1 em cada 4 paulistanos adultos já foi infectado pelo coronavírus
Soroprevalência é maior entre os pretos e pardos, menos escolarizados e aqueles que dividem a mesma residência com mais de quatro pessoas
Fabiane Stefano
Publicado em 22 de outubro de 2020 às 11h23.
Última atualização em 22 de outubro de 2020 às 12h18.
Um estudo conduzido por cientistas e médicos da Universidade de São Paulo (USP) e da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo concluiu que 26,2% da população adulta da capital paulista já foi infectada pelo coronavírus - o que equivale a 2,2 milhões de pessoas.
A soroprevalência - como os cientistas chamam a taxa de pessoas que já têm anticorpos contra o vírus - é ainda maior nos distritos mais pobres. Nas regiões periféricas da capital, 30,4% dos adultos já foram infectados, contra 21,6% nos distritos mais ricos.
"Apesar de estarmos numa fase de queda no número de mortes, o vírus não se espalhou igualmente pela cidade ", explicou o biólogo Fernando Reinach na coletiva de imprensa que divulgou os dados do estudo, que tem o apoio do Grupo Fleury, IBOPE Inteligência, Instituto Semeia e Todos pela Saúde.
A cor de pele, o nível de escolaridade e a quantidade de moradores numa mesma residência também são quesitos importantes na medição da prevalência da Covid-19. Indivíduos que estudaram apenas até o ensino fundamental se infectam 2,2 vezes mais que aqueles com ensino superior completo - 16% versus 35,8%, respectivamente.
Pretos e pardos se infectam mais que os brancos - 31,6% versus 20,9%, respectivamente. E as casas com mais de quatro moradores tem 5 pontos percentuais a mais de prevalência do que aquelas com três pessoas ou menos - 28,8 versus 22%, respectivamente.
Os dados divulgados nesta quinta-feira (22) fazem parte da 4ª fase da pesquisa, que aconteceu entre os dias 1 e 10 de outubro. Em relação a terceira fase, há dois meses, a soroprevalência subiu 8,3 pontos percentuais, de 17,9% para 26,2%.
Alta nos casos, queda nas mortes
Os números oficiais da pandemia na cidade de São Paulo mostram que, apesar do números de casos diários continuarem altos, o número de mortes vem caindo. De acordo com os responsáveis pelo estudo, isso se deve a melhora no padrão de testagem e atendimento na capital, e também à população, que tem se cuidado melhor.
"Sabemos que a melhora no serviço é desigual mas, mesmo nos hospitais públicos, a taxa de letalidade diminuiu bastante ", explicou o infectologista Pedro Granato, lembrando que o aumento na soroprevalência também contribui para desacelerar o ritmo de contaminação. "Quanto mais gente com anticorpos, mais difícil é para o vírus se espalhar."
O aumento da soroprevalência, entretanto, não configura ainda a famosa "imunidade de rebanho". "Isso só acontece quando temos um número suficiente de pessoas com anticorpos para que a disseminação do vírus deixe de acontecer. Ainda não é o caso ", esclareceu Reinach.