Interferência do governo nos combustíveis pode gerar risco de desabastecimento no longo prazo
OPINIÃO | Ficar mudando a regra do jogo cria um ambiente instável para investimentos em relação ao aumento da capacidade de produção de combustível no Brasil
Gerente de Análise e Advisory da Czarnikow
Publicado em 3 de março de 2023 às 12h00.
A equação é básica. O Brasil tem uma capacidade limitada de refino de petróleo, estimada em cerca de 31 bilhões de litros. Assim, a lacuna de demanda de combustível no Brasil (em torno de 25 bilhões de litros) precisa ser preenchida com etanol e importação de gasolina. A capacidade de produção de etanol no Brasil, nos anos em que o mercado incentiva os produtores a maximizar o açúcar e minimizar o etanol, é de algo em torno de 30 bilhões de litros, já incluindo o etanol de milho.
Até 2019, a Petrobras era responsável por mais de 95% da produção de gasolina no Brasil. Com o acordo feito com o Cade em 2019 (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a Petrobras se comprometeu a vender 50% de sua capacidade de refino para acabar com o monopólio da empresa. Isso resultaria na venda de oito de suas refinarias. Até agora, foram vendidas duas.
Petrobras e mudanças nas regras do jogo
Com a mudança de governo após as eleições presidenciais de 2022, a mentalidade em relação à venda das refinarias restantes se inverteu. Rumores são de que o governo tentará fazer um acordo com o Cade para desfazer o compromisso firmado em 2019.
O resultado? Ou a Petrobras precisará aumentar a capacidade de refino (uma nova refinaria levaria pelo menos quatro anos para ser construída) ou a importação de gasolina precisará aumentar e/ou o papel do etanol no abastecimento do país terá que ser mais reconhecido e incentivado. Se o governo ficar mudando a regra do jogo, seja por mudanças tributárias ou interferência na Petrobras, não haverá um ambiente que incentive o aumento da produção.
Etanol deve crescer 30% até 2025
Assumindo uma média de crescimento de 4% na demanda de combustível, até 2025 as importações de gasolina precisariam ser de pelo menos 3 bilhões de litros. Não é o máximo que o Brasil já importou, mas o número pressupõe um aumento da produção de etanol com os projetos de etanol de milho já previstos para serem implementados nos próximos anos. De acordo com a UNEM (União dos Produtores Nacionais de Etanol de Milho), em 2025 a produção deve crescer 30%, chegando a 6 bilhões de litros.
Outra suposição importante é que o consumidor continuará favorecendo o etanol. No entanto, como vimos com as mudanças na política tributária (em artigo publicado no Czapp), uma paridade gasolina-etanol persistente acima de 70% impacta as preferências do consumidor, resultando em uma menor participação do etanol hidratado. Com uma menor preferência pelo etanol, mais gasolina é necessária.