20

Joaquim Levy: considerado a salvação da economia, ministro da Fazenda está cada vez mais isolado no governo (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Talita Abrantes

Publicado em 3 de setembro de 2015 às 18h16.

São Paulo – Quando o nome do carioca Joaquim Levy foi confirmado para o Ministério da Fazenda no final de novembro passado, o mercado ficou empolgado. Especialista em contas públicas e apelidado de “Joaquim Mãos de Tesoura” por razões óbvias, o ministro parecia ter todos os requisitos necessários para colocar a casa em ordem.

No entanto, para muitos analistas, Levy – de orientação liberal - corria o risco de “virar um estranho no ninho” diante de uma equipe econômica formada majoritariamente por desenvolvimentistas – incluindo a própria presidente.

Nove meses depois, as “profecias” se concretizaram. Fragilizado por sucessivas derrotas, o ministro da Fazenda parece a cada dia mais isolado dentro do governo.

As quedas de braço de Levy com o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, são conhecidas – bem como as derrotas do chefe do Ministério da Fazenda.

Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, ele teria sinalizado à presidente Dilma Rousseff e ao vice, Michel Temer, que, sem apoio, sua permanência no cargo estaria em risco.

Hoje, Levy cancelou ida a encontro de ministros do G-20 na Turquia para se reunir com a presidente, Barbosa e com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Após a reunião, Mercadante afirmou que o ministro da Fazenda permaneceria no cargo.

No início da tarde, a presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO), senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), afirmou que “seria muito bom para o Brasil (...) que os dois ministros estivessem se entendendo”. Ela, provavelmente, não é a única a defender isso.

Veja, abaixo, as principais derrotas de Levy desde que assumiu o Ministério da Fazenda.

O tamanho do corte do Orçamento 2015

A decisão sobre quanto seria cortado do Orçamento de 2015 foi a primeira grande derrota de Levy desde que passou a fazer parte do alto escalão do governo.

O ministro da Fazenda defendia um bloqueio de 70 bilhões a 80 bilhões de reais nas verbas da União. Seu colega Nelson Barbosa, do Planejamento, pregava uma tesourada menor. Prevaleceu a segunda proposta. Em maio, o governo anunciou o corte de 69,9 bilhões de reais do orçamento deste ano.

Barbosa apresentou o plano sozinho – Levy não apareceu na coletiva de imprensa por questões de saúde. Há relatos de que a conversa entre os dois pouco antes do anúncio teria sido dura.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy (E), e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa (Ueslei Marcelino/Reuters)

De fato, o ministro da Fazenda estava gripado no dia do anúncio, mas vale lembrar que, em junho, o diagnóstico de embolia pulmonar não o impediu de acompanhar Dilma Rousseff em viagem aos Estados Unidos.

A redução da meta fiscal

Em julho, governo optou por cortar a meta do superávit primário de R$ 66,3 bilhões para R$ 8,747 bilhões. Temendo os efeitos negativos da medida para a reputação do país no mercado, Levy queria adiar a redução da meta fiscal. Novamente, não foi ouvido.

O pagamento de metade do 13º salário dos aposentados

Diante do aperto nas contas do governo, o ministro da Fazenda se recusou a assinar o adiantamento do 13º salário dos aposentados. Segundo ele, não havia dinheiro suficiente para os repasses. A decisão – que veio à tona nas vésperas dos protestos contra o governo em agosto – gerou atritos entre Levy e o ministro da Previdência Social , Carlos Gabas.

Uma semana depois, Levy defendeu que o adiantamento fosse parcelado em duas vezes. Mas foi novamente vencido. Dilma Rousseff determinou que os aposentados recebessem metade do 13º em setembro.

Veja também

O déficit do orçamento de 2016

A proposta do ministro da Fazenda seria cortar 15 bilhões de reais do Orçamento do ano que vem, segundo o jornal O Estado de S. Paulo. Para evitar umapossível perda no grau de investimento, Levy teria defendido também que o texto não escancarasse o déficit primário.

Aconteceu o oposto: o projeto apresentado na segunda-feira admite que o governo vai gastar R$ 30,5 bilhões a mais do que irá arrecadar.

* Atualizado às 18h para incluir o posicionamento do ministro da Casa Civil sobre o assunto.

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