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Além de investigar massacre, Manaus também busca presos fugitivos

O governo reportou a fuga de 184 presos do Compaj, onde foi registrada a rebelião. Até agora apenas 40 foram recapturados

Massacre: um amplo dispositivo de buscas foi montado na região, onde a polícia bloqueou as principais vias de acesso aos presídios (Reuters)
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AFP

Publicado em 3 de janeiro de 2017 às 16h57.

As autoridades brasileiras continuavam as buscas nesta terça-feira de dezenas de presos que fugiram de uma prisão em Manaus , onde 56 presos foram mortos por uma "vingança" entre facções que disputam o controle do tráfico de drogas.

O governo do Amazonas reportou a fuga de 112 presos do Complexo Penitenciário Anisio Jobim (Compaj), onde foi registrada a rebelião entre o domingo e a segunda-feira, e de 72 internos do Instituto Penal Antonio Trindade (Ipat), uma unidade de prisão preventiva no mesmo complexo.

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Segundo as últimas informações disponíveis, apenas 40 destes 184 fugitivos foram recapturados.

Um amplo dispositivo de buscas foi montado na região, onde a polícia bloqueou as principais vias de acesso aos presídios.

A rebelião começou na tarde de domingo no Compaj, na periferia de Manaus, após um confronto entre duas facções criminosas: o Primeiro Comando da Capital (PCC), originário de São Paulo, e o grupo local Família do Norte (FDN).

A rebelião foi controlada 15 horas depois.

As autoridades constataram, então, que vários mortos tinham sido decapitados e qualificaram o episódio de o maior massacre cometido em uma prisão do Amazonas. É, ainda, o maior massacre em uma penitenciária brasileira desde a chacina no Carandiru, em São Paulo, quando uma operação policial para controlar um motim resultou na morte de 111 presos em 1992.

O episódio é investigado como "vingança" da FDN, que disputa as redes de tráfico de drogas na região do estado do Amazonas, contra o PCC, uma poderosa organização criada no começo dos anos 1990 em uma penitenciária paulista.

O FDN, entre outros grupos, foi objeto de uma enorme operação policial em novembro de 2015, batizada de "A Muralha", nome do quartel-general do cartel de Cali, onde os chefões do tráfico coordenavam seus crimes. Para a polícia brasileira, a estrutura, os objetivos e o modus operandi da organização no Amazonas lembra os deste cartel colombiano.

A organização, que atuava no tráfico internacional de drogas, tinha uma estrutura muito hierarquizada e também operava em parte das prisões do Amazonas, de onde os chefes coordenavam crimes e proferiam sentenças de morte. Nos últimos anos, o cartel teria integrado às suas fileiras milhares de pessoas, informou a Polícia.

Prisões de segurança máxima

Enquanto investigam quem está por trás do massacre em Manaus, as autoridades também trabalham para identificar os corpos das vítimas.

"Estamos aguardando a identificação das lideranças por parte do governo do estado, que solicitou que, assim que houver essa identificação, seja feita a transferência dessas lideranças para os presídios federais", informou o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, em entrevista na madrugada desta terça-feira, em Manaus.

O Brasil tem quatro presídios federais, onde estão reclusos os presos considerados mais perigosos, sob estritas normas de vigilância e em celas individuais.

Depois do massacre, também foram registradas tentativas de rebelião em outros presídios da capital amazonense, e 130 presos de uma mesma facção precisaram ser transferidos das penitenciárias onde estavam para uma penitenciária pública que havia sido desativada, depois de receberem ameaças de morte, informou o governo.

O ministro da Justiça informou que na semana passada o governo federal transferiu recursos aos estados para criar 20 mil novas vagas nas superlotadas penitenciárias do país, que permitam "separar os líderes mais perigosos daqueles presos não tão perigosos".

Com estes recursos, o estado do Amazonas poderá ter mais 1.200 vagas, informou Moraes.

As prisões do estado do Amazonas, que tem uma população carcerária superior a 8.800 internos, abrigam 2,59 presos por vaga disponível.

Moraes também anunciou a transferência de recursos para instalar tecnologia que impeça a entrada de telefones celulares dentro das prisões.

Rebeliões e confrontos são comuns nas penitenciárias brasileiras. Em outubro passado, 25 presos morreram e uma penitenciária de Roraima, em um confronto entre membros do PPC e do Comando Vermelho (CV, originário do Rio de Janeiro), as duas maiores facções do crime organizado no Brasil.

O País tem a quarta maior população carcerária do mundo, atrás de Estados Unidos, China e Rússia.

Segundo um estudo do Ministério da Justiça, segundo o qual a maioria dos presos é de jovens negros, a população carcerária era, no fim de 2014, de 622.000 detentos.

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