A difícil vida política das mulheres em SP, no Brasil e no mundo
Apesar de serem metade da população do país e do mundo, as mulheres ainda são minoria em vários critérios de representação política
Luiza Calegari
Publicado em 8 de março de 2018 às 13h34.
São Paulo – Além de trabalharem mais em casa, estudarem mais e, ainda assim, receberem salários menores, as mulheres ainda são sub-representadas na política brasileira, de acordo com pesquisas feitas com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgadas por ocasião do Dia da Mulher .
Comparando a radiografia feita pelas pesquisas em São Paulo , no Brasil e em relação ao mundo, é possível dimensionar o tamanho do abismo que separa as mulheres dos homens na política.
Por exemplo: as mulheres recebem menos doações de pessoas físicas para financiarem suas campanhas políticas, quando chegam a ser candidatas. Além disso, em alguns partidos políticos, a representação feminina entre os filiados não chega a 40%, que é a média nacional.
Isso faz com que o Brasil passe vergonha em rankings mundiais que medem a igualdade de gênero: o critério da representação feminina no alto escalão da política piorou tanto entre os governos Dilma e Temer que fez o país perder 11 posições de um ano para o outro. Além disso, só 38 países têm menor proporção de deputadas em suas Câmaras do que o Brasil.
Em São Paulo, só 14% das candidatas foram eleitas
Entre 2008 e 2016, houve 2,5 vezes mais candidaturas eleitorais de homens do que de mulheres para cargos da administração municipal em São Paulo, segundo levantamento da consultoria Pulso Público para o Movimento Transparência Partidária.
Enquanto 2.553 homens se candidataram ao cargo de prefeito ou vereador, só 1.000 fizeram o mesmo. Ainda menos mulheres foram eleitas: só 14% das candidaturas foram vitoriosas (ou seja, 86% dos eleitos eram homens).
E os dados continuam preocupantes apesar de uma melhora significativa nos últimos pleitos: o número de mulheres eleitas mais que dobrou nesse período. Em 2008, só cinco mulheres venceram a eleição municipal; em 2016, foram 11.
Outra coisa que a pesquisa da Pulso Público descobriu foi que mulheres recebem menos doações de pessoas físicas do que os homens: na eleição de 2016, a primeira a proibir financiamento de empresas, quase metade das mulheres candidatas tiveram sua candidatura bancada pelos partidos (47%). Por sua vez, só 16% dos homens precisaram ter as campanhas integralmente financiadas pela sigla.
No Brasil, 40% dos filiados a partidos são mulheres
Uma outra pesquisa do Pulso Público, também feita a pedido do Movimento Transparência Partidária, mostra que cerca de 40% dos filiados a partidos políticos são mulheres, em média.
Apesar de representarem pouco mais da metade da população (51,03%, segundo último censo do IBGE), mulheres detêm só 9,9% das cadeiras da Câmara dos Deputados, por exemplo, de acordo com dados de 2014.
Os partidos Rede e Novo foram os únicos do país nos quais a representação feminina ficou abaixo de 40%: a Rede tem 37% de mulheres e o Novo, só 13%.
Representação piorou em comparação com o mundo
A baixa representação política no Brasil foi o principal motivo para derrubar o país no ranking de igualdade de gênero divulgado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) em novembro do ano passado. O país caiu da 79ª posição em 2016 para a 90ª de um ano para o outro.
Em 2016, quando Dilma Rousseff ainda era presidente da República, as mulheres ocupavam 15% dos cargos ministeriais, segundo os dados compilados pelo WEF.
No governo Temer, esse número caiu para 4%. Essas mudanças levaram o país a despencar de 82º para 134º em participação feminina no alto escalão governamental.
Em relação ao Legislativo, o Brasil está na 152ª posição em uma lista de 190 países, compilada pelo IBGE com base em dados da União Interparlamentar.
Importância da participação
O Movimento Transparência Partidária argumenta que uma participação ampla e efetiva das mulheres na política é essencial para melhorar todos os outros índices de desigualdade.
Para a entidade, os altos índices de violência contra a mulher, por exemplo, estão diretamente ligados ao baixo número de representantes femininas formulando políticas públicas para o enfrentamento deste problema.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, se continuarmos no ritmo atual, a paridade entre os gêneros só será atingida daqui a 100 anos no mundo.