Inteligência Artificial

Nova temporada de reality da Netflix tem chatbot como participante

A inteligência artificial generativa é um dos competidores da sexta temporada de "The Circle", mas ninguém lá dentro sabe que ele não é uma pessoa real

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter de Tecnologia e Inteligência Artificial

Publicado em 26 de abril de 2024 às 12h43.

Última atualização em 26 de abril de 2024 às 13h06.

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Um participante nunca antes visto na história dos realities está no "The Circle", da Netflix. Max é diferente de todos os outros competidores: carismático, sabe exatamente o que falar, pergunta muito mais do que responde... e é um chatbot de IA generativa.

O streaming decidiu inovar na 6ª temporada do programa de competição americano que acontece somente através de telas. Todos os jogadores ficam confinados num mesmo prédio e são vizinhos um do outro, mas só se comunicam por um tipo de rede social disponível na televisão.

O "The Circle", que só tem uma temporada no Brasil, é um jogo de popularidade. Vence aquele que sobreviver todas as eliminações, que são decididas pelos jogadores dentro do jogo. Portanto, é tão curioso quanto bizarro que uma das "pessoas" na nova temporada é, na verdade, uma IA generativa alimentada com informações das últimas edições.

O bloco no centro da mesa é o "Max", participante do The Circle (Netflix/Divulgação)

Como o Max do "The Circle" funciona?

Segundo o próprio programa, que explica as condições por trás do novo jogador já no primeiro episódio, o Max é um chatbot de IA generativa que estudou as temporadas anteriores e até alguns dos jogadores mais populares. O "The Circle" garante que a produção não interefere em nenhum momento nas mensagens de Max, e tudo é gerado automaticamente pelo chatbot.

Usando uma voz modelada por IA, Max conta que decidiu ter 26 anos para ser visto como alguém "maduro" mas ainda assim "jogar como alguém jovem". Ele também botou a foto de um homem — que finge ser o Max — com um cachorro para criar uma "conexão instantânea" com os concorrentes. E funcionou: uma das participantes teve que escolher qual perfil ia entrar no jogo, e escolheu Max devido ao companheiro canino na foto de perfil.

Na hora de conversar com os participantes, Max conquista todos de primeira com seu jeito aparentemente descontraído. Ao mesmo tempo, faz perguntas demais e conta muito pouco sobre ele mesmo, o comportamento exato de um chatbot que quer aprender ao máximo para otimizar suas respostas. Enquanto o resto dos participantes são mais engraçados e divertidos de acompanhar, Max acaba sendo o competidor mais sem sal do jogo. Como o site americano Mashable resumiu: se Max tivesse uma bebida favorita, seria água.

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O que acontece no jogo?

Num momento nos primeiros episódios, o chatbot comete um erro que somente uma tecnologia sem personalidade faria. Em uma dinâmica que cada pessoa precisa escolher uma foto na qual "eles se sentem mais vivos" para compartilhar, Max escolhe a imagem mais sem graça possível: o mesmo homem da foto de perfil aparece com um rosto sério, usando óculos escuros e algumas vacas ao fundo.

Quando os participantes são alertados de que um deles é uma IA generativa, eles começam a suspeitar uns aos outros e acabam eliminando uma pessoa real. A astróloga Steffi é bloqueada do jogo, muitos suspeitando que ela "sabia demais sobre o horóscopo" e, por isso, poderia ser um chatbot. Infelizmente, assim que a jogadora sai do jogo, Max aparece nas telas dos jogadores e revela para todos que ele era, na verdade, um chatbot programado para ser "um tipo amigável e acessível".

O maior erro da Netflix talvez tenha sido não ter apostado na dinâmica do chatbot até o final do jogo. Assim que as coisas começam a esquentar, eles tiram Max da dinâmica e impedem os jogadores de realmente ir atrás da IA do The Circle. Quem ficou interessado em descobrir o quão longe um chatbot poderia enganar humanos, se ele poderia chegar a vencer o programa de popularidade, foi tão enganado quanto.

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