Os 8 fatos que marcaram o agro do Brasil em 2024
A EXAME reuniu os oito principais acontecimentos que influenciaram o agro no ano
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
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 28 de dezembro de 2024 às 06h17.
Clima fora do controle, como as enchentes no Rio Grande do Sul , e a seca e as queimadas que atingiram o Brasil ao longo do ano, marcaram o agronegócio brasileiro em 2024.
O preço do azeite disparou, e a aprovação de temas importantes para o setor no Congresso, como a Lei do Combustível do Futuro e a Lei dos Bioinsumos, também tiveram grande relevância para o agro.
A EXAME reuniu os oito principais acontecimentos para o agronegócio brasileiro em 2024.
- Enchentes no Rio Grande do Sul impactam arroz e soja no estado
Entre o final de abril e o começo de maio, o Rio Grande do Sul enfrentou enchentes devastadoras provocadas por chuvas intensas.
Os eventos climáticos causaram danos sem precedentes, resultando no transbordamento das bacias dos rios Caí, Gravataí, Jacuí, Pardo, Sinos e Taquari, além do Lago Guaíba e da Lagoa dos Patos.
O estado, um dos maiores produtores de soja do Brasil e o principal de arroz , sofreu prejuízos em lavouras, pastos e fazendas.
Segundo a Emater-RS, as inundações nas áreas produtoras reduziram em 9% a produtividade do arroz — a expectativa inicial era de 8.325 kg/hectare, mas o número oficial, com a colheita finalizada, ficou em 7.600 kg/hectare.
A soja, que estava na fase final de colheita, também foi impactada, com uma redução de 10% na produção, para 19,65 milhões de toneladas.
Dados da Emater-RS mostram que 206.604 propriedades foram afetadas. A Farsul estima que o prejuízo do setor agropecuário no estado chegou a cerca de R$ 4 bilhões.
Com as condições climáticas mais favoráveis e a área já plantada, as previsões indicam que 2025 será um ano de recuperação, com um aumento estimado de cerca de 17% no volume de grãos produzidos no estado.
Para próximo ano, o governador Eduardo Leite (PSDB) disse à EXAME que lancaráum programa voltado para a recuperação de solos, com o objetivo de ajudar na recuperação da produtividade, além de investimentos em infraestrutura.
Enchentes no Rio Grande do Sul
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2 /17Homens movem pacotes em um barco através de uma rua inundada no centro histórico de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 14 de maio de 2024. Crédito: Anselmo Cunha / AFP)(Homens movem pacotes em um barco através de uma rua inundada no centro histórico de Porto Alegre)
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3 /17Vista das áreas inundadas ao redor do estádio Arena do Grêmio em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tirada em 29 de maio de 2024. A água e a lama tornaram os estádios e sedes do Grêmio e Internacional inoperáveis. Sem locais para treinar ou jogar futebol, os clubes brasileiros tornaram-se equipes itinerantes para evitar as enchentes que devastaram o sul do Brasil. (Foto de SILVIO AVILA / AFP)(Vista das áreas inundadas ao redor do estádio Arena do Grêmio em Porto Alegre)
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4 /17Vista aérea do centro de treinamento do Internacional ao lado do estádio Beira Rio em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tirada em 29 de maio de 2024. Foto de SILVIO AVILA / AFP(Vista aérea do centro de treinamento do Internacional ao lado do estádio Beira Rio em Porto Alegre)
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- Secas e queimadas prejudicam café e cana-de-açúcar
Uma seca histórica marcou 2024, impactando profundamente os produtores rurais. A safra de café em Minas Gerais, maior estado produtor do Brasil, registrou queda de 3,3% em 2024, com uma produção de 28 milhões de sacas de 60 quilos, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)—a estiagem ocorreu durante a florada do café, etapa crucial para o desenvolvimento da colheita.
Além da seca, o Brasil registrou recordes alarmantes de queimadas em comparação a 2023. Entre janeiro e setembro de 2024, o país contabilizou 22,38 milhões de hectares queimados, um aumento de 150% em relação ao ano anterior.
Setembro foi o mês mais crítico, com 10,65 milhões de hectares consumidos pelo fogo, que atingiu principalmente as plantações de cana-de-açúcar no estado de São Paulo.
Os incêndios devastaram cerca de 414 mil hectares de áreas de cana-de-açúcar e de rebrota de cana no Brasil, causando um prejuízo estimado em R$ 2,67 bilhões aos canavicultores, segundo aOrganização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana),que atualmente representa 35 associações de fornecedores de cana e mais de 12 mil produtores.
- Preços do azeite nas alturas
Os preços do azeite dispararam até 50% em junho de 2024, impulsionados pela menor produção na Europa, principal região produtora.
O aumento refletiu os impactos de uma seca severa que, ao longo dos últimos dois anos, afetou as plantações de oliveiras em Espanha, Grécia e Portugal, três dos maiores produtores globais de azeite.
Na safra 2023/24 , a Espanha, maior produtor mundial, colheu apenas 850 mil toneladas de azeitonas, resultado significativamente abaixo da média histórica.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação do azeite de oliva começou a desacelerar em julho de 2024.
No mês passado, o produto registrou um aumento de 25%, indicando um ritmo menor de alta em comparação ao pico de 50% registrado em junho.
Em 2025, os preços do azeite devem registrar uma queda de 20% por causa de uma maior produção europeia.
- Brasil bate recorde na exportação de algodão
Pela primeira vez na história, o Brasil superou os Estados Unidos e se tornou o maior exportador global de algodão.
Na safra 2023/24 , o embarques brasileiros totalizaram 2,7 milhões de toneladas, enquanto os norte-americanos somaram 2,4 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Dados da Conab mostram que o Brasil produziu 3,7 milhões de toneladas da pluma.
Para a temporada 2024/25, o USDA estima que o Brasil produza3,66 milhões de toneladas e exporte 2,68 milhões de toneladas.
- Aprovação da Lei do Combustível do Futuro
A aprovação da Lei do Combustível do Futuro representou um marco para o Brasil em 2024, com impactos significativos previstos no setor agrícola, especialmente na produção de biodiesel.
A nova legislação ajusta os percentuais de mistura de etanol na gasolina e biodiesel no diesel, além de incentivar o uso de diesel verde e do combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês).
A lei determina que o percentual de mistura de etanol na gasolina será fixado em 27%, podendo ser ajustado pelo Poder Executivo entre 22% e 35%, conforme as condições de mercado. Atualmente, a mistura pode chegar a 27,5%, com um mínimo de 18%.
Para o biodiesel, a mistura vigente de 14%, em vigor desde março deste ano, será ampliada gradualmente a partir de 2025. O incremento será de 1 ponto percentual por ano, alcançando 20% em 2030. Com a nova legislação, a expectativa é de que a produção de etanol no Brasil salte de 36 bilhões de litros para 59 bilhões de litros até 2037.
No próximo ano, a oferta de etanol de milho deverá saltar dos 8 bilhões de litros na safra 2024/25 para 10 bilhões de litros na safra 2025/26, segundo a Datagro Consultoria.
Para o biodiesel, que utiliza a soja como principal componente da mistura, a Datagro estima um crescimento de 10% na demanda em 2025 — o aumento resultará em um consumo estimado de 10,3 bilhões de litros no próximo ano, ante os 9,3 bilhões atuais.
- União Europeia adia implementação da Lei Antidesmatamento(EUDR)
Depois de o Brasil e alguns stakeholders pedirem, a União Europeia adiou em um ano a implementação da Lei Antidesmatamento (EUDR, na sigla em inglês), prevista para começar em 30 de dezembro de 2024.
Com o adiamento, a previsão é de que a lei passe a valer a partir de 30 de dezembro de 2025 para grandes empresas e em 30 de junho de 2026 para micro e pequenos empreendedores.
Desde o anúncio da implementação da lei, diversos segmentos do setor agroindustrial, tanto local quanto globalmente, se mobilizaram para adiar a legislação do bloco europeu, considerada impositiva por parte do agronegócio.
- Acordo Mercosul e União Europeia é fechado
Após 25 anos de negociações, o Mercosul e a União Europeia fecharam um acordoque permitirá ao Brasil ampliar as exportações agrícolas para a Europa, especialmente de carnes e óleos vegetais. Juntos, os blocos representam cerca de 718 milhões de pessoas e economias que somam aproximadamente US$ 22 trilhões.
No entanto, o tratado ainda precisa ser aprovado peloConselho Europeu, pelo Parlamento Europeu e pelos Legislativos de todos os países da UE e do Mercosul, sem um prazo final definido para essas etapas.
Durante as negociaçõe s, países europeus, liderados pela França, criticaram o agronegócio brasileiro, alegando descumprimento de requisitos ambientais. O caso mais emblemático foi o do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, que publicou uma carta no LinkedIn criticando o setor.
A reação no Brasil foi imediata, com pecuaristas suspendendo o fornecimento de carne para a rede Carrefour no país. O impasse só foi resolvido após um pedido de desculpas de Bompard, embora ele tenha mantido sua posição sobre a carne brasileira.
- Aprovação do PL dos Bioinsumos
Uma das principais demandas do setor, a legislação que regulamenta a produção debioinsumos no Brasil foi sancionada sem vetos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Lei nº 15.070 estabelece normas para a produção e uso desses insumos no país.
Entre os destaques, a nova legislação oferece a segurança jurídica necessária para que os agricultores possam produzir bioinsumos de forma regulamentada e segura, especialmente o on-farm, ou seja, diretamente em suas propriedades.
De autoria do deputado Zé Vitor (PL-MG), o projeto foi aprovado por unanimidade na Câmara dos Deputados em 27 de novembro de 2024 e, poucos dias depois, no Senado Federal, com relatoria do senador Jaques Wagner (PT-BA).
A sanção foi considerada um marco para o agronegócio brasileiro, promovendo maior sustentabilidade e competitividade, segundo diversas entidades do setor.