Empresas correram para criar canais virtuais rapidamente, com marketing digital e atendimento personalizado (Reprodução/Reprodução)
Agência O Globo
Publicado em 13 de novembro de 2020 às 07h18.
Última atualização em 13 de novembro de 2020 às 07h51.
O que antes era comodidade, na pandemia do novo coronavírus virou necessidade. Muitas empresas precisaram recorrer à internet para manter o relacionamento com os clientes e, mais importante, o fluxo de vendas.
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Além das restrições, famílias confinadas melhoraram a percepção sobre comprar sem sair de casa. A web foi decisiva para os negócios este ano, sobretudo no comércio. Quem não ofereceu alternativa no mundo virtual perdeu vendas.
E quem o fez abocanhou sua fatia dos R$ 105,1 bilhões faturados pelo varejo digital brasileiro de janeiro a agosto deste ano — alta de 56,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
O dado é de um estudo da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) com o Movimento Compre&Confie. Com outra metodologia, a e-bit Nielsen apontou crescimento de 44% nas receitas do e-commerce no primeiro semestre do ano em comparação com o mesmo período de 2019.
Outra pesquisa, da Unctad, organismo para o desenvolvimento das Nações Unidas, mostrou que 55% dos brasileiros entrevistados passaram a comprar mais na internet com a pandemia.
O Grupo CRM, dono de Chocolates Brasil Cacau e Kopenhagen, foi surpreendido pelo coronavírus um mês antes da Páscoa, que responde por 30% dos negócios da marca no ano, recordou Maricy Porto, diretora de Marketing das marcas durante o debate “E agora, Brasil?”.
Com a rede de lojas fechada na maior parte do país, a empresa focou no trabalho com os franqueados, ajudando a desenvolver rapidamente canais digitais e serviços de entrega. O WhatsApp virou forte aliado.
— Tivemos que criar canais de comunicação muito ágeis para falar com os franqueados. Eram duas a três vezes por semana falando com toda a rede para tirar dúvidas e dar suporte. Em março mesmo, toda a rede já estava com o WhatsApp Delivery ativado, com todo o treinamento de como abordar o cliente, entregar um catálogo de produtos um pouco mais digitalizado... Foi nossa principal ferramenta de vendas e conseguimos girar 95% do que estava nas lojas para a Páscoa — contou Maricy.
O CRM viu na melhora da eficiência em aplicativos de entrega e parcerias com marketplaces uma forma de suprir a chamada compra por impulso, típica do seu setor, que é quando o consumidor pensa no chocolate e quer receber logo. Outra aposta foi a customização da venda remota.
A Kopenhagen lançou o projeto “Personal Shopper”, com vendedores do outro lado da tela fazendo contatos com os clientes do programa de fidelidade (responsável por 52% da receita) a partir de inteligência de dados para oferecer kits personalizados com o que eles mais gostam. Inicialmente, 20 lojas próprias da rede receberam a tecnologia. Atualmente, está em mais de 200 franquias.
— O sistema tem dados dos clientes há dez anos. Se a cliente é apaixonada por “Língua de Gato” e “Nhá Benta” e tem dois filhos, montamos um kit baseado nisso. Mas a conversa é humana, através do WhatsApp. Temos 5% de conversão em vendas, o que, para um programa de três a quatro meses, é um número muito interessante — avaliou Maricy.
Ela confia nessa estratégia para o Natal:
— Vejo muitas marcas que tinham muita conexão com os consumidores adotando, na pandemia, ativações frias. E começam a perder a sua experiência de marca.
A tecnologia é aplicada em favor desse relacionamento até na embalagem dos chocolates, que vêm com mensagens positivas em áudios acessados por QR Code.
A L’Oréal também busca reforçar a experiência com o cliente. Iniciou transmissões nas redes sociais para, ensinar as clientes impedidas de irem aos salões a usar produtos em casa. Tutoriais de coloração de cabelo e manicure fizeram sucesso.
Depois, respondendo às restrições para testagem de produtos nas lojas, desenvolveu com a empresa ModiFace os VTOs (virtual try ons), que permitem aos clientes experimentarem o tom de uma base, maquiagem, batom, sombra ou cor de cabelo, por exemplo, por realidade aumentada e inteligência artificial.
A gigante francesa, que tem um centro de inovação no Rio, investe muito em tecnologia não só para desenvolver produtos, mas também para melhorar a experiência dos consumidores na escolha deles.
— Antes da pandemia, a gente já tinha a obsessão de ser a maior beauty tech do mundo. O que significa isso? Ser líder da beleza do amanhã. A gente quer liderar desde o desenvolvimento de produto até a maneira que impacta nossos consumidores — definiu Patricia Borges, executiva de Marketing da L’Oréal Brasil.
Jean Lessa, diretor de Tecnologia e Markeplace da B2W Digital, trabalha com comércio eletrônico desde 2000. Há 20 anos acompanha a evolução rápida desse modo de comprar. E foi com essa expertise que ele contou no debate como a empresa decidiu ajudar os parceiros do marketplace, aberto em 2014, na pandemia:
— São três pilares: tecnologia, logística e capacitação de lojistas — afirmou o diretor da empresa. —Não foi uma novidade, mas uma aceleração que tivemos que fazer, principalmente no
marketplace.
O único caminho para os sellers (lojistas que usam a plataforma da B2W para vender) foi aprender a operar on-line. E envolve uma cadeia de providências, desde viabilizar o cadastro do item que vai vender, passando por opções de crédito e armazenagem.
Mesmo com seu DNA digital, a B2W (que reúne marcas como Submarino, Americanas.com e Shoptime) teve que se preparar para uma das maiores expansões nas vendas de sua história, iniciada em 2006.
Sua mais recente aquisição, o Supermercado Now, em janeiro, se mostrou mais que oportuna diante da quarentena iniciada em março.
Mesmo com o comércio essencial aberto, as compras de alimentos ficaram mais virtuais. Com isso, a B2W estima ter ganhado 6 milhões de clientes nos últimos 12 meses.
Jean Lessa, diretor de Tecnologia e Markeplace da B2W Digital, contou no evento que a companhia assumiu a logística de distribuição da plataforma há dez anos, o que ajudou nesse momento de pandemia quando as encomendas aumentaram muito.
Lessa identificou movimentos bem marcados no comportamento do consumidor durante a pandemia. O medo da Covid-19 fez explodir a venda de álcool em gel e máscaras:
— No começo, a procura foi colossal. Não era um tipo de produto muito procurado.
Veio então a fase de melhorar a casa que passou a ser o local de trabalho e de estudo. Foi a vez das cadeiras, dos computadores, das TVs, que permanecem em alta. Depois veio o supermercado on-line.
A necessidade de isolamento social para os mais velhos também mudou o perfil etário dos clientes da plataforma digital. O número de clientes com mais de 60 anos chegou a crescer 900% na pandemia, contou o executivo:
— Era um cliente que não pensava em comprar on-line e que, na pandemia, basicamente não tinha outra alternativa.
O segmento de beleza e perfumaria é o que mais cresceu em vendas este ano, segundo a ABComm: 107,4% mais que no ano passado. O grupo L’Oréal Brasil, que atua em quatro divisões de negócios de beleza — produtos massivos, profissionais, luxo e dermocosméticos —, já tinha 25 lojas virtuais próprias para suas marcas.
Mesmo assim, Patricia Borges, diretora de Marketing, contou no evento que foi preciso ainda trabalhar outras duas vertentes para atravessar a pandemia: direcionar produtos para os shoppings virtuais e ajudar os revendedores a estruturar serviços de entregas:
— Os marketplaces geram 70% do tráfico on-line de e-commerce no Brasil. Transformá-los em destino de beleza é algo que a gente tem trabalhado muito para fazer acontecer neste período.
Em resposta à pergunta de uma espectadora, que acompanhava o evento de Campos dos Goytacazes (RJ) sobre como estimular fregueses de seu hortifruti a comprar mais pelo canal digital, Lessa, da B2W, resumiu: o foco deve ser a melhor experiência do cliente:
— A transformação digital na verdade é uma grande mudança das pessoas. Na semana passada, num seminário sobre dados, em 90% do tempo falou-se de pessoas. Nada sobre máquinas ou algoritmos. Temos de dar ferramentas e acessibilidade para o cliente consumir do jeito que ele quer.