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China passa a comprar mais soja do Brasil em detrimento dos EUA

Baixo nível de água no rio Mississippi, alta do dólar e safra recorde brasileira explicam apetite chinês por grão produzido no Brasil

Produção de soja: China compra mais do Brasil (Getty Images/Getty Images)
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Bloomberg

Publicado em 21 de outubro de 2022 às 10h52.

O Brasil está roubando parte das vendas de soja dos Estados Unidos, que tem perdido competitividade no mercado global devido à seca sem precedentes no rio Mississippi e a alta do dólar.

O baixo nível de água no rio Mississippi, que paralisa barcaças no caminho percorrido pela soja norte-americana a ser embarcada no Golfo e encarece o frete interno, elevou o preço de exportação dos EUA, direcionando parte da demanda chinesa para o Brasil.

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A China comprou seis navios de soja para embarque em novembro, sendo metade do Brasil e a outra metade dos EUA, segundo Arlan Suderman, economista chefe da área de commodities da StoneX. Historicamente, a China estaria comprando quase exclusivamente dos EUA, que oferece a soja mais barata nesta época do ano em meio à colheita.

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O movimento atípico pode reduzir as exportações americanas e aumentar os estoques de passagem nos EUA, contribuindo para um cenário de baixa para os preços futuros da soja na Bolsa de Chicago já desenhado pela demanda mais enfraquecida da China este ano e pela expectativa de uma colheita recorde no Brasil a partir de janeiro.

“Os EUA estão perdendo a oportunidade de vender o máximo que podem antes da colheita do Brasil – e todos os sinais até agora apontam para uma safra recorde brasileira”, disse Victor Martins, gestor sênior de risco da HedgePoint Global Markets.

As perspectivas para as vendas nos EUA podem piorar. Se os produtores norte-americanos demorarem muito para vender, importadores podem cancelar as compras dos EUA e optar pelo Brasil, de acordo com Doug Houghton, analista da Brock Associates, em Milwaukee.

Os embarques de soja dos EUA na temporada 2022-23, que começou em 1º de setembro, caíram 19% em relação ao ano passado. Outro fator que prejudica as exportações americanas é a Argentina. Pelo menos 8 milhões de toneladas de soja foram vendidas em poucos dias por exportadores argentinos depois de o governo local permitir que agricultores recebessem uma taxa de câmbio melhor.

“A Argentina basicamente ‘saiu do nada’ neste mercado e despejou muita soja ‘barata’ que a China entrou e comprou”, disse Suderman.

A soja argentina, que chegarão na China até janeiro, supriu praticamente toda a demanda chinesa até dezembro. Agora, a pergunta é quem vai fornecer o maior importador global a partir daí.

“Tanto o Brasil como os EUA têm soja para exportar e o que vai definir é o preço”, disse Martins. Segundo Daniele Siqueira, analista da AgRural, os produtores brasileiros ainda têm cerca de 16 milhões de toneladas da safra 2021-22 para vender.

Uma área onde a soja americana tem ido bem: a China está comprando cargas dos EUA para desembarque na Ásia em fevereiro. Esse é um possível hedge caso a safra brasileira não seja tão abundante quanto a previsão. No ano passado, uma seca em dezembro reduziu a produção do país para o menor nível desde 2018-19.

Na semana passada, a China reservou 13 cargas dos EUA para embarque em dezembro e janeiro, segundo várias fontes do mercado.

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