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Nasdaq vive a maior crise e pode ser fechada

Por trás de sua mirabolante fachada em Times Square um painel eletrônico iluminado por 18,6 milhões de lâmpadas estampando cotações e anúncios dia e noite a Nasdaq já não consegue esconder a mais séria crise de sua história. Golpeada pelo estouro da bolha de empresas ponto-com, a bolsa de valores mundialmente renomada por vender papéis […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h39.

Por trás de sua mirabolante fachada em Times Square um painel eletrônico iluminado por 18,6 milhões de lâmpadas estampando cotações e anúncios dia e noite a Nasdaq já não consegue esconder a mais séria crise de sua história. Golpeada pelo estouro da bolha de empresas ponto-com, a bolsa de valores mundialmente renomada por vender papéis de empresas de crescimento rápido, como Microsoft, Cisco e Intel, viu o seu índice despencar da casa dos 5 000 pontos no começo de 2000 para abaixo dos 1 800 pontos no final de agosto de 2003. Mas além da derrocada conjuntural dos mercados, a Nasdaq também sofre de mazelas internas que tem sangrado seu caixa e arranhando a sua marca. A crise é tamanha que a revista BusinessWeek dedicou recentemente uma reportagem de capa ao tema, apontando a Nasdaq como vítima da crescente competição no ramo das transações eletrônicas de ações, atritos com o governo americano sobre a sua regulamentação, erros de gestão, e, como se não bastasse, ganância e prepotência. De acordo com a BusinessWeek, que pertence ao grupo McGraw Hill, o mesmo que controla a agência de classificação de risco Standard&Poors, a Nasdaq está lutando por sua própria vida .

Sua situação é realmente delicada. Na primeira metade do ano, a Nasdaq teve um prejuízo de 46,4 milhões de dólares, o único de sua história desde os atentados de 11 de setembro de 2001. No decorrer do último ano, o faturamento da Nasdaq sobre transações efetuadas caiu 41,6%, enquanto a renda obtida com a venda de informações de mercado diminuiu em 27,7%. O volume de transações realizadas também retrocedeu 11%. Isto aconteceu não apenas em função da crise dos mercados acionários, que, aliás nos últimos meses vêm exibindo sinais de recuperação. Em boa medida, a crise da Nasdaq está sendo causada pela concorrência exercida pelas ECNs, a sigla em inglês para as redes de comunicação eletrônica, instituições que operam coletando e fechando transações acionárias globais em frações de segundo, assim como a própria Nasdaq. Entre as ECNs estão grifes como o Grupo Reuters e PLC Instinet. Além das escoriações infligidas pelas ECNs, a Nasdaq também está fazendo feio até mesmo diante da tradicional Bolsa de Valores de Nova Yosrk, a NYSE. No ano passado, a NYSE realizou 45 ofertas públicas iniciais de ações, as lucrativas IPOs, três a mais do que a Nasdaq.

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Foice e foco Para debelar a crise, o novo presidente da Nasdaq, Robert Greifeld, empossado há quatro meses, está passando a foice nos custos e engavetando planos de expansão arquitetados por seu antecessor, o veterano Frank Zarb. Zarb aposentou-se no último mês de fevereiro e é reconhecido por sua mania de grandeza. Foi ele, por exemplo, quem criou a sede da Nasdaq em Times Square, um cenário de 43 milhões de dólares projetado apenas para servir de cenário para as estações de TV e fazer bonito para os turistas. Agora, Greifeld corre contra o tempo para colocar a Nasdaq de volta nos trilhos. A Nasdaq vai cumprir sua missão concentrando seus recursos e capital intelectual em três áreas: capturar uma fatia maior de IPOs, conseguir uma fatia maior de volume de transações, independentemente de onde a empresa esteja listada e atrair mais empresas de outros pregões, disse Greifeld num comunicado a investidores. Logo que foi empossado, ele demitiu cerca de oitenta executivos, fechou a filial que européia da empresa, e adiou a IPO da própria Nasdaq. No momento, o novo CEO considera até mesmo o fechamento da sede de Times Square, cujo aluguel e manutenção custam 20 milhões de dólares por ano.

Criada em 1971 como um apêndice da NASD, a Associação Nacional dos Negociantes de Ações dos Estados Unidos, a Nasdaq nasceu para listar pequenas empresas que não tivessem como cumprir com os rígidos critérios exigidos pelas grandes bolsas de valores como a NYSE. Foi a Nasdaq quem introduziu o conceito do pregão eletrônico na história do capitalismo. A instituição floresceu durante os anos 80 e 90 com a última revolução tecnológica que informatizou e conectou o planeta.

Na última década, a capitalização de mercado da Nasdaq saltou de 615 bilhões de dólares em 1992, para dois trilhões de dólares em 2002, um crescimento de 225%.

Mas apesar de todo o seu crescimento, a instituição continuou subordinada à NASD, que controla 55% do capital da Nasdaq, cujo o A e Q finais significam cotação automática em inglês. Há três anos que a Nasdaq tenta conseguir junto ao governo americano a aprovação de sua independência como uma bolsa de valores em relação à NASD. Isto significaria mais agilidade e custos menores para a Nasdaq, que a cada ano paga 70 milhões de dólares à NASD por sua supervisão regulatória. Mas acontece que a SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, ainda não está convencida de que a Nasdaq possa oferecer transparência e segurança suficientes ao mercado para ter seu cordão umbilical cortado. O processo de independência da Nasdaq continua emperrado.

Ao contrário de uma bolsa de valores tradicional, a Nasdaq não tem um pregão vivo, onde ofertas de compra e venda de papéis são reunidas e as transações fechadas entre os vários jogadores do mercado: investidores individuais, fundos mútuos, fundos de pensão e fundos hedge. A Nasdaq dispõe de um ultra-sofisticado sistema de telecomunicações que liga cerca de 600 clientes em cerca de mil endereços diferentes. As ordens de compra e venda vêm de três fontes principais: os dealers, como as mesas do banco Goldman Sachs, os brokers online, como a AmeriTrade, e as ECNs, que além de competidoras, são também suas parceiras. O que a Nasdaq faz é receber essas informações e consolidá-las numa única base de dados, e então, realizar as transações.

No final dos anos 90, as ECNs começaram a representar uma ameaça à Nasdaq, por serem capazes de fechar ordens de compra e venda, a custo mais baixo e sem a necessidade de intermediários. Além disso, as ECNs ofereciam também operações anônimas, uma vantagem bastante convidativa para grandes investidores que não gostam de terem seus movimentos observados pela concorrência. A reação da Nasdaq, então chefiada por Frank Zarb, foi criar um sistema eletrônico, o SuperMontage, que funcionasse como o seu próprio livro de ordens, alimentando seu sistema com os dados antes fornecidos pelas ECNs. Lançado em dezembro de 2002, o SuperMontage consumiu 107 milhões de dólares e deveria atrair mais negócios para a Nasdaq. Mas devido a erros de planejamento e à demora em sua implantação, boa parte das ECNs, como a ArcaEx, acabaram obtendo a autorização da SEC para operar independentemente, abocanhando mais clientes e abandonando suas antigas parcerias com a Nasdaq, causando-lhe uma perda de faturamento ainda maior.

Não se sabe a melhora geral dos mercados de ações, que já dura alguns meses, poderá resgatar a Nasdaq da crise. Ela é uma instituição com um papel único na economia global, disse a EXAME Mark Heesen, presidente da Associação Nacional de Capital de Risco. "A Nasdaq tem sido um elo vital entre pequenas empresas com produtos inovadores, que não têm como conseguir financiamento em bolsas de valores tradicionais, e o capital de risco. É bom lembrar que foi graças à Nasdaq, que em 1975, um certo Bill Gates conseguiu catapultar uma certa empresa de fundo quintal em Seattle, a Microsoft, naquela que é hoje a maior fabricante de software do mundo, com um faturamento na casa dos 32 bilhões de dólares.

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