Mais de 70% dos produtores já observam efeitos do aquecimento global nas fazendas do mundo
Estudo também aponta que 76% dos trabalhadores do campo estão preocupados com os efeitos das mudanças climáticas para seu negócio
Agência de notícias
Publicado em 21 de setembro de 2023 às 12h55.
Um levantamento contratado pela Bayer e conduzido pela empresa global de comunicação estratégica Kekst CNC com 800 produtores do Brasil, Austrália, China, Alemanha, Índia, Quênia, Ucrânia e Estados Unidos revela que 71% dos agricultores ouvidos já observam impactos expressivos do aquecimento global em suas propriedades.
A pesquisa também aponta que 76% deles estão preocupados com os efeitos futuros das mudanças climáticas para seu negócio.
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Em coletiva de imprensa realizada com veículos dos países envolvidos no levantamento, o presidente global da divisão agrícola da Bayer, o brasileiro Rodrigo Santos, explicou que apesar de já haver diversas publicações focadas nos eventos de calor, chuva ou seca extrema e outros efeitos das alterações do clima, havia necessidade de ouvir dos próprios produtores rurais sobre o que pensam e já estão vivendo em suas fazendas em decorrência do novo cenário climático. Daí a decisão de realizar a pesquisa "Farmer Voice".
"Os agricultores já estão sentindo os efeitos adversos das mudanças climáticas em seus campos e, ao mesmo tempo, têm um papel central no enfrentamento desse desafio. É por isso que é tão importante fazer com que a sua voz esteja em primeiro plano" disse Santos.
A Farmer Voice questionou os produtores sobre quais eventos climáticos eles vivenciaram nos últimos anos com mais intensidade em suas propriedades do que em anos anteriores: 70% responderam que já sofreram algum tipo de efeito de altas temperaturas e secas; 45% mencionaram muito altas temperaturas; 35% citaram longos períodos de temperaturas altas; e 33%, secas.
Outros efeitos das alterações climáticas apontados pelos entrevistados foram mudanças de um extremo a outro (31%), ventos muito fortes (27%), chuvas com grande intensidade ou inundações (24%), temperaturas muito baixas (14%) e longos períodos de baixas temperaturas (12%). Somente 10% deles disseram que não passaram por nenhuma das situações acima. A pesquisa revela ainda que os efeitos foram sentidos de forma mais aguda no Brasil, Índia e Quênia.
O levantamento mostra que os produtores já registraram perdas econômicas nos últimos dois anos decorrentes das mudanças do clima. Em média, pelas estimativas dos entrevistados, sua renda diminuiu 15,7% no período, sendo que um em cada seis identificou perdas de receita superiores a 25%. Também foi reportada, por 73% dos agricultores ouvidos, aumento da pressão de pragas e doenças nas lavouras.
A maioria dos produtores entrevistados, 84%, disse que já adota ou vai adotar medidas para reduzir o impacto ambiental da atividade agrícola e recuperar áreas naturais. Questionados sobre quais práticas que reduzem emissões de gases de efeito estufa, de uma lista sugerida, eles já executam, 43% disseram que usam culturas de cobertura sobre as plantações; 37%, energias renováveis ou biocombustíveis nas operações; 33% empregam sementes inovadoras para diminuir aplicações de fertilizantes e agroquímicos; 25% usa alguma ferramenta digital que ajude a reduzir o uso de insumos agrícolas; 24% adotam o sistema do plantio direto; 22% participam de algum programa relacionado a captura de carbono. Na outra ponta, 16% disseram que não pretendem adotar nenhuma medida a respeito.
Com a recorrência de eventos relacionados a mudanças climáticas, produtores já vislumbram mudanças na atividade agrícola. Questionados sobre quais alterações são esperadas, 40% disseram que devem começar a utilizar variedades mais resilientes a condições adversas; 39%, cultivar culturas diferentes; 38% trabalham com a perspectiva de perdas nas lavouras; 37%, com a perda de produtividade; 34% acreditam que haverá menos segurança no planejamento e mais volatilidade de preços; e 30% esperam aumento da pressão de pragas. Apenas 3% têm expectativa de um aumento de renda proveniente da venda de créditos de carbono.
A pesquisa também buscou levantar quais medidas poderiam ajudar a aumentar a renda das fazendas. Entre três fatores apresentados que mais beneficiariam a atividade agrícola, o acesso a sementes e tecnologias desenvolvidas para enfrentar situações climáticas extremas foi colocado em primeiro lugar por 53% dos entrevistados; o acesso a defensivos melhores foi citado por 50% dos produtores; e melhores tecnologias de irrigação, por 42%. Dentre os fatores que mais podem contribuir para ganhos de receita, a diversificação de culturas foi mencionada por 58% dos agricultores; inovação em sementes, biotecnologia e defensivos, por 57%; aumento de área plantada, 47%. O sequestro de carbono e ganhos relacionados ao mercado de carbono receberam apenas 18% dos votos.
"Ao olhar para a pesquisa, nos demos conta de que precisaremos desenvolver mais variedades resilientes (a eventos climáticos). Se pensarmos na nossa atuação nos últimos 20 anos, nosso foco foi ajudar os produtores a produzirem mais, porque havia uma grande necessidade; mas olhando para a frente, temos de pensar em como produzir mais e ao mesmo tempo aumentar a resiliências das culturas", disse Santos, respondendo ao Broadcast Agro (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) durante a coletiva de imprensa. "Ao observar os eventos climáticos deste ano e que ainda estamos vendo em alguns países, vemos que é muito difícil prever os impactos. Podemos tentar minimizar alguns, mas os produtores terão de lidar no futuro com esses eventos; poderão minimizar seus efeitos, mas não evitá-los", continuou.
A pesquisa buscou captar também qual é o sentimento dos produtores em relação ao futuro: 71% deles se disseram otimistas em relação ao futuro da atividade agrícola, sendo que 37% se declararam muito otimistas e 34%, "um tanto" otimistas. Além disso, 88% afirmaram que se consideram essenciais para garantir a segurança alimentar mas não recebem o reconhecimento devido. Entre os 800 entrevistados, 46% disseram que desejam transferir a fazenda para a próxima geração da família, 24% já têm planos concretos para isso e 19% ainda não pensaram no assunto.
Desafios econômicos ainda falam mais alto
Apesar do foco na percepção dos produtores sobre as mudanças climáticas , a Farmer Voice identificou que os desafios econômicos são a maior prioridade dos produtores nos próximos três anos. Mais da metade (55%) deles apontou os custos de fertilizantes entre os três principais desafios do setor, seguidos pelos custos de energia (47%), volatilidade de preços e renda (37%) e o custo com a proteção de culturas (36%). A importância dos custos dos fertilizantes é mais evidente no Quênia, na Índia e na Ucrânia, conforme a pesquisa.
A volatilidade climática ou eventos extremos aparece depois destes fatores, apontada por 35% dos entrevistados. Na Ucrânia, 70% dos participantes indicaram os custos com fertilizantes como um dos três principais desafios, mostrando as consequências da guerra para a agricultura do país.
O Farmer Voice foi conduzido de forma independente pela Kekst CNC e os produtores foram selecionados aleatoriamente em cada mercado.
Segundo a Bayer, os entrevistados não foram informados que a pesquisa estava sendo realizada em nome da empresa até que fosse concluída.
As entrevistas ocorreram entre abril e julho de 2023. Outros 2.056 pequenos produtores rurais na Índia participaram com um questionário reduzido, entre maio e junho de 2023.
Entre eles, 97% disseram que o clima mudou nos últimos anos, 82% afirmaram ser otimistas quanto ao futuro, 42% esperam redução de produtividade nos próximos anos em virtude das mudanças climáticas e 60% informaram que o que mais beneficiaria sua propriedade seria ter acesso a tecnologias digitais e melhores defensivos agrícolas.