Sergio Moro fala na Câmara sobre mensagens vazadas
Durante sua exposição inicial, o ministro voltou a afirmar que não reconhece as mensagens atribuídas a ele e divulgadas pelo site The Intercept Brasil
Clara Cerioni
Publicado em 2 de julho de 2019 às 14h22.
Última atualização em 2 de julho de 2019 às 21h44.
São Paulo — O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro , participou nesta terça-feira (02) de uma audiência na Câmara dos Deputados para falar sobre as mensagens trocadas entre ele e os procuradores da Operação Lava Jato, divulgadas desde junho pelo site The Intercept.
Na semana passada, o ministro adiou sua participação por conta de uma viagem que fez aos Estados Unidos. Hoje, ele fala aos parlamentares fortalecido após a série de protestos que aconteceu no último domingo (30) em seu apoio e da Lava Jato.
Na sessão desta tarde Moro foi ouvido por três comissões da Câmara: a deConstituição e Justiça, a de Trabalho e a de Direitos Humanos.
Durante sua exposição inicial, o ministro voltou a afirmar que não reconhece as mensagens atribuídas a ele e divulgadas pelo site. O ex-juiz disse que entregou seu aparelho celular à perícia da Polícia Federal e afirmou ter sido alvo de uma "organização criminosa criada para prejudicar a Operação Lava Jato".
"Não reconheço essas mensagens. Pode ser que alguma seja. Pode ser que elas tenham sido totalmente alteradas ou parcialmente. Não tenho como precisar", afirmou o ministro.
Mororepetiu parte da defesa que fez em audiência no Senado. Ele afirmou que quem invadiu o seu aparelho celular e de membros da Operação Lava Jato tinha "recursos" e organização.
"A minha opinião informal é que alguém com muitos recursos está por trás dessas informações e o objetivo principal é invalidar decisões da Lava Jato e impedir novas investigações", afirmou o ministro descartando "fogo-amigo": "Foi aventado que um procurador da República insatisfeito teria feito isso, mas isso não é consistente".
O ministro não descartou a possibilidade de ter mensagens verdadeiras entre as que estão sendo divulgadas, mas voltou a repetir que "não há como ter certeza" sobre a total veracidade dos textos.
Moroafirmou ainda que é possível que a frase atribuída a ele sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux pode ser verdadeira. Em uma das mensagens divulgadas,Moroteria falado ao procurador Deltan Dallagnoll: "In Fux we trust".
"Pode ter alguma verdade que tenha saído. Confia no ministro. Eu sempre confio nos ministros. Mas não posso ter certeza da autenticidade", disse.
O presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), teve de manobrar para evitar um "massacre" da oposição no colegiado.
Isso porque os deputados fizeram uma pré-lista por ordem de chegada, que permitiria a 60 parlamentares contrários ao governo Bolsonaro falarem praticamente um seguido do outro, sem dar chance da base governista fazer a defesa do ministro.
Entenda os vazamentos
Desde o último dia 09, o Intercept vem revelando uma série de conversas privadas que mostram Moro e procuradores, principalmente Deltan Dallagnol,combinandoestratégias de investigação e de comunicação com a imprensa no âmbito da Operação Lava Jato.
Segundo as revelações, o ex-juiz sugeriu mudanças nas ordens das operações, antecipou ao menos uma decisão e deu pistas informais de investigações nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O site é de Glenn Greenwald, um jornalista americano vencedor do prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden.
Na última sexta-feira (29), o site publicou uma série de trocas de conversas entre procuradores do MPF, às vésperas de Moro aceitar convite para o Ministério da Justiça, questionando se o ingresso do juiz na política podia legitimar críticas à Lava Jato.
Como as revelações vieram a público por uma reportagem, ainda será necessária uma extensa investigação, provavelmente conduzida pela Polícia Federal, para confirmar as implicações jurídicas.
O vazamento de informações sigilosas no âmbito da Lava Jato tem sido comum desde o início da operação em 2014.
(Com Estadão Conteúdo)