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Movimento para proibir transporte de animais vivos ganha força no mundo

Cerca de 39 milhões de toneladas de carne foram exportados em 2019, a maioria abatidos, embalados e congelados - um processo que evita problemas de saúde e segurança no transporte de animais vivos

(Agustin Marcarian/Reuters)
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Bloomberg

Publicado em 8 de julho de 2021 às 21h08.

Por K. Oanh Ha e Kevin Varley, da Bloomberg

No final de dezembro, cerca de 1.800 vacas partiram da Espanha para a Turquia a bordo de um navio chamado Elbeik. A viagem deveria durar cerca de 11 dias, depois o gado seria vendido, principalmente para matadouros halal, onde seriam mortos com o mínimo de sofrimento, conforme exigido pela religião.

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Pelo menos teria sido rápido. Nos três meses seguintes, quando a pandemia começou a causar estragos no transporte marítimo global, o navio não conseguiu descarregar sua carga e os animais começaram a morrer de fome, segundo investigação do governo espanhol. Quase 10% das vacas morreram, seus cadáveres foram jogados ao mar ou deixados para apodrecer nos currais entre os vivos. Quando o Elbeik voltou para a Espanha, as autoridades determinaram que seus 1.600 animais restantes estavam doentes demais para serem vendidos e tiveram que ser sacrificados.

O Elbeik se tornou prova no crescente movimento de proibir o polêmico comércio internacional de animais vivos que vale US$ 18 bilhões. A pandemia piorou as condições de cerca de 2 bilhões de vacas, ovelhas, cabras, porcos e galinhas que são exportados a cada ano, e os epidemiologistas aderiram aos pedidos por mudança. Os animais ficaram presos em trânsito por muito mais tempo do que o esperado e as inspeções de segurança foram drasticamente reduzidas. Com a nova sensibilidade aos riscos que animais doentes podem representar para os humanos, um número crescente de países está limitando ou eliminando totalmente a prática.

“Quando se trata de bem-estar animal, o transporte marítimo é um grande buraco negro”, disse Thomas Waitz, agricultor orgânico da Áustria e representante parlamentar europeu em um comitê encarregado de atualizar as regras para o transporte transfronteiriço de animais. “Os transportes marítimos estão completamente fora de quaisquer regulamentos ou padrões de bem-estar animal. A saúde pública corre risco se os animais forem transportados em condições onde germes e bactérias possam florescer.”

A UE, que responde por mais de 75% das exportações mundiais de animais vivos, é “incapaz de garantir o bem-estar animal”, segundo um relatório encomendado pelo comitê, que deve recomendar um novo conjunto de regulamentações mais rígido para os exportadores no fim do ano. O Reino Unido foi mais longe, planejando proibir o transporte de animais vivos para abate, embora ainda não tenha definido uma data. A Nova Zelândia disse em abril que eliminará o comércio de animais vivos até 2023.

Cerca de 39 milhões de toneladas de carne foram exportados globalmente em 2019, a maioria abatidos, embalados e congelados ou resfriados previamente - um processo mais lucrativo para produtores de carne e que evita problemas de saúde e segurança no transporte de animais vivos. Mas, à medida que consumidores em países como China e Vietnã ficam mais ricos, adicionam mais carne e laticínios às suas dietas, aumentando a demanda por animais domésticos e leiteiros. O mercado robusto de carne halal entre os muçulmanos também significa que a demanda cresceu nos últimos anos. Os preços do gado vivo da Austrália atingiram máximas recordes.

A provação do gado no Elbeik foi tão horrível que o Ministério da Agricultura da Espanha encaminhou o caso a promotores do tribunal nacional. O proprietário do navio, Ibrahim Maritime, não pôde ser contatado após várias tentativas por telefone e não respondeu às mensagens de texto por meio de um representante no Líbano.

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