Do Japão ao Cerrado: a história do empresário japonês que foi o 'Rei do Algodão' no Brasil
Empresário deixou um legado que transformou o agronegócio brasileiro e colocou o Brasil no mapa global do algodão
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 3 de novembro de 2024 às 08h01.
Foi na safra de2023/24 que o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e se tornou o maior produtor de algodão do mundo, com uma colheita de mais de 3,7 milhões de toneladas. O país também alcançou, oficialmente e pela primeira vez na história, o título de maior exportador mundial da fibra, superando os EUA. Mas muitos anos antes desse reconhecimento, um empresário japonês já vislumbrava o potencial do algodão brasileiro.
A história de Takayuki Maeda começa em 1927, quando seu pai, Tsunezaemon Maeda, junto com a esposa Aiko e os filhos Takayuki e Tochiyuki, deixou a cidade de Saga-Ken, no Japão, embarcando no navio Manila Maru rumo ao Brasil. O destino era o interior de São Paulo, onde buscavam uma vida melhor nas lavouras cafeeiras.
A família Maeda chegou ao Brasil em meio à onda de imigração japonesa iniciada em 1908, um movimento que moldou a cultura brasileira e impulsionou o desenvolvimento agrícola, especialmente no setor cafeeiro.
Durante a década de 1920, a produção de café no Brasil atingiu 167,3 milhões de sacas, das quais 82,3% foram exportadas, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). O café, até então, era o principal produto de exportação da economia brasileira.
Inicialmente, a família se estabeleceu na Fazenda Santa Tereza, em Franca, mudando-se em 1935 para Ituverava, onde enfrentou enormes desafios, como a perda de cinco filhos enquanto desbravavam as terras recém-adquiridas. Em 1939, arrendaram 30 alqueires na Fazenda Cachoeira e, dois anos depois, conseguiram comprar 120 alqueires, marcando a transição de empregados para proprietários de terras.
Segundo o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), a "visão de futuro de Takayuki Maeda, filho mais velho e sucessor do patriarca, foi fundamental para o crescimento do Grupo Maeda ".
Em 1950, Takayuki trouxe um trator D4 dos EUA, iniciando a mecanização das lavouras, um feito pioneiro na região. A família expandiu suas propriedades e, em 1956, já possuía 640 alqueires, além de introduzir novas famílias de imigrantes japoneses, formando uma colônia que se tornou referência.
Principais commodities agrícolas que o Braisl exporta
Do café para o algodão
Foi em 1956, com uma colheita recorde de algodão , que Takayuki Maeda viu um novo caminho para o grupo. Mesmo enfrentando enchentes que destruíram parte da lavoura, ele e seu irmão Tochiyuki trabalharam incansavelmente para recuperar a produção, solidificando a reputação da família no setor de algodão .
Até 1973, o Grupo Maeda focou em expandir suas terras em São Paulo. No ano seguinte, adquiriu sua primeira fazenda em Goiás, dando início a uma nova fase de expansão. A verticalização das operações começou em 1974, com o beneficiamento de algodão e a construção de unidades em Itumbiara e Porteirão. Em 1987, o grupo criou uma indústria de óleo de caroço de algodão.
O espírito visionário de Takayuki Maeda lhe rendeu o apelido de “ Sebastião Cerrado ”, pois, em vez de investir em terras férteis, ele apostou em larga escala no Cerrado, uma região até então considerada improdutiva. Na década de 1970, Maeda iniciou o processo de verticalização com a construção de várias usinas de beneficiamento de algodão.
Nos anos seguintes, o Grupo Maeda diversificou suas atividades, investindo na fiação de algodão, na indústria de gordura vegetal e expandindo-se para Mato Grosso e Bahia. Com foco no futuro, a família Maeda estabeleceu parcerias estratégicas, incluindo uma joint-venture em sementes de algodão e a entrada nos setores de etanol e açúcar. Em 2010, o grupo Maeda, um dos maiores produtores de algodão e de grãos do Brasil, foi vendido ao fundo Arion Capital.
Takayuki Maeda faleceu em Ituverava, São Paulo, em 2008, aos 83 anos, após complicações de saúde, deixando um legado que transformou o agronegócio brasileiro e colocou o Brasil no mapa global do algodão.