Exame.com
Continua após a publicidade

Como o mercado financeiro pode construir uma economia sustentável?

O mercado financeiro precisa reconhecer e premiar as empresas que estão investindo para que o mundo se torne mais sustentável

 (Thithawat_s/Getty Images)
(Thithawat_s/Getty Images)
I
Impacto Social

Publicado em 31 de agosto de 2021 às, 10h00.

Última atualização em 31 de agosto de 2021 às, 11h07.

Por Andrea M. A. F. Minardi

Em meus últimos artigos escrevi sobre a necessidade de uma visão de longo prazo para uma economia mais sustentável e alguns exemplos de como alcançá-la. Retorno ao tema sob a perspectiva dos investimentos necessários, tendo como base a necessidade de políticas públicas e, principalmente, o papel do mercado financeiro.

Políticas públicas são importantes para gerar os incentivos para investimentos sustentáveis, reconhecendo o impacto das externalidades como, por exemplo, emissões de carbono. O estabelecimento de um mercado de carbono promove a redução de emissões ao menor custo possível, estabelecendo uma receita com a taxação, que será usada no investimento requerido para descarbonização.

Porém, ainda há uma falta da compreensão do valor estratégico de práticas sustentáveis com impacto de médio e longo prazos e do timing ótimo de adoção, tanto do ponto de vista financeiro quanto de impacto ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), que busca a geração de valor ambiental e social com o menor impacto econômico. Para atingir uma economia sustentável, por exemplo, é necessária uma visão holística da complexidade dessa transição e um mindset de opções reais. O mercado financeiro tem um papel importante nessa aceleração, mas precisa reconhecer e premiar as empresas que estão investindo para que o mundo se torne mais sustentável. Além disso, é necessário incentivar, pressionar e penalizar as que estão atrasadas ou na contramão dessa agenda.

Tanto os investidores quanto as agências de rating ESG e crédito precisam incluir o impacto das externalidades socioambientais nas avaliações dos investimentos (assim como o valor financeiro das opções geradas com os investimentos feitos hoje), ter paciência (entendendo que existe um timing ótimo para fazer isso acontecer) e aceitando menores retornos no curto prazo para um ganho no longo prazo. Isso se aplica, principalmente, para as iniciativas voltadas à construção de um planeta carbono neutro até 2050.

Não é simplesmente ignorando, por exemplo, empresas que são hoje grandes geradoras de emissões como alternativa de investimento que isso será feito. Essas empresas são parte integrante do ciclo de desenvolvimento e escalabilidade de novas tecnologias inovadoras, como demonstra o grande número de patentes recentes em novas tecnologias baixo carbono. O mercado financeiro precisa reconhecer o menor risco das empresas que estão se movendo nessa direção, independente do setor, pagar mais por suas ações e exigir retorno menores de seus títulos de dívida. O capital privado é uma peça essencial que, junto com a colaboração de governo, universidades, sociedade e fundações, pode viabilizar que os investimentos necessários para o mundo se tornar mais sustentável no longo prazo seja feito a curto e médio prazos.