Brasil

A imprensa brasileira se une no desafio de combater fake news

Site EXAME participa do projeto Comprova, uma reunião de 24 veículos de comunicação para verificar notícias, fotos e vídeos suspeitos na campanha eleitoral

Claire Wardle, do First Draft: o Comprova vai combater a desinformação na campanha eleitoral (Facebook Comprova/Divulgação)

Claire Wardle, do First Draft: o Comprova vai combater a desinformação na campanha eleitoral (Facebook Comprova/Divulgação)

Luiza Calegari

Luiza Calegari

Publicado em 28 de junho de 2018 às 18h47.

Última atualização em 29 de junho de 2018 às 14h38.

São Paulo – 24 veículos de comunicação brasileiros, incluindo EXAME, aderiram a uma iniciativa inédita de unir esforços para combater notícias falsas e desinformação nas eleições deste ano. A partir de 6 de agosto, o projeto Comprova vai acompanhar e receber publicações na internet que estejam viralizando para checar sua veracidade.

A iniciativa tem sua origem no grupo First Draft, da universidade de Harvard, que já organizou uma coalizão semelhante no ano passado, durante a eleição presidencial francesa. O Comprova visa diminuir o impacto da propagação de boatos durante o período eleitoral, focando em tópicos específicos como candidaturas, reformas estruturais e debates presidenciais.

Durante o evento de lançamento do projeto nesta quinta-feira (28), em São Paulo (SP), Claire Wardle, representante do First Draft, destacou que um dos principais desafios da imprensa profissional é não aumentar o alcance de notícias enganosas quando for promover as verdades.

“Se uma desinformação está circulando apenas em um grupo restrito de indivíduos no Recife, digamos, então não faz sentido repetir o boato, nem que seja para desmenti-lo, em uma amplitude nacional”, afirmou, já que isso só aumentaria o alcance da informação falsa.

Os jornalistas participantes do Comprova vão usar ferramentas de monitoramento online que conseguem prever o ritmo de crescimento do alcance de um determinado post nas próximas horas, o que possibilita a avaliação da necessidade de checagem.

Os boatos checados serão monitorados nas principais redes sociais do país, como Facebook, WhatsApp, Twitter e Instagram.

Reação emocional

Claire ainda dá uma dica aos jornalistas: procurar, entre os posts cuja circulação está aumentando, os que mais têm reação de “raiva” no Facebook.

“Quando a pessoa reage com aquela carinha brava, isso quer dizer que o conteúdo do post é emocional, irracional”, o que já acende o sinal de alerta, segundo a representante do projeto.

A função educativa desse tipo de iniciativa seria, portanto, levar os cidadãos e usuários das redes sociais a refletir antes de compartilhar, já que esse compartilhamento impensado ajuda a espalhar conteúdos de fontes não verificadas.

O desafio no Brasil é grande, já que o país tem um dos maiores volumes de usuários do WhatsApp do mundo (cerca de 76% das pessoas que possuem smartphone estão no app, segundo o MEF).

“A média de pessoas em um grupo do WhatsApp é de seis pessoas. É um grupo pequeno, provavelmente formado por gente em que você confia. Quando a informação partiu de alguém com quem já temos algum laço emocional, a nossa tendência é acreditar que ela é verdadeira”, explicou.

Espalhando a verdade

O Comprova foi inspirado em outros projetos aplicados pelo First Draft no exterior. Em maio do ano passado, uma iniciativa similar de colaboração jornalística foi organizada durante a campanha presidencial na França. Outros esquemas foram usados nas últimas disputas eleitorais no Reino Unido e na Alemanha.

No Brasil, as redações vão trabalhar juntas para verificar informações sobre um determinado boato. Uma informação só poderá ser desmentida se ao menos três veículos entrarem em acordo sobre a falsidade do dado. Após a verificação, os relatos serão publicados em forma de texto, imagens, gifs animados ou vídeos curtos.

Os brasileiros poderão denunciar boatos relacionados às eleições por meio de uma conta no WhatsApp do Comprova. A ideia é que, após a checagem dos fatos, as informações verdadeiras sejam compartilhadas pelos próprios usuários. Assim, espalham-se as notícias verdadeiras no lugar das falsas.

Nas próximas cinco semanas, os jornalistas vão participar de treinamentos e trabalhar em atividades para consolidar a presença do Comprova nas redes sociais. A partir de 6 de agosto, todos os relatos passarão a ser publicados no site do projeto.

Acompanhe tudo sobre:AppsEleições 2018FacebookFake newsHarvardProjeto ComprovaWhatsApp

Mais de Brasil

'Tentativa de qualquer atentado contra Estado de Direito já é crime consumado', diz Gilmar Mendes

Entenda o que é indiciamento, como o feito contra Bolsonaro e aliados

Moraes decide manter delação de Mauro Cid após depoimento no STF

Imprensa internacional repercute indiciamento de Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe