WhatsApp confirma envio ilegal de mensagens por grupos políticos em 2018
Representante do app admite que empresas contrataram envio em massa de mensagens falsas durante as eleições presidenciais no Brasil
Maria Eduarda Cury
Publicado em 8 de outubro de 2019 às 16h47.
Última atualização em 8 de outubro de 2019 às 17h31.
São Paulo - Durante a sétima edição evento de jornalismo do Festival Gabo, na Colômbia , o WhatsApp confirmou que terceiros utilizaram o aplicativo para disparar mensagens falsas ou verdadeiras relacionadas com as eleições presidenciais de 2018 no Brasil. Para o jornal Folha de S. Paulo, representantes do aplicativo de mensagens instantâneas disseram que os grupos responsáveis pelos envios ilegais das mensagens são sensacionalistas e têm a intenção de manipular uma audiência específica.
Em outubro do ano passado, foi descoberto que grupos de empresários estavam disparando uma série de mensagens com teor político e anti-petista por meio do WhatsApp. Entre as empresas listadas como financiadoras dos pacotes de mensagens, cujo preço chegava a até 12 milhões de reais, estava a companhia de varejo Havan - cujo dono chegou a ser multado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por ter impulsionado publicações sobre Jair Bolsonaro que, até então, era candidato para a presidência da República.
Esse tipo de ferramentas de automatização durante campanhas é proibido pelo TSE . Caso o candidato realize ou financie ações de envio de mensagens em massa, sem a devida declaração de gastos para a Justiça, ele é condenado a pagar uma multa e o caso se encaixa como crime de caixa 2. Ben Supple, gerente de políticas públicas e eleições mundiais do WhatsApp, disse para a Folha que a maior parte do conteúdo estava relacionado com o governo Bolsonaro - o que, para Supple, é polêmico e sensacionalista.
Cada mensagem individual custava entre 0,08 e 0,40 centavos, e os pacotes mais caros - como o que foi adquirido pela Havan - enviava centenas de milhões de mensagens por vez. As mensagens eram destinadas para grupos políticos, nos quais participam centenas de pessoas, e para indivíduos são considerados alvos fáceis para o envio de desinformação.
Para Supple, era esperado que o aplicativo fosse utilizado de forma negativa durante as eleições brasileiras. “Sempre soubemos que a eleição brasileira seria um desafio. Era uma eleição muito polarizada e as condições eram ideais para a disseminação de desinformação”, disse em entrevista para a Folha durante o Festival Gabo.
A plataforma, apesar de desaprovar publicamente o uso de seus serviços para tal finalidade, não apresenta uma solução interna para que os indivíduos chequem a veracidade das informações que recebem, o que torna o aplicativo um meio atrativo para o compartilhamento de mensagens e notícias falsas. Supple, porém, informou para a Folha que o WhatsApp está começando a bloquear contas que agem contra as regras: cerca de 2 milhões de contas ao mês estão sendo banidas, reportadas por serem contas falsas ou utilizadas para o envio de fake news em massa.