Revista Exame

Os altos salários estão na mira

Ex-chefe da equipe de Obama que caçou os bônus milionários no auge da crise diz que cada vez mais acionistas deverão rejeitar os pacotes de remuneração de seus executivos

Ken Feinberg: “A rejeição aos pacotes de remuneração prejudica a imagem da empresa” (Mark Wilson/Getty Images)

Ken Feinberg: “A rejeição aos pacotes de remuneração prejudica a imagem da empresa” (Mark Wilson/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de junho de 2012 às 11h41.

Nova York - Numa decisão inédita contra um grande banco americano, os acionistas do Citigroup rejeitaram em abril o pacote de remuneração anual de 55 milhões de dólares para os cinco principais executivos da instituição.

A medida se dá em meio a manifestações populares contra a desigualdade de renda nos Estados Unidos e foi seguida por decisões semelhantes em instituições europeias, como Barclays e Credit Suisse.

Ken Feinberg, professor de direito da Universidade Columbia e ex-chefe da equipe que cortou os bônus de diretores em empresas resgatadas pelo governo Obama, falou a EXAME sobre o tema.

1) EXAME - Qual a importância do voto dos acionistas do Citigroup? 

A decisão dos acionistas, de alguma forma, reflete o sentimento de revolta cada vez mais generalizado na população americana contra os salários desconectados dos resultados, que estavam na origem da crise.

Além disso, a crescente disparidade de renda passou a alimentar um olhar mais crítico, em especial contra os salários dos banqueiros. Por meio dos acionistas, a revolta popular chega ao conselho.

2) EXAME - O senhor acredita que a rejeição aos pacotes de remuneração pode se tornar mais frequente?

Estamos começando. Os acionistas podem votar contra ou a favor dos pacotes de remuneração das empresas desde o ano passado. Quando acontece com uma empresa grande, a história ganha outro peso.

Já vimos reflexos disso na Europa. Mas o impacto dessa onda dependerá da resposta que as empresas vão dar — o que ainda é uma incógnita. 

3) EXAME - A lei americana permite que as empresas ignorem a advertência dos acionistas nesse quesito. Não seria melhor dar aos acionistas o direito a veto?

Em 2009, quando comandei a equipe de controle de remuneração das empresas que haviam recebido resgate do governo federal, tínhamos total direito a veto. 


Não sei se é preciso dar esse poder aos acionistas. À medida que mais casos relevantes acontecerem, ficará mais claro se a simples reprovação pública já tem o efeito desejado. 

4) EXAME - Qual é a motivação das empresas de reagir à decisão dos acionistas se não há obrigação legal? 

A simples recusa ao pacote de remuneração é suficiente para prejudicar a imagem das empresas — ainda mais numa hora em que esse assunto é polêmico.

5) EXAME - Como as empresas devem evitar a desaprovação durante a assembleia de acionistas? 

Uma medida possível é aproximar-se dos acionistas para um diálogo a respeito do que será apresentado antes da votação pública. Isso deve acontecer com mais frequência. 

6) EXAME - O senhor vê alguma mudança de tendência nos pacotes de remuneração desde o início da crise?

Sim. Mais empresas ampliaram o peso da parcela de longo prazo em seus pacotes, uma boa medida.

7) EXAME - O senhor cortou à metade o salário dos principais executivos de empresas como GM na época da crise. Em sua visão, existe algum legado desse período?

Muitas companhias — como o próprio Citigroup — mantiveram-se na linha até pouco tempo atrás. Em 2010, o presi­dente do Citigroup recebeu o salário simbólico de 1 dólar ao ano por decisão própria. Resta saber até quando essa preocupação vai durar, sobretudo quando a crise acabar.

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